Artigo sobre o conceito reinterpretado do intelectual individualista de Durkheim ao intelectual coletivo de Bourdieu é destaque na Revista Internacional de Educação Superior

Artigo sobre o conceito reinterpretado do intelectual individualista de Durkheim ao intelectual coletivo de Bourdieu é destaque na Revista Internacional de Educação Superior

Por Maria de Lourdes Pinto de Almeida

Se faz mister destacar a importância deste artigo escrito pela Profa Dra Ione Ribeiro Vale, docente pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que traz um debate sobre a teoria de dois sociólogos, um do século XIX – Emile Durkheim– e outro do século XX – Pierre Bourdieu, no texto “Um conceito reinterpretado ao longo do século: do intelectual individualista de Durkheim ao intelectual coletivo de Bourdieu” que traz uma reflexão sobre o perfil do intelectual em um mercado capitalista onde até mesmo o conceito de ciência está sendo deturpado. Segundo a autora, Durkheim aposta diante deste tema “na coesão social e na moral laica, indispensáveis à promoção do progresso e da ordem nas sociedades em processo crescente de diferenciação”. Para Bourdieu, Valle destaca que se faz necessário “reinventar uma espécie de intelectual coletivo segundo o modelo do que foram os enciclopedistas”, um intelectual coletivo que mobilizaria a ciência.  

Esta leitura se faz imprescindível neste momento caótico que estamos vivendo no Brasil desde o golpe de 2015 onde um governo ilegítimo, desde então, tenta acabar com todos os direitos adquiridos pelos trabalhadores além de, diariamente, tentar descredibilizar as Universidades Públicas. Uma onda de desanimo se abateu sobre uma maioria de pesquisadores, inclusive os intelectuais orgânicos. Medidas Provisórias autoritárias e arbitrárias desconstruindo tudo o que foi feito na Educação nos últimos 13 anos. No entanto, o ser humano se constitui em um sujeito histórico, no sentido de que sua liberdade é determinada por uma situação que ele não escolheu, pelo contrário, o condicionou. Sua liberdade nasce da consciência de semelhante necessidade. Nesse sentido, a práxis diz respeito ao indivíduo, mas não se restringe a seu âmbito, pois ela é coletiva e somente enquanto tal é eficaz. A dimensão coletiva da atividade humana revela um indivíduo que enquanto tal seria mera abstração, uma vez que suas determinações só se revelariam na concretude, no movimento do real, na totalidade.

Assim, a história enquanto ciência se mostra como um produto de seu tempo, das forças sociais que disputam a hegemonia. Basta ver, como a concepção de história de Santo Agostinho é filha de seu tempo. Ali tudo parece se coadunar com o domínio católico e com a manutenção das novas relações de produção feudal. Os males da cidade dos homens só seriam suprimidos frente o advento da cidade de Deus, da qual a Igreja seria a porta voz.  Do mesmo modo, pode se falar de Voltaire. Esse “iluminista” procura fundamentar a história de modo a fazer dela uma ciência em consonância com os novos tempos, ou seja, com a emancipação da burguesia. Como vimos, o próprio materialismo histórico é um saber ligado às condições materiais de seu tempo, tanto no que concerne a metodologia quanto em suas concepções gnosiológicas e ontológicas. O mesmo juízo se aplica aos historiadores pós-modernos.

Tanto os saberes como a máquina estão inseridos num contexto cuja compreensão nos revelaria as suas implicações históricas. Nesse sentido as informações precisas e atualizadas são fundamentais para a acumulação do capital. O saber é uma mercadoria. Como diz Harvey (1989, p. 151), “o acesso à informação” tornou-se fundamental para garantir lucros:

O acesso à informação, bem como o seu controle, aliados a uma forte capacidade de análise instantânea de dados, tornaram-se essenciais à coordenação centralizada de interesses corporativos descentralizados. A capacidade de resposta instantânea a variações das taxas de câmbio, mudanças das modas e dos gostos e iniciativas dos competidores tem hoje um caráter mais crucial para a sobrevivência corporativa do que teve sobre o fordismo. A ênfase na informação também gerou um amplo conjunto de consultorias e serviços altamente especializados capazes de fornecer informações quase minuto a minuto sobre tendências de mercado e o tipo de análise instantânea de dados útil para as decisões corporativas. […]. O acesso ao conhecimento científico e técnico sempre teve importância na luta competitiva; mas, também aqui, podemos ver uma renovação de interesse e de ênfase, já que, num mundo de rápidas mudanças de gostos e necessidades e de sistemas de produção flexíveis […]. [O próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a ser produzida e vendida a quem pagar mais, sob condições que são elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas.]. (HARVEY, 1992, p.151)

Curiosamente, hoje em dia, há certa moda ‘ideológica’ de que estaríamos nos tempos dos fins: não da história, da ideologia, mas do “trabalho”, da “ciência”, da “guerra”. O “mercado” parece ter sido um dos únicos conceitos bem-sucedidos, ou eficientíssimo, pois ninguém parece ter coragem de sepultá-lo ou mesmo de antever a possibilidade de sua morte.  Com o acirramento da concentração de rendas, e as novas formas de exploração, que mais do que nunca conta com a exclusão social e todas “novas” formas de perversidades sociais – guetos, violência entre gangues, máfias e todo o circuito perverso da “economia informal” etc., e, sobretudo com os retrocessos em termos de direitos trabalhistas. Enquanto o número deles estiver aumentando ou, mesmo existindo, acredito que a ciência, ou deve estar do lado dos “vivos”, ou dos vitalizados pelo capital ou deve estar do lado dos mortos ou melhor daqueles que  estão sendo mortos não tanto pelas armas ideológicas, mas sobretudo pela perversidade inerente à exploração capitalista.

Diante deste contexto histórico, destaco mais uma vez a importância da leitura do artigo da Ione Valle que traz uma discussão que vai ao encontro da luta contra os usos abusivos da própria ciência e da autoridade científica,

Referências

HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo. Editora Loyola, 1992.

VALLE, Ione Ribeiro. Um conceito reinterpetado ao longo do século: do intelectual individualista de Durkheim ao intelectual coletivo de Bourdieu. Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, SP, v. 4, n. 1, out. 2017. ISSN 2446-9424. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/riesup/article/view/
8650711
>. Acesso em: 14 dez. 2017. doi: http://dx.doi.org/10.22348/riesup.v4i1.865071

Como citar este Post:

ALMEIDA, Maria de Lourdes Pinto de. Artigo publicado na Revista Internacional de Educação Superior intitulado “Um conceito reinterpretado ao longo do século: do intelectual individualista de Durkheim ao intelectual coletivo de Bourdieu” é destaque no BlogPPEC. Blog PPEC, Campinas, v.7, n.1, dez. 2017. ISSN 2526-9429. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/blog/index.php/2017/12/15/riesup/>.  Acesso em: dia mês abreviado ano.

 

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