Resumo
Na esteira do questionamento que Benveniste provoca sobre a noção de arbitrariedade do signo saussuriano, abre-se a possibilidade de que se resgate a referência, fenômeno banido por Saussure pelo motivo de retornar à relação das palavras com as coisas. A partir de uma redefinição do signo, e de uma reflexão pautada por pressupostos enunciativos, sugeridos também por Benveniste, propomos, então, uma abordagem para a referência, conceituando-a como um fenômeno realizado na enunciação. Sob este ponto de vista, não se trata de uma cartografia da realidade do mundo, mas de um saber que se constitui na língua e não pode ser visto separadamente do homem que fala. Os objetos a que nos referimos são construtos, fruto das noções que os falantes formulam sobre eles, na língua e pela língua.Referências
APOTHÉLOZ, D. Référer sans expression référentielle : gestion de la référence et opérations de reformulation dans des séquences métalinguistiques produites dans une tâche de rédaction conversationnelle. In: Enikö N. (ed) Pragmatics in 2000: selected papers from the 7th International Pragmatics Conference, Vol. 2. Antwerp: International Pragmatics Association, 2001, p. 30-38.
BENVENISTE, E. A natureza do signo linguístico. In Problemas de Linguística Geral, I. Campinas: Pontes, [1939] 2005.
BENVENISTE, E. A natureza dos pronomes pessoais. In Problemas de Linguística Geral, I. Campinas: Pontes, [1956] 2005.
BENVENISTE, E. Da subjetividade na linguagem. In Problemas de Linguística Geral, I. Campinas: Pontes, [1958] 2005
BENVENISTE, E. As relações de tempo no verbo francês. In: Problemas de linguistica geral, I. Campinas: Pontes, [1959] 2005.
BENVENISTE, E. A linguagem e a experiência humana. In: Problemas de Linguística Geral II. Campinas: Pontes, [1965] 2006
BENVENISTE, E. A forma e o sentido na linguagem. In: Problemas de Linguística Geral II. Campinas: Pontes, [1966] 2006.
BENVENISTE, E. O aparelho formal da enunciação. In: Problemas de Linguística Geral II. Campinas: Pontes, [1970] 2006.
BOAS, F. Introduction to Handbook on American Indian Languages. Lincoln: University of Nebraska Press, 1966.
BOUQUET, S. Introdução à leitura de Saussure. São Paulo: Cultrix, 2000.
CIULLA, A. Os processos de referência e suas funções discursivas: o universo literário dos contos. 201p. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2008.
DE MAURO, T. Cours de linguistique générale: édition critique préparée par Tullio de Mauro. Paris: Payot, 1976.
ENGLER, R. Théorie et critique d’un príncipe saussurien: l’arbitraire du signe. Cahiers Ferdinand de Saussure, Genebra, Librairie E. Droz, n.19, p. 5-66, 1962.
FILLMORE, C. Lectures on deixis. Berkeley: University of California, 1971.
FILLMORE, C. Lectures on deixis. California: CSLI Publications, 1977.
FLORES, V.; BARBISAN, L.; FINATTO, M.J.; TEIXEIRA, M. Dicionário de Linguística da Enunciação. São Paulo: Contexto, 2008.
FLORES, V. Introdução à teoria enunciativa de Benveniste. São Paulo: Parábola, 2013.
FLORES, V. O que há para ultrapassar na noção saussuriana de signo? De Saussure a Benveniste. Revista Gragoatá, Niterói, v. 22, n.44, p. 1005-1026, 2017.
GADET, F. Saussure: une science de la langue. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.
HUMBOLDT, W. Über die Verschiedenheit des menschlichen Sprachbaues und ihren Einfluss auf die geistige Entwickelung des Menschengeschlechts. Berlin: Dümmlers Verlag, 1836. Disponível em: https://archive.org/stream/berdieverschied00humbgoog#page/n17/mode/2up
JAKOBSON, R. El signo y el sistema de la lengua: una reafirmación de la doctrina de Saussure. In: JAKOBSON, R. Arte verbal, signo verbal, tempo verbal. México: Fondo de Cultura Económica, 1992.
LAHUD, M. A propósito da noção de dêixis. São Paulo: Ática, 1979.
LEVINSON, S. C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
LYONS, John. Semantics. London: Cambridge University Press. 2.v., 1977.
LYONS, John. Deixis and subjectivity: loquor, ergo sum? In: JARVELLA, R.J.; KLEIN, W. (eds.) Speech, place and action: studies in deixis and related topics. New York: John Wiley and Sons, 1982, p. 101-23.
MILNER, J-C. Réflexions sur l’arbitraire du signe. Ornicar, v. 5, p. 73-85, 1975.
MONDADA, L. ; DUBOIS, D. Construction des objets de discours et catégorisation: une approche des processus de référenciation. In: TRANEL (Travaux Neuchâtelois de Linquistique), n.23, 1995, p.273-302. Tradução para o português: Construção dos objetos do discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (orgs.) Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 17-52.
NORMAND, C. L’arbitraire du signe comme phénomène de déplacement. Dialectique, v. 1, p. 109-126, 1973.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes, Isidoro Blikstein Cultrix, São Paulo: 1975.
SLOBIN, D.I. From “thought and language” to “thinking for speaking”. In: J.J. GUMPERZ e S.C. LEVINSON (eds.) Rethinking linguistic relativity. Cambridge: Cambridge University Press, 1996, p.70-96.
WHORF, B.L. Language, thought and reality. Cambridge: Technology Press of Massachussets Institute of Technology, 1956. Disponível em https://openlibrary.org/books/OL6197196M/LANGUAGE_THOUGHT_and_REALITY
O periódico Cadernos de Estudos Linguísticos utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.