A constituição da docência decorre de um processo complexo, multifatorial, multidimensional e de modo longitudinal (continuum). Em outros termos, a compleição da carreira professoral intercorre de uma profusão de experiências adquiridas ao longo da história de vida e dos processos formativos (inicial e continuado em serviço), portanto, do (intricado) desenvolvimento profissional docente (PIMENTA, 2000; MARCELO, 2009a; 2009b; NÓVOA, 1999, 2000), inclusive de vivências pregressas à docência (FRIGOTTO, 1991; ARROYO (2000).
Um quadro (formativo) em cuja complexidade se acentua no âmbito do magistério em Educação Física, haja vista o desafio de coadunar as dimensões: epistemológica (e científica), profissional (e interventiva), curricular (enquanto componente curricular) e identitária(s), de modo a desenvolver o exercício professoral no interior dessa subárea do conhecimento (BETTI, 2013; NEIRA; NUNES, 2009; SILVA, 2006).
Donde o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) – destinado ao incentivo e valorização do magistério e de aprimoramento do processo de formação de docentes para a educação básica –, consolida-se enquanto uma política (alvissareira) de incentivo à formação de profissionais do magistério da/na educação básica, sob gestão da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), segundo (PIMENTA; LIMA, 2019) e o Programa Residência Pedagógica (PRP) − lançado em 2018, pelo mesmo órgão, objetivando induzir o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura das Instituições de Ensino Superior (IES), em que pese a existência de experiências pregressas (CRUZ; SILVA, 2018; FARIA; DINIZ-PEREIRA, 2014; 2019) −, inserem-se no campo formativo da referida subárea, com efeito, fomentam a “produção de saberes docentes”; “valorização simbólica do professor”, “aprimoramento da prática pedagógica”, “relação com o currículo escolar”, dentre outros acrescentamentos relativos ao desenvolvimento profissional docente (SANTOS; SACARDO, 2020; CARNEIRO, SILVA, REIS, 2021; CARNEIRO, SILVA, REIS, 2022).
Pari passu, suscitam indagações e lançam suspeição em relação à desarticulação entre subprojeto e curso de licenciatura (em Educação Física); organização da cultura escolar (especificidade da sala de aula e calendário escolar); epistemologia(s) docente e a organização/sistematização do trabalho pedagógico; o processo formativo (racionalidade instrumental) e a prática docente; envolvimento e participação da escola com o programa e vice-versa; a (des)continuidade das políticas de estado e o investimento concreto para a educação básica; carreira docente e condições (insalubres) laborais; (des)articulação entre (os quatro) níveis de ensino nos projetos da IES; a democratização do programa para todos/as acadêmicos/as; participação efetiva da comunidade educacional, dentre outras questões, à semelhança dos resultados do estudo de revisão de literatura empreendido por Santos e Sacardo (2020), entre os anos de 2009 a 2016.
Em que pese à existência de sobejas distinções (gnosiológicas, históricas, culturais, sociais, políticas e ideológicas) entre os aludidos programas, ambos indicam avanços ao campo da formação docente (em Educação Física), em igual passo preconizam imbróglios, desafios e adversidades à mesma. Oportuno citar o fato de integrarem a Política Nacional de Formação de Professores.
À vista do exposto, resolveu-se conclamar a comunidade acadêmica inscrita e atuante nas diferentes esferas formativas da Educação Física, de maneira a perscrutar produções científicas – cujos resultados sobrepujem a dimensão meramente descritiva, localista ou particularista, por assim dizer, não raras vezes, caudatárias de certo sincretismo teórico (EVANGELISTA; TRICHES; VAZ, 2016); de igual modo análises sobre formação de professores (em Educação Física) com certo grau de ecletismo, pluralismo e hibridismo (BANDEIRA, 2017); ou mesmo abordagens segundo as quais valorizem o conhecimento tácito em detrimento do conhecimento escolar (DUARTE, 2003); em última análise, propostas pelas quais se suplante o ufanismo (ou ativismo) referente a políticas públicas à formação e valorização dos profissionais do magistério (FREITAS, 2014) −, ao passo que possam identificar e franquear indicadores (epistemológicos, históricos, socioculturais, políticos e ideológicos) com os quais seja possível aprimorar: os programas; os currículos de formação; o desenvolvimento profissional docente; a qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido; e a instituição escolar, de modo a fomentar políticas públicas, formação e desenvolvimento, assentados em valores democráticos e preconizando práticas de liberdade.
Organizadores:
Professor Dr. Kleber Tüxen Carneiro (DEF/PPGE – UFLA)
Professor Dr. Fábio Pinto Gonçalves dos Reis (DEF/PPGE – UFLA)
Professor Dr. Rubens Antonio Gurgel Vieira (DEF/PPGE – UFLA)
Professor Dr. Alessandro Teodoro Bruzi (DEF/PPGE – UFLA)
Professor Dr. Bruno Adriano Rodrigues da Silva (DFE - UNIRIO)
Temporalidade – Chamada dos artigos no primeiro semestre de 2023 (até 31/07/2023).
Análise das propostas no segundo semestre para publicação em 2024 (próximo volume).
Para mais informações acerca da Revista Conexões, ver:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes
As instruções para autores se encontram no link:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/about/submissions
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Lílian Brandão. Razão instrumental, pragmatismo e suas interfaces com a formação de professores de educação física: reflexões a partir do estágio supervisionado curricular obrigatório. 282 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.
BETTI, Mauro. Educação física escolar: ensino e pesquisa-ação. 2. ed. Ijuí, RS: Unijí. 2013.
CARNEIRO, Kleber Tüxen; SILVA, Bruno Adriano Rodrigues da; REIS, Fábio Pinto Gonçalves dos. EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS ADVINDAS DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA EM UMA UNIVERSIDADE FEDERAL MINEIRA. Revista Profissão Docente, [S. l.], v. 22, n. 47, p. 01–25, 2022.
CARNEIRO, Kleber Tüxen; SILVA, Bruno Adriano Rodrigues da; REIS, Fábio Pinto Gonçalves dos. As implicações do Programa de Residência Pedagógica para formação docente: das narrativas à (re)elaboração do trabalho pedagógico no ensino da Educação Física. Educação, [S. l.], v. 46, n. 1, p. e58/ 1–33, 2021.
CRUZ, Shirleide Pereira; SILVA, Katia Augusta Curado Pinheiro da. A residência pedagógica na formação de professores: história, hegemonia e resistências. Momento - Diálogos em Educação, v. 27, n. 2, p. 227-247, ago. 2018.
DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio. Da racionalidade técnica à racionalidade crítica: formação docente e transformação social. Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade. v.1, n.1, 2014.
DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio. Desenvolvimento profissional docente: um conceito em disputa. In: Francisco Imbernón; Alexandre Shigunov Neto; Ivan Fortunato (org.). Formação permanente de professores: experiências iberoamericanas. São Paulo: Edições Hipótese, 2019, p. 65-74.
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