Resumo
Os espaços públicos abertos idealizados no Brasil no decorrer do século XX demonstram de diferentes formas as forças e vontade política atreladas a propostas de planejamento e requalificação urbana. O Estado Novo (1937-1945) representa um momento de adensamento do discurso pela modernização do país. Este contexto embasou a criação de Goiânia como nova capital de Goiás e como uma imagem e identidade desejada para o território brasileiro. Seu planejamento urbano buscou privilegiar, através de seu emblemático traçado de três grandes avenidas convergentes, uma grande Praça Cívica central que abrigaria o conjunto de edificações para a sede administrativa do governo estadual, concebido como um lugar para uso, sociabilidade e domínio do espírito público. Nessa perspectiva o artigo visa debater a condição da Praça Cívica enquanto espaço público e seus impactos no convívio social no contexto do século XXI. Essa reflexão parte da problemática dos espaços públicos concebidos pela nova política, como lugares representantes dos ideais, de ordem e de modernidade desejados para o país, que parecem, sobretudo, exaltar a dominância do poder político. As antigas apropriações, as transformações urbanas e as dinâmicas sociais – que ocorreram tanto no centro como na praça – levantam o questionamento sobre como o processo de globalização e a cultura da individualidade agiram a partir da idealização deste espaço. Essa relação pode ser discutida não apenas através das modificações no uso e na materialidade, mas também no sentido de um planejamento monumental que privilegia diferentes ideias de poder e modernidade. A discussão verifica como o local apresenta apenas esse domínio público, e se são observados outros atravessamentos em seu uso. Para tal se apoia no método lefebvriano regressivo-progressivo, utilizando a história como ferramenta para uma discussão da atualidade através de suas origens, compreendendo o caráter atual como parte de uma processualidade. Assim, busca-se destacar como há uma mistura de tempos históricos que moldam estruturas socioespaciais conflituosas no decorrer do tempo e como as práticas de uma rotina urbana contribuem nessas transformações.
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