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Editorial L&E, v.9, n.2, 2015. Dossier Rios e Cidades
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Palavras-chave

Labor & Engenho
Rios
Cidades

Como Citar

Argollo Ferrão, A. M. de, Gandara, G. S., & Vidal, L. (2015). Editorial L&E, v.9, n.2, 2015. Dossier Rios e Cidades. Labor E Engenho, 9(2), 1–5. https://doi.org/10.20396/lobore.v9i2.8637391

Resumo

O Dossiê “Rios e Cidades” resulta dos trabalhos apresentados em maio de 2014 na quarta versão do Seminário ItineranteFranco-Brasileiro Rios e Cidades na História do Brasil: rio São Franciscoorganizado e ilustrado a partir do rio São Francisco e das cidades-beira Remanso, Pilão Arcado, Juazeiro, Petrolina e Paulo Afonso. Sua forma itinerante se inspira na tradição excursionista trazida ao Brasil pelos geógrafos franceses nos anos 1930 para coletar dados sobre os gêneros de vida, as paisagens, a fauna, a flora etc.. Cremos que ao elegermos questões representadas pelo espaço dos rios e das cidades em nossas itinerâncias expressamos a importância crescente que esta abordagem vem assumindo nos meios acadêmicos que tratam dessas análises sob a ótica da história social e ambiental.

A realização desta versão do itinerante, no interior dos estados da Bahia e Pernambuco, região nordeste do Brasil, nos ajudou a repensar e potencializar a produção do conhecimento. Naquele momento experiências das pesquisas foram compartilhadas com colegas de outras instituições no/do Brasil e no/do exterior (França, Portugal e Estados Unidos) ajudando a construir a qualidade e excelência na formação acadêmica humanizada. Nossa proposta foi fazer deste evento um ponto de convergência entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, pois cremos nas trocas que adquirem sentido na conjuntura intelectual e em pesquisas que possibilitem reflexões conjuntas e ocasião para o debate face ao tema operacionalmente circunscrito. A missão do IV Seminário itinerante Franco-brasileiro Rios e Cidades na História do Brasil: rio São Francisco foi refletir sobre a multiplicidade das formas de surgimento das cidades e do urbano nas regiões de fronteira do Brasil.

Os rios e cidades são, de fato, objetos de reflexão a revelar saberes específicos, políticos, literários, poéticos, ecológicos, ambientais e históricos como também, objetos de produção de imagens a interligarem sentidos ao urbano. Refletir sobre um curso fluvial é sempre uma excelente circunstância. Entre outros motivos está a inter-relação da água que flui o espaço vivido. Os rios escrevem grandes histórias com seu transcorrer pela terra. É a coerência da paisagem a qual se ordena, se vincula e se converte em vivacidade. São caminhos que andam. São estradas líquidas fluídas. São meios para germinar a vida. São também obstáculos. São pontes do entendimento.

O espaço geográfico percebido e vivido torna-se um espaço social, se integra à comunidade e passa a fazer parte de uma experiência. O conceito mediador que podemos escolher para dialogar com a natureza é aquele criado pelo indivíduo em seu processo histórico, possuindo desta forma a sua inserção sócio-cultural no tempo e no espaço. Trata-se, portanto, de se ler a história humana na paisagem. Em termos bem simples, “trata do papel e do lugar da natureza na vida humana”, como disse Donald Woster (1991) ao falar da História Ambiental. Em nossas itinerâncias apresentamos resultados de estudos sobre rios e cidades observando a paisagem e as relações humanas com a natureza e, principalmente as relações dadas pela água no intuito de dar a conhecer a história social e ambiental dessas longas “beiras”. Já a paisagem é mesmo uma leitura indissociável da pessoa que contempla o espaço considerado. É maneira de ler e de analisar o espaço, de representá-lo, de esquematizá-lo para oferecê-lo à apreciação estética, de carregá-lo de significações e emoções como bem disse Alain Corbin. A poética também surge da/na contemplação da paisagem quando simpatizamos com o espetáculo das águas. De acordo com Bachelard (2002, p.22) “certas formas nascidas das águas têm mais atrativos, mais insistência, mais consistência...”. Lembrando que tanto a Geografia quanto a História são também poéticas do mundo e para que esta força poética não entenebreça sensualmente, a poética do rio aqui se abrirá compondo este Dossiê.

Nossa trama neste dossiê por um lado acompanhará as águas frescas e limpas, violentas e barrentas dos rios. Por outro versará sobre cidades, pois a convergência de caminhos líquidos têm se enlevado como primeiro fator do desenvolvimento urbano. Contudo cada autor fará das correntes sua livre queda d’água apresentando suas ideias e reflexões.

A Labor & Engenho apresenta neste número — o L&E, v.9, n.2, 2015 — um total de 8 (oito) artigos, sendo 7 (sete) selecionados para compor o “Dossiê Rios e Cidades”, antecedidos por 1 (um) que compõe o “Dossiê Eletromemória: Paisagem e História”, finalizando-o.

Trata-se do trabalho de Giorgia Limnios; Edson Alves Filho e Sueli Angelo Furlan intitulado “Poluição e geração de energia: implicações ambientais em Pequenas Centrais Hidrelétricas do estado de São Paulo”, em que os autores discorrem sobre a atual situação de escassez hídrica no território paulista, o risco iminente de desabastecimento das principais áreas urbanas, a problemática da preservação dos recursos hídricos, e também questões relacionadas à segurança energética, abrindo para as reflexões sobre a necessária integração entre as cidades e seus rios.

Hervé Théry em “Retour dans la vallée du Rio São Francisco”, um retorno feito por ocasião do seminário itinerante, percebeu um paradoxo do vale do rio São Francisco que para ele não mudou muito, portanto traz aqui uma reflexão em que a história de sua ocupação ainda reflete, em parte, sua situação atual, ou seja, o rio São Francisco é o sertão.

Zanoni Neves em “Vapor “Benjamim Guimarães: Patrimônio dos ribeirinhos do São Francisco” demonstra como o Vapor Benjamim, que desde 1985, por sua importância histórica, integra a lista de bens tombados como patrimônio do estado de Minas Gerais participou do “mercado de bens inalienáveis”.

Alan Kardec Gomes Pachêco Filho reflete sobre o rio Grajaú, sua navegação e importância para a circulação de pessoas e mercadorias no Maranhão a partir de fragmentos de memória dos vareiros.  Lembra que esses trabalhadores do rio, além de empurrarem embarcações com varas, cheias de mercadorias, ora a favor ora contra a correnteza do rio, compartilharam experiências em dois ambientes muito distintos: o litoral e o sertão.

Leandro Mendes Rocha e Maria de Fátima Oliveira procuram compreender as transformações que vêm se processando na região de Imperatriz [MA] e Porto Nacional [TO], que faz parte da bacia do rio Tocantins analisando o contexto histórico no qual ela está inserida.

Leila Mourão Miranda em “Cidades, Águas e Ilhas no Estuário Amazônico” busca recuperar memórias e histórias dos processos de interação entre sociedades, águas e insularidades das cidades estuarinas amazônicas, com foco especial na Região Metropolitana de Belém [PA].

Marcelo Silva de Souza Ribeiro em “Infâncias do Semiárido lançando olhares” traz discussões, a partir de um panorama cultural, sócio-histórico e ambiental do lugar/tempo chamado, hoje, de Semiárido nordestino brasileiro.

Jadson Luís Rebelo Porto e Ivo Marcos Theis em “Circuitos da Economia na fronteira amapaense: um híbrido de subsistemas para a sua reorganização espacial” discutem a formatação do circuito econômico da fronteira Amapá — Guiana Francesa a partir das recentes ações econômicas ali estabelecidas, proporcionando novos usos da fronteira e do seu território.

Questões eminentemente transdisciplinares compõem um quadro complexo envolvendo múltiplas escalas de diferentes áreas do conhecimento, proporcionando uma inteligente e necessária integração do conhecimento em áreas afins como Engenharia, Geografia e Urbanismo por uma imprescindível História Ambiental.

Esperamos tenham todos uma excelente leitura.

 

André Munhoz de Argollo Ferrão, Gercinair Silvério Gandara, & Laurent Vidal

Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual de Goiás, & Université de La Rochelle

 
https://doi.org/10.20396/lobore.v9i2.8637391
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