O primeiro período (1962-1969) da Revista de Cultura Brasileña: um nó de relações culturais transatlânticas na Guerra Fria

Resumo

O presente artigo analisa o caso da Revista de Cultura Brasileña, uma publicação editada pela Embaixada do Brasil em Madri, na Espanha. A Revista foi lançada em 1962 e dirigida até 1969 pelo poeta e crítico Ángel Crespo, que alcançou essa posição graças a seus contatos e afinidades com o diplomata e poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto. Nas páginas da publicação, desvendaram-se a literatura e a poesia brasileiras modernistas e de vanguarda, apresentando, na Espanha, fenômenos fundamentais como o concretismo e outras vertentes experimentais. Também se apresentaram outras produções culturais, em um sentido amplo: das artes plásticas ao cinema. Tudo isso sob uma linha editorial particular, que reunia as diferentes tendências em uma compreensão crítica e integradora da cultura, contribuição do próprio Crespo. É importante contextualizar a Revista no âmbito da diplomacia cultural no período da Guerra Fria, época em que os países buscavam estratégias de soft power para posicionar-se internacionalmente. Embora essa publicação fosse uma iniciativa propagandística, o conjunto de agentes que dela participaram conseguiu apropriar-se do meio, escapando da mera instrumentalização, ao usá-lo como catalisador de relações culturais transatlânticas.