Resumo
Como instituições políticas fomentam a corrupção? Como a publicização de escândalos de corrupção afeta a reforma dessas instituições? Este artigo toma o processo orçamentário brasileiro desde 1988 como um estudo de caso para ilustrar essas duas questões. Neste período, dois escândalos de corrupção envolvendo o processo orçamentário foram expostos: os “anões do orçamento” de 1988 a 1993 e os “sanguessugas” em 2006. O caso dos “anões” é um ótimo exemplo de como a centralização institucional, aliada à informalidade, resulta em corrupção. O caso dos “sanguessugas”, por sua vez, ilustra como atores corruptos podem prosperar em um cenário institucional parcialmente descentralizado. Ambos os escândalos resultaram em reformas institucionais parciais e, até certo ponto, eficazes.
Abstract:
How do institutions foster corruption? How does the unveiling of corruption scandals affect institutional reform? This essay takes the Brazilian budget process from 1988 onwards as a case study in an attempt to answer both these questions. In this period, two corruption scandals in the budget process were uncovered: the “budget dwarves” in 1993-1994 and “budget leeches” in 2006. The first scandal is a classic example of how institutional centralization, coupled with informality, results in corruption; the second scandal illustrates how corrupt actors work within a partially decentralized institutional scenario. Both scandals resulted in partial, and somewhat effective, institutional reforms.
Keywords: budget process; corruption; institutional change; legislative organization
Referências
ABRAMO, C. W. “Percepções pantanosas: a dificuldade de medir a corrupção”, Novos Estudos Cebrap, n.3, p.33-37, 2005.
ALESINA, A. & PEROTTI, R. “Budget Deficits and Budget Institutions”, In: POTERBA, J. & VON HAGEN, J. (Eds.) Fiscal Institutions and Fiscal Performance. Chicago: University of Chicago Press, 1999.
BARBOSA, L. B. As prioridades fixadas na Lei de Diretrizes Orçamentárias para a Administração Pública Federal importam? Dissertação (mestrado em Ciência Política), Universidade de Brasília, 2006.
BARDHAN, P. “Corruption and development: a review of issues”, Journal of Economic Literature, v.35, p. 1320-1346, 1997.
BARROS, R. De olho no dinheiro do Brasil. Brasília: Editora 24x7 Cultural, 2007.
CAPOCCIA, G. & K; DANIEL, R. “The study of critical junctures: theory, narrative, and counterfactuals in historical institutionalism”, World Politics, v.59, p.341-369, 2007.
CARVALHO, N. R. E no início eram as bases: geografia política do voto e comportamento legislativo no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 2003.
CHANG, E. “Electoral Incentives for Political Corruption under Open-List Proportional Representation”, Journal of Politics, v.67, n. 3, p.716-730, 2005.
CHANG, E. & GOLDEN, M. “Electoral Systems, District Magnitude and Corruption”, British Journal of Political Science, v. 37, n. 1, p.115–37, 2007.
CONGRESSO NACIONAL. Comissão Mista de Orçamento. Relação Geral dos Pareceres: Emendas Aprovadas. Brasília: Congresso Nacional, 13/12/1990.
CONGRESSO NACIONAL. Sistema de Informações Orçamentárias. Relatório de Emendas Aprovadas. Brasília, Congresso Nacional, 26/3/1993.
CONGRESSO NACIONAL. Parecer Preliminar de 1994. Parecer Final da Comissão Mista de Orçamento sobre o Projeto de Lei n. 3 de 1994 (CN) de iniciativa do Poder Executivo que “estima a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 1995”. Autores: Gilberto Miranda e diversos relatores-adjuntos, que são: senador Carlos Patrocínio; deputado João Faustino; deputado Roberto Balestra; deputado Vadão Gomes; deputado João Almeida; deputado Oswaldo Coelho; senador Ronan Tito. Brasília, Congresso Nacional, 1994b.
CONGRESSO NACIONAL. Relatório da CPI do Orçamento. Brasília, Congresso Nacional, 1994a, volume II, depoimento tomado em 22/10/1993.
CONGRESSO NACIONAL. Notas taquigráficas da Comissão Mista destinada a propor a reestruturação do processo orçamentário. Brasília, Congresso Nacional, 2005, mimeo, 282 pgs.
CONGRESSO NACIONAL. Comissão Parlamentar Mista de Inquérito “das Ambulâncias”. Relatório dos trabalhos da CPMI das Ambulâncias. Brasília: Congresso Nacional, Agosto de 2006.
CRAIN, W. M. & MURIS, T. J. “Legislative organization of fiscal policy”, Journal of Law and Economics, v. 38, p.311-333, n.2, 1995.
FAN, S. C.; LIN, C.; TREISMAN, D. “Political decentralization and corruption: Evidence from around the world”, Journal of Public Economics, v. 93, p.14-34, n. 1-2, 2009.
FIGUEIREDO, A. & LIMONGI, F. Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1999
FIGUEIREDO, A. & LIMONGI, F. Política orçamentária no presidencialismo de coalizão. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2008.
FISMAN, R. & GATTI, R. “Decentralization and corruption: evidence across countries”, Journal of Public Economics, v. 83, n. 3, 2002, p.325-345.
FISMAN, R. & M, E. Economic gangsters: corruption, violence, and the poverty of nations. Princeton: Princeton University Press, 2008.
FRIED, B. J; LAGUNES, P. & VENKATARAMANI, A. “Corruption and inequality at the cross road: a Multimethod Study of Bribery and Discrimination in Latin America”, Latin American Research Review, v. 45, n. 1, 2010, p.76-97.
GAMBETTA, D. “Corruption: an analytical map”, In: KREIKE, E. & JORDAN, W. C. (eds.) Corrupt Histories. New York: University of Rochester Press, 2004.
GERRING, J. & THACKER, S. “Political institutions and corruption: the role of unitarism and parliamentarism”, British Journal of Political Science, v.34, p. 295-330, 2004.
GLAESER, E. & GOLDIN, C. “Corruption and Reform: An Introduction”, In: GLAESER, E. & GOLDIN, C. (eds.) Corruption and Reform: Lessons from America’s Economic History. Chicago: University of Chicago Press, 2006.
GOLDEN, M. “Electoral connections: the effects of the personal vote on political patronage, bureaucracy and legislation in postwar Italy”, British Journal of Political Science, v.33, n. 2, p. 189-212, 2003.
GOLDEN, M. & PICCI, L. “Proposal for a New Measure of Corruption, Illustrated with Italian Data”, Economics & Politics, v. 17, n. 1, p.37-75, 2005.
HELLER, W. B. “Bicameralism and budget deficits: the effect of parliamentary structure on government spending”, Legislative Studies Quarterly, v.22, n.4, p. 485- 516, 1997.
HUBER, J. & SHIPAN, C. Deliberate Discretion? The institutional foundations of bureaucratic autonomy. New York: Cambridge University Press, 2002.
HUNTER, W. “The Partido dos Trabalhadores: Still a Party of the Left?”, In: KINGSTONE, P. R. & POWER, T. (eds.) Democratic Brazil Revisited. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, p. 15-32, 2008.
ISAKSEN, J. The budget process and corruption. Bergen: Chr. Michelsen Institute. U4 Issue 3, 2005.
JOHNSTON, M. Syndromes of corruption: wealth, power, and democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
KLITGAARD, Robert. Controlling Corruption. Berkeley: University of California Press, 1988.
KRIEGER, G. RODRIGUES, F. & BONASSA, E. Os donos do Congresso. São Paulo: Ática, 1994.
KUNICOVÁ, J. & ROSE-ACKERMAN, S. “Electoral rules and constitutional structures as constraints on corruption”, British Journal of Political Science, v.35, n. 4, p.573- 606, 2005.
LAMBSDORFF, J. G. The institutional economics of corruption and reform: theory, evidence, and policy. New York: Cambridge University Press, 2007.
MÉNDEZ, F. & SEPÚLVEDA, F. “What do we talk about when we talk about corruption”, Journal of Law, Economics, and Organization, 2009, forthcoming.
NYE, J. S. “Corruption and political development: a cost-benefit analysis”, American Political Science Review, v.61, p.417-427, n. 2, 1967.
OLIVIERI, C. “Monitoramento das políticas públicas e controle da burocracia: o sistema de controle interno do Executivo federal brasileiro”, In: LOUREIRO, M. R.; ABRUCIO, F. & PACHECO, R. (Orgs.). Burocracia e política no Brasil: desafios para o Estado democrático no século XXI. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010, p. 149-180.
PEREIRA, C. & RENNÓ, L. “Successful reelection strategies in Brazil: the electoral impact of distinct institutional incentives”, Electoral Studies, v. 22, p. 425-448, 2003.
PEREZINO, L. F. M. A preponderância do Poder Executivo no processo orçamentário. Brasília: Senado Federal/Unilegis, 2008.
PINHEIRO, V. C. “Inflação, poder e processo orçamentário no Brasil”, Revista do Serviço Público, v. 120, n.1, p. 141-164, 1996.
ROSE-ACKERMAN, S. (Ed.) International Handbook on the Economics of Corruption. Massachussets: Edward Elgar, 2006.
ROSE-ACKERMAN, S. Corruption and government: causes, consequences, and reform. New York: Cambridge University Press, 1999.
SANCHES, O. “A atuação do poder legislativo no orçamento: problemas e imperativos de um novo modelo”, Revista de Informação Legislativa, v.35, n.138, 1998.
SCHICKLER, E. Disjointed Pluralism: Institutional Innovation and the Development of the U.S. Congress. Princeton: Princeton University Press, 2001.
SHLEIFER, A. & VISHNY, R. “Corruption”, Quarterly Journal of Economics, v.8, p.599- 617, n.3, 1993.
SPECK, B. Inovação e Rotina no Tribunal de Contas da União: o Papel da Instituição Superior de Controle Financeiro no Sistema Político-Administrativo do Brasil. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.
TAYLOR, M. “Corruption, Accountability Reforms, and Democracy in Brazil”, In: BLAKE, C. H. & MORRIS, S. D. Corruption and Democracy in Latin America. Pittsburgh: Pittsburgh University Press, p. 150-168, 2009.
TRANSPARENCY INTERNATIONAL. Global Corruption Report 2007: corruption in judicial systems. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
TREISMAN, D. “What Have We Learned About the Causes of Corruption From Ten Years of Cross-National Empirical Research?”, Annual Review of Political Science, v. 10, p. 211-244, 2007.
VIEIRA, V. C. As inovações no processo legislativo das leis orçamentárias à luz da Resolução 1/2006 do Congresso Nacional. Monografia apresentada no curso de Especialização em Orçamento Público da Unilegis. Brasília, DF, 2008.
VON HAGEN, J. “Budgeting institutions and public spending”, In: SHAH, A. (Ed.). Fiscal Management. Washington D.C: World Bank, p. 1-29, 2005.
A Opinião Pública utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.