Resumo
O artigo investiga se, e de que forma, a Controladoria-Geral da União (CGU) aborda a ideia de transparência em seus perfis de redes sociais. Três questões orientam a análise: Como o tema da transparência pública é mobilizado pela CGU no Facebook e no Twitter? Uma vez que Facebook e Twitter dispõem de estruturas e usuários distintos, que estratégias de comunicação são privilegiadas em cada rede? Em que medida as rotinas de comunicação digital da CGU foram transformadas na transição entre os governos Rousseff e Temer? A análise de conteúdo de 4.212 publicações no Facebook e no Twitter em 2015 e 2016 revelou que a instituição privilegia dois temas: transparência e corrupção. Ademais, autoridades públicas são pouco mencionadas, afastando-se uma perspectiva personalista de instrumentalização da comunicação. Descobriu-se, ainda, que a transição governamental efetivamente interferiu nas rotinas de publicação da entidade.
Referências
AL-AUFI, A. S., et al. “Citizens’ perceptions of government’s participatory use of social media”. Transforming Government: People, Process and Policy, vol. 11, n° 2, p. 174-194, 2017.
ALMADA, M. P. “Avaliação da e-transparência em portais de governos nacionais: uma comparação entre Brasil, Estados Unidos e Reino Unido”. Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.
AMORIM, P. K. “Democracia e internet: a transparência de gestão nos portais eletrônicos das capitais brasileiras”. Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.
ANANNY, M.; CRAWFORD, K. “Seeing without knowing: limitations of the transparency ideal and its application to algorithmic accountability”. New Media & Society, vol. 20, n° 3, p. 973-989, 2018.
ANGELI, A. E. “Accountability e internet em uma perspectiva comparada: a atuação digital das Controladorias Públicas na América Latina”. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017.
ANGÉLICO, F. Transparência, accountability e tecnologia. In: MENDONÇA, R. F.; PEREIRA, M. A.; FILGUEIRAS, F. (Eds.). Democracia digital: publicidade, instituições e confronto político. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 113-130, 2016.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BAUHR, M.; GRIMES, M. “Indignation or resignation: the implications of transparency for societal accountability”. Governance: An International Journal of Policy, Administration, and Institutions, vol. 27, n° 2, p. 291-320, 2014.
BENTHAM, J. “Da publicidade”. Revista Brasileira de Ciência Política, vol. 6, p. 277-294, 2011.
BERTOT, C.; JAEGER, P. T.; GRIMES, J. M. “Using ICTs to create a culture of transparency: e-government and social media as openness and anti-corruption tools for societies”. Government Information Quarterly, n° 27, p. 264-271, 2010.
BERTOT, C.; JAEGER, P. T.; GRIMES, J. M. “Promoting transparency and accountability through ICTs, social media, and collaborative e-government”. Transforming Government: People, Process and Policy, vol. 6, n° 1, p. 78-91, 2012.
BODEI, R. “From secrecy to transparency: reason of state and democracy”. Philosophy & Social Criticism, vol. 37, n° 8, p. 889-898, 2011.
BONSÓN, E., et al. “Local e-government 2.0: social media and corporate transparency in municipalities”. Government Information Quarterly, vol. 29, p. 123-132, 2012.
BOSSETTA, M. “The digital architectures of social media: comparing political campaigning on Facebook, Twitter, Instagram, and Snapchat in the 2016 U.S. election”. Journalism & Mass Communication Quarterly, 2018.
BRAGA, S. S. “Podem as novas tecnologias de informação e comunicação auxiliar na consolidação das democracias? Um estudo sobre a informatização dos órgãos legislativos na América do Sul”. Opinião Pública, vol. 13, n° 1, p. 1-50, 2007.
BRASIL. Medida Provisória n° 726, de 12 maio 2016. Altera e revoga dispositivos da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, maio 2016a.
BRASIL. Lei n° 13.341, de 29 de setembro de 2016. Altera as Leis n° 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e 11.890, de 24 de dezembro de 2008, e revoga a Medida Provisória nº 717, de 16 de março de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, DF, set. 2016b.
BRASIL. Lei n° 13.844, de 18 de junho de 2019. Estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, jun. 2019.
CUCCINIELLO, M.; PORUMBESCU, G.; GRIMMELIKHUIJSEN, S. “25 years of transparency research: evidence and future directions”. Public Administration Review, vol. 77, p. 32-44, 2016.
DAVIS, J. L. Social media. In: MAZZOLENI, G. (Ed.). The international encyclopedia of political communication. Hoboken: Wiley Blackwell, 2015.
DEPAULA, N.; DINCELLI, E. “Information strategies and affective reactions: how citizens interact with government social media content”. First Monday, vol. 23, n° 4, 2018.
DROR, Y. Transparency and openness of quality. In: KELLY, M. (Ed.). Openness and transparency in governance: challenges and opportunities. Maastricht: NISPAcee, p. 62-71, 1999.
ELLISON, N. B.; BOYD, D. Sociality through social network sites. In: DUTTON, W. H. (Ed.). The Oxford handbook of internet studies. Oxford: University Press, p. 151-172, 2013.
ERNST, N., et al. “Extreme parties and populism: an analysis of Facebook and Twitter across six countries”. Information, Communication & Society, vol. 20, n° 9, p. 1.347-1.364, 2017.
ETZIONI, A. The limits of transparency. In: ALLOA, E.; THOMÃ, D. (eds.). Transparency, society and subjectivity. Cham: Palgrave Macmillan, p. 179-201, 2018.
ETZIONI, A. “Transparency is overrated” (online). The Atlantic, 2014. Disponível em:
http://www.theatlantic.com/politics/archive/2014/01/transparency-is-overrated/282990/. Acesso em: 24 nov. 2019.
FERRACIOLI, P., HERMAN, F. “Habilitando o cidadão para a transparência. Análise de portais estaduais do Executivo e Legislativo”. Agenda Política, vol. 7, nº 1, p. 217-238, 2019.
FIELD, A. Discovering statistics with SPSS, 3ª ed. London: Sage, 2005.
FILGUEIRAS, F. “Além da transparência: accountability e política da publicidade”. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n° 84, p. 65-94, 2011.
FUNG, A. “Infotopia: unleashing the democratic power of transparency”. Politics & Society, vol. 41, n° 2, p. 183-212, 2013.
GOMES, W.; AMORIM, P. K. D. F.; ALMADA, M. P. “Novos desafios para a ideia de transparência pública”. E-Compós, vol. 21, n° 2, 2018.
GRABER, D. The power of communication. Washington: CQ Press, 2003.
GRAHAM, M. W. “Government communication in the digital age: social media’s effect on local government public relations”. Public Relations Inquiry, vol. 3, n° 3, p. 361-376, 2014.
GRIMMELIKHUIJSEN, S.; PORUMBESCU, G.; HONG, B. “The effect of transparency on trust in government: a cross‐national comparative experiment”. Public Administration Review, vol. 73, n° 4, p. 575-586, 2013.
GUILLAMÓN, M. D., et al. “Factors influencing social media use in local governments: the case of Italy and Spain”. Government Information Quarterly, vol. 33, nº 3, 2016.
GUNAWONG, P. “Open government and social media: a focus on transparency social”. Social Science Computer Review, p. 1-12, 2014.
HANSEN, K. H.; FLYVERBOM, M. “The politics of transparency and the calibration of knowledge in the digital age”. Organization, vol. 22, n° 6, p. 872-889, 2015.
HEALD, D. Varieties of transparency. In: HOOD, C.; HEALD, D. (Eds.). Transparency: the key to better governance. New York: Oxford University Press, p. 25-43, 2006.
HOCH, P. A.; RIGUI, L. M.; SILVA, R. L. “Desafios à concretização da transparência ativa na internet, à luz da Lei de Acesso à Informação pública: análise dos portais dos Tribunais Regionais Federais”. Revista Direitos Emergentes na Sociedade Global, vol. 1, nº 2, 2012.
HOOD, C. Transparency in historical perspective. In: HOOD, C.; HEALD, D. (Eds.). Transparency: the key to better governance. New York: Oxford University Press, p. 3-24, 2006.
KANT, I. A paz perpétua. Covilhã: LusoSofiapress, 2008.
KIM, S. K.; PARK, M. J.; RHO, J. J. “Effect of the government’s use of social media on the reliability of the government: focus on Twitter”. Public Management Review, vol. 17, n° 3, p. 328-355, 2015.
KRIPPENDORFF, K. Content analysis: an introduction to its methodology. London: Sage, 2004.
LOURENÇO, R. “An analysis of open government portals: a perspective of transparency for accountability”. Government Information Quarterly, vol. 32, n° 3, p. 323-332, 2015.
LUNA-REYES, L. F. “Opportunities and challenges for digital governance in a world of digital participation”. Information Polity, vol. 22, p. 197-205, 2017.
MARGETTS, H. “The internet and transparency”. The Political Quarterly, vol. 82, n° 4, p. 518-521, 2011.
MARQUES, F. P. J. Internet e transparência política. In: MENDONÇA, R. F.; PEREIRA, M. A.; FILGUEIRAS, F. (Orgs.). Democracia digital: publicidade, instituições e confronto político. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 55-78, 2016a.
MARQUES, F. P. J. Ciberpolítica: conceitos e experiências. Salvador, Editora da UFBA, 2016b.
MARQUES, F. P. J., et al. “What do state institutions say? Twitter as a public communication tool during the impeachment of Dilma Rousseff”. Brazilian Political Science Review, vol. 13, n° 3, p. 1-32, 2019.
MERGEL, I. “A framework for interpreting social media interactions in the public sector”. Government Information Quarterly, 2013.
MIOLA, E.; MARQUES, F. P. J. “Comunicação pública do Ministério da Saúde no Facebook: uma análise das campanhas contra o Aedes aegypti no ‘verão do Zika’”. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, vol. 14, nº 1, 2020.
MOORE, S. “Towards a sociology of institutional transparency: openness, deception and the problem of public trust”. Sociology, vol. 52, n° 2, p. 416-430, 2018.
NEUENDORF, K. A.; KUMAR, A. Content analysis. In: MAZZOLENI, G. (Ed.). The international encyclopedia of political communication. Hoboken, New Jersey: Wiley Blackwell, 2015.
PICAZO-VELA, S.; GUTIÉRREZ-MARTÍNEZ, I.; LUNA-REYES, L. F. “Understanding risks, benefits, and strategic alternatives of social media applications in the public sector”. Government Information Quartely, n° 29, p. 504-511, 2012.
PINA, V.; TORRES, L.; ROYO, S. “Are ICTs improving transparency and accountability in the EU regional and local governments? An empirical study”. Public Administration, vol. 85, n° 2, p. 449-472, 2007.
PINHO, J. A. G.; SACRAMENTO, A. “Accountability: já podemos traduzi-la para o português?”. Revista de Administração Pública, vol. 43, n° 6, 2009.
PIOTROWSKI, S. J. Governmental transparency in the path of administrative reform. Albany, New York: Suny Press, 2008.
PORUMBESCU, G. “Linking transparency to trust in government and voice”. American Review of Public Administration, vol. 47, n° 5, p. 520-537, 2017.
ROBERTS, A. Blacked out: government secrecy in the information age. New York: Cambridge University Press, 2006.
RUIJER, E., et al. “The politics of open government data: understanding organizational responses to pressure for more transparency”. The American Review of Public Administration, vol. 50, n° 3, p. 260-274, 2020.
SCHLINDWEIN, A. F. “Transparência digital no Poder Judiciário brasileiro: acesso à informação e controle social nos portais dos Tribunais de Justiça”. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019.
SCHUDSON, M. “The shortcomings of transparency for democracy”. American Behavioral Scientist, p. 1-9, 2020.
SECOM. Manual de orientação para atuação em mídias sociais: identidade-padrão de comunicação digital do Poder Executivo Federal. Brasília: Secom, 2014.
SILVA, S. P. Transparência digital em instituições democráticas. In: MENDONÇA, R. F.; PEREIRA, M. A.; FILGUEIRAS, F. (Eds.). Democracia digital: publicidade, instituições e confronto político. Belo Horizonte: Editora da UFMG, p. 27-54, 2016.
SKALSKI, P. D., et al. Content analysis in the interactive Media Age. In: NEUENDORF, K. A. (Ed.). The content analysis guidebook. Los Angeles: Sage, p. 201-242, 2017.
SODRÉ, D. A. “A construção da imagem institucional da CGU no Facebook”. Monografia em Comunicação Social. Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
STAMATI, T.; PAPADOPOULOS, T.; ANAGNOSTOPOULOS, D. “Social media for openness and accountability in the public sector: cases in the Greek context”. Government Information Quarterly, vol. 32, n° 1, p. 12-29, 2015.
URBINATI, N. “Crise e metamorfoses da democracia”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28, n° 82, p. 5-16, 2013.
VALLE-CRUZ, D., SANDOVAL-ALMAZAN, R., GIL-GARCIA, R. J. “Citizens’ perceptions of the impact of information technology use on transparency, efficiency and corruption in local governments”. Information Polity, vol. 21, n° 3, p. 321-334, 2016.
WOOD, T.; ARONCZYK, M. “Publicity and transparency”. American Behavioral Scientist, vol. 64, nº 11, p. 1531-1544, 2020.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2021 Andressa Butture Kniess, Francisco Paulo Jamil Marques