Resumo
Introdução: a partir da observação que a competência em informação, historicamente, privilegia uma perspectiva técnica, voltada para ambientes acadêmicos, problematizamos que essa competência carece de um desenvolvimento mais inclusivo e crítico. Objetivo: o artigo busca, de forma ensaística, discutir, refletir e propor concatenações necessárias sobre a competência crítica em informação – movimento surgido no início dos anos 2000 em contraposição à visão “clássica”, oligárquica e estaduniense da information literacy – no contexto das pessoas com deficiência, trazendo como base um recorte teórico-conceitual das temáticas vinculadas. Metodologia: a abordagem metodológica é teórica e qualitativa, com foco em conceitos como acessibilidade, capacitismo e justiça social para entender o acesso desigual à informação entre grupos marginalizados. O estudo observa que a competência em informação, historicamente, privilegia uma perspectiva técnica, voltada para ambientes acadêmicos, e carece de uma dimensão realmente inclusiva e crítica. Resultados: entre os principais resultados, destaca-se que tal abordagem clássica não aborda adequadamente as barreiras que as pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis enfrentam em termos de acesso e uso da informação. A competência crítica em informação, em contraste, propõe um modelo que incorpora questões necessárias à discussão, alertando para o risco de se formar uma “elite da informação”. Conclusão: conclui-se que, para garantir uma equidade informacional, é necessário desenvolver políticas e práticas que promovam a inclusão como uma premissa de justiça social, e não como mera benevolência, viabilizando a participação com e para o protagonismo dos grupos marginalizados.
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