Resumo
Pensar a tradução como um perpassar e vivenciar por duas (ou mais) línguas significa mergulhar no vórtice que esse próprio ato produz. Traduzir – como teóricos, poetas e escritores já colocaram, dentre eles Italo Calvino – é o melhor modo de se ler um texto, pois o tradutor não tem o álibi do leitor comum, que pula as partes mais elípticas sem grandes preocupações. Refletir sobre um texto, por meio dessa confluência, significa escolher instrumentos e potências para adentrar, penetrar e fazer (per)viver o corpo e a voz do poema – mesmo que com alguns desvios. Nessa perspectiva, entende-se o gesto de tradução como um acontecimento no espaço do “entre”, uma experiência que se dá na-da-pela-língua e, portanto, um lugar de alteridades e de eticidade. A discussão será proposta através da tradução de um recente poema de Enrico Testa, uma das vozes mais representativas da poesia italiana contemporânea, publicado no volume Cairn, em 2018.Referências
AGAMBEN, Giorgio. La fine del pensiero. La fin de la pensée. Trad. Gérard Macé. Paris: La Nouveau Commerce, 1982.
AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Trad. e pref. João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1999.
AGAMBEN, Giorgio. O fogo e o relato: ensaios sobre criação, escrita, arte e livros. Trad. Andrea Santurbano e Patricia Peterle. São Paulo: Boitempo, 2018.
BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Trad. Susana Kapf Lages. In: HEIDERMANN, Werner (Org.). Clássicos da teoria da tradução. Florianópolis: UFSC – Núcleo de Pesquisas em Literatura e Tradução, 2010, pp. 202-231.
BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017.
BENVENISTE, Émille. Problemas de Linguística Geral. Trad. Maria da Glória Novak e Luiza Neri. São Paulo: Companhia Editora Nacional/Editora da Universidade de São Paulo, 1976.
BERMAN, Antoine. A tradução e a letras ou o albergue do longínquo. Trad. Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andréia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007.
BONDÌA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Trad. João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, abr. 2002, pp. 20-28. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf. Acesso em: 10 abr. 2018.
CALVINO, Italo. Saggi 1945-1985. Org. Mario Barenghi. V. II. Milano: Mondadori, 1995.
CALVINO, Italo. Mondo scritto e mondo non scritto. Milano: Mondadori, 2002.
CAPRONI, Giorgio. A porta morgana: ensaios sobre poesia e tradução. Trad. Patricia Peterle, pref. Enrico Testa. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017.
CASSIN, Barbara (org.). Vocabulaire européen des philosophies: dictionnaire desintraduisibles. Paris: Le Seuil, 2004.
CASSIN, Barbara. Éloge de la traduction: compliquer l’universel. Paris: Fayard, 2016.
DANTE. A divina comédia. Trad. Cristiano Martins. V. I. Belo Horizonte: Villa Rica, 1991.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2011.
JACQUES, Marcelo. Sobre a forma, o poema e a tradução. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017.
LARKING, Philip. The Complete Poems. Introduction and Commentary by Archie Burnett. Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2012.
MENEGHELLO, Helena Coimbra. Italo Calvino: um ponto de vista sobre o papel da tradução literária. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2011. Disponível em: http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Helena_Coimbra_Meneghello_-_Dissertacao.pdf. Acesso em: 9 abr. 2018.
MENEGHELLO, Helena Coimbra. Italo Calvino e o intricado jogo da tradução. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2016. Disponível em: http://www.pget.ufsc.br/curso/teses/Helena_Coimbra_Meneghello_-_Tese.pdf. Acesso em: 9 abr. 2018.
NANCY, Jean-Luc. Demanda: literatura e filosofia. Trad. João Camillo Penna, Eclair Antonio Almeida Filho e Dirlenvalder do Nascimento Loyolla. Florianópolis/Chapecó: Ed. UFSC/Argos, 2016.
OLIVEIRA, Claudio. Da intraduzibilidade como política. Revista Cult (on-line), São Paulo, 20 dez. 2016. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/daintraduzibilidade-como-politica/. Acesso em: 25 set. 2018.
PETERLE, Patricia. Em diálogo com Enrico Testa. Manuscrítica, São Paulo, n. 28, 2015, pp. 13-25. Disponível em: http://revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/view/2136/2146. Acesso em: 14 set. 2018.
PETERLE, Patricia. Vagando qua e là. La poesia di Enrico Testa. Nuova Corrente, n. 160, anno LXIV, 2017, pp. 125-132.
PETRY, Simone Christina. Éloge de la traduction: compliquer l’universel. Remate de Males, Campinas-SP, v. 37 n. 2, jul./dez. 2017, pp. 1.007-1.016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8650447. Acesso em: 14 set. 2018.
PRIGENT, Christian. Para que poetas ainda? Org. e trad. Inês Oseki-Dépré e Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2017.
RICOEUR, Paul. Sobre tradução. Trad. Patrícia Lavalle. Belo Horizonte: Editora UGMG, 2011.
TESTA, Enrico. Ablativo. Trad. Patricia Peterle, Andrea Santurbano e Silvana de Gaspari. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2014a.
TESTA, Enrico. Poesia aporética. [Entrevista a Patricia Peterle]. Subtrópicos, Florianópolis, n. 11, ago., 2014b, pp. 6-7.
TESTA, Enrico. Préface. In: LINDENBERG, Judith. Giorgio Caproni, poète-traducteur: le rôle de la traduction dans le processos créatif. Bruxelles: Peter Lang, 2014c.
TESTA, Enrico. A entrada do terceiro. Pessoa. Língua, poesia. In: PETERLE, Patricia; GASPARI, Silvana de (orgs.). Arquivos poéticos: desagregação e potencialidades do Novecento italiano. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015, pp. 22-42.
TESTA, Enrico. Páscoa de neve. Trad. Patricia Peterle. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2016.
TESTA, Enrico. Cairn. Torino: Einaudi, 2018.
O periódico Remate de Males utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.