“Deus é mudança”: os caminhos da ética e da ideologia religiosa nas distopias A parábola do semeador, de Octavia Butler, e O ano do dilúvio, de Margaret Atwood

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar os desdobramentos da ética dos romances distópicos A parábola do semeador (2018[1993]), de Octavia Butler, e O ano do dilúvio (2011b[2009]), de Margaret Atwood, de modo a entender quais os caminhos que levam sujeitos e sociedade a enfrentarem, no universo distópico, uma crise ética por conta do assujeitamento do indivíduo em instituições alinhadas à ideologia de Estado. Nas narrativas em questão, a religião se transforma num espaço de utopia para os personagens da distopia, e as respectivas instituições religiosas Semente da Terra e Jardineiros de Deus pregam, por meio de uma catequização, sua ideologia moral para abraçar os fiéis, tomando uma proporção ética considerável na vida dos sujeitos. Nas obras, a organização das religiões é similar à estruturação sistêmica de Estado e de sua administração indireta, em que há uma figura central de caráter divino a ser adorada, detentora do saber, da moral, e para a qual todos trabalham. Dessa maneira, percebe-se a ética no caminho ideológico de instituições que visam fortalecer um status de dominância sobre os indivíduos, afirmando, através da distopia social, suas fundamentações morais em nome de um ideal utópico de salvação e bem-estar da coletividade, fomentando o caos da distopia.