Resumo
É constante na obra de Murilo Mendes a crítica à ideia de trabalho. Se, por um lado, tal crítica coincide com aquela de Marx à alienação do trabalhador em seu produto, por outro Murilo, de maneira criticamente irônica, acaba por conceber o trabalho do poeta como uma espécie de mímese explicitadora – ao mesmo tempo que transfiguradora – deste processo de alienação e reificação. Do mesmo modo, o poeta compartilha da crítica marxista da mercadoria, sem, no entanto, abrir mão da energia implícita na lógica vertiginosa desta, tampouco da força plástica inerente a suas fantasmagorias. Com essa poética da ambivalência, de quem não crê em simples recusa ou abstenção frente à negatividade do real, Murilo parece buscar não fugir à história e à sua verdade.Referências
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