Resumo
Esse artigo teve como objetivo produzir um diálogo entre historiadores que pesquisaram, refletiram e escreveram sobre o tema da memória, dos silenciamentos e dos esquecimentos, em especial sobre os “vencidos” na História, confrontando-os criticamente com as produções de memorialistas que escreveram sobre a história do município de Valinhos, no interior do estado de São Paulo. Compreendendo que a memória é um instrumento de poder e luta política entre grupos sociais, identificamos a influência dos métodos historiográficos dos pesquisadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) sobre os autores valinhenses, cujas produções ofuscaram a memória dos povos originários e africanos escravizados. Como instrumento de poder, a memória construída produziu silenciamentos e buscou criar uma identidade europeia para o município.
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