Resumo
Gabrielly poderia passar despercebida, mas inscreveu sua história na brasilidade dos estudos sobre o universo trans. Com a beleza peculiar de sua feminilidade, objetivamos trazer questões pertinentes à filosofia da educação. Propomos acessar suas memórias de escolarização cujo itinerário formativo ocorreu, segundo Gabrielly em dois momentos, em unidades públicas educacionais do Oeste Paulista. Ancoramos a abordagem metodológica nos estudos pós-críticos em educação por se tratar de uma temática cara aos estudos da diferença articulada com o uso da educação como um projeto de ampliação da capacidade de sobrevivência para mulheres trans, cujos dados, cruelmente, apontam que representam um grupo fadado às políticas de morte. Como instrumento de coleta das memórias, utilizamos a arqueologia foucaultiana para compreender a construção feminina de Gabrielly. Não se apontou conclusões, mas inquietações filosóficas promotoras de novas práticas educacionais mais preocupadas com a responsabilidade, preservação e comoção pelas vidas trans cujo reflexo disso, afeta o ambiente escolar como um lugar de preocupação ético-política. Portanto, propomos a possibilidade de ruptura com os quadros de precarização de vidas travestis, transexuais e transgêneros.
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