Banner Portal
Política, pânico moral e mídia: controvérsias sobre os embargos infringentes do escândalo do Mensalão
PDF

Palavras-chave

Denúncia pública. Controvérsias. Embargos infringentes. Pânico moral. Mídia e política.

Como Citar

BARROS, Antonio Teixeira de; LEMOS, Cláudia Regina Fonseca. Política, pânico moral e mídia: controvérsias sobre os embargos infringentes do escândalo do Mensalão. Opinião Pública, Campinas, SP, v. 24, n. 2, p. 291–327, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8653387. Acesso em: 18 abr. 2024.

Resumo

Este artigo analisa as controvérsias midiáticas sobre os embargos infringentes do escândalo político do Mensalão. O pressuposto que guia a análise é que, com os jogos retóricos próprios do seu modo operatório de narrar o mundo político, a imprensa utilizou-se do enquadramento de pânico moral como pacote interpretativo para a cobertura do caso. O corpus reúne 150 textos publicados pelos principais jornais diários e revistas semanais brasileiros, no período de 12 a 19 de setembro de 2013, a semana do julgamento final do STF sobre os embargos. Os resultados mostram que a imprensa atuou como um ator moral na defesa do combate à corrupção política, questionando o direito à revisão das penas dos “mensaleiros”. Para isso acionou argumentos de autoridades e de especialistas, alinhados ao enquadramento de risco à sociedade e fragilização da democracia, associando o acolhimento dos embargos às representações de impunidade e desprezo pelo interesse público.
PDF

Referências

ALDÉ, A.; VASCONCELLOS, F. “Ao vivo, de Brasília: escândalo político, oportunismo midiático e circulação de notícias”. Revista de Ciências Sociais, vol. 39, nº 2, p. 61-69, 2008.

ALTHEIDE, D. L. Media logic. The international encyclopedia of political communication. London: Wiley Libray, 2016.

AVRITZER. L. “Sociedade civil, instituições participativas e representação: da autorização à legitimidade da ação”. Dados, vol. 50, nº 3, p. 443-464, 2007.

AZEVEDO, F. “Corrupção, mídia e escândalos midiáticos no Brasil”. Em Debate, vol. 2, n° 3, p. 14-19, 2010.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.

BARREIROS, T. E.; AMOROSO, D. “Jornalismo estrábico: Veja e Carta Capital na cobertura do ‘escândalo do Mensalão’”. Perspectivas de la Comunicación, vol. 1, n° 1, p. 120-131, 2014.

BARROS, A. T. “Sociologia da mídia: principais perspectivas e contrapontos”. Século XXI, vol. 5, n° 1, p. 186-222, 2015.

BARROS, A. T.; BERNARDES, C. B. “Matrizes culturais dos gêneros televisivos latino-americanos e as emissoras legislativas”. Vivência, n° 38, p. 15-32, 2011.

BARROS, A. T.; SOUSA, J. P. Jornalismo ambiental. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2010.

BATESON, G. A. A theory of play and fantasy. In: BATESON, G. A. (ed.). Steps to an ecology of mind. New York: Chandler, 1955.

BAUMAN, Z. A sociedade individualizada. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

BECKER, H. S. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008 [1963].

BERGAMO, A. “Reportagem, memória e história no jornalismo brasileiro”. Mana, vol. 17, n° 2, p. 233- 269, 2011.

BIROLI, F. “Técnicas de poder, disciplinas do olhar: aspectos da construção do ‘jornalismo moderno’ no Brasil”. História, vol. 26, n° 2, p. 118-143, 2007.

BIROLI, F.; MANTOVANI, D. “A parte que me cabe nesse julgamento: a Folha de S. Paulo na cobertura ao processo do ‘Mensalão’”. Opinião Pública, vol. 20, nº 2, p. 205-218, 2014.

BLIC, D. “La sociologie politique et morale de Luc Boltanski”. Raison Politique, vol. 3, n° 6, p. 149- 158, 2000.

BOLTANSKI, L. L'amour et la justice comme compétences: trois essais de sociologie de l'action. Paris: Métailié, 2000.

BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. De la justification: les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. “The sociology of critical capacity”. European Journal of Social Theory, vol. 2, nº 3, p. 359- 377, 2009.

BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

CARVALHO JÚNIOR, O. L. “Visibilidade midiática: mudança no jogo ou alternativa? Pesquisa comparativa entre os parlamentares do Brasil e da Alemanha”. Revista Sul-Americana de Ciência Política, vol. 3, n° 1, p. 110-131, 2015.

CHAUÍ, M. “O poder da mídia”. Observatório da Imprensa, nº 710, 04/09/2012. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed710_o_poder_da_midia . Acesso em: 16 jul. 2018.

COHEN, S. Folk devils and moral panics. London: MacGibbon & Kee, 1972.

COOK, T. E. Making laws and making news. Media strategies in the U.S. House of Representatives. Washington: The Brookings Institution, 1989.

COOK, T. E. “O jornalismo político”. Revista Brasileira de Ciência Política, n° 6, p. 203-247, 2011.

CRITCHER, C. Moral panics and the media: issues in cultural and media studies. London, McGraw-Hill, 2003.

CRITCHER, C. “Moral panic analysis: past, present and future”. Sociology Compass, vol. 2, n° 4, p. 1.127-1.144, 2008.

CRITCHER, C. “For a political economy of moral panics”. Crime, Media, Culture, vol. 7, n° 3, p. 259- 275, 2011.

DOSSE, F. O império do sentido: a humanização das ciências humanas. Bauru: Edusc, 2003.

DURÃO, S.; COELHO, M. C. “Morais do drama urbano: violência policial, discurso midiático e produção de contos morais”. Sociedade e Estado, vol. 29, nº 3, p. 921-940, 2014.

ELMELUND-PRÆSTEKÆR, C.; WIEN, C “What's the fuss about? The interplay of media hypes and politics”. The International Journal of Press, vol. 13, n° 3, p. 247-266, 2008.

ELMELUND-PRÆSTEKÆR, C.; HOPMANN, D. N.; NØRGAARD, A. S. “Does mediatization change MP-media interaction and MP attitudes toward the media? Evidence from a longitudinal study of Danish MPs”. The International Journal of Press/Politics, vol. 16, n° 3, p. 382-403, 2011.

ENTMAN, R. M. “Symposium framing US coverage of international news: contrasts in narratives of the KAL and Iran air incidents”. Journal of Communication, vol. 41, nº 4, p. 6-27, 1991.

ENTMAN, R. M. “Framing bias: media in the distribution of power”. Journal of Communication, vol. 57, n° 1, p. 163-173, 2007.

ESSER, F.; STRÖMBÄCK, J. (eds.). Mediatization of politics: understanding the transformation of Western democracies. London: Palgrave Macmillan, 2014.

ETTEMA, J. S.; GLASSER, T. L. “Narrative form and moral force: the realization of innocence and guilt through investigative journalism”. Journal of Communication, vol. 38, nº 3, p. 8-26, 1988.

FREIRE FILHO, J. “Mídia, estereótipo e representação das minorias”. Eco-Pós, Rio de Janeiro, vol. 7, n° 2, p. 45-65, 2004.

GAMSON, W.; MODIGLIANI, A. “Media discourse and public opinion on nuclear power”. American Journal of Sociology, vol. 95, n° 1, p. 1-37, 1989.

GITLIN, T. The whole world is watching: mass media in the making and unmaking of the new left. Berkeley: University of California Press, 1980.

GIUMBELLI, E. “Para além do ‘trabalho de campo’: reflexões supostamente malinowiskianas”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, vol. 17, nº 48, p. 91-107, 2002.

GOFFMAN, E. Frame analysis: an essay on the organization of experience. New York: Harper, 1974.

GOFFMAN, E.; GUINSBERG, L. Estigma: la identidad deteriorada. Buenos Aires: Amorrortu, 1970.

GOLDSTEIN, A. “La prensa brasileña y sus ‘cruzadas morales’: un análisis de los casos del segundo gobierno de Getúlio Vargas y el primer gobierno de Lula da Silva”. Dados, vol. 60, n° 2, p. 395-435, 2017.

GOMES, S. “A construção do pânico moral sobre os ciganos e os imigrantes na imprensa diária portuguesa”. Latitudes, vol. 7, n° 2, p. 187-217, 2013.

GOODE, E.; BEN-YEHUDA, N. “Moral panics: culture, politics, and social construction”. Annual Review of Sociology, n° 20, p. 149-171, 1994.

GRABER, D. A. Political communication: scope, progress, promise. In: FINIFTER, A. W. (org.). Political science: the state of the discipline II. Washington: American Political Science Association, p. 305-332, 1993.

GRABER, D. A. Media power in politics. Washington: Congressional Quarterly Press, 2010.

GRABER, D. A.; SMITH, J. M. “Political communication faces the 21st century”. Journal of Communication, vol. 55, n° 3, p. 479-507, 2005.

GUAZINA, L. S. “Jornalismo em busca da credibilidade: a cobertura adversária do Jornal Nacional no escândalo do Mensalão”. Brasília, 256 f. Tese de Doutorado em Comunicação. Universidade de Brasília, Brasília, 2011.

HAGEN, S. “O apagamento do correspondente estrangeiro no local do acontecimento telejornalístico: a passagem comensalista e a editorialização da notícia narrada à distância”. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 12, n° 1, p. 98-109, 2015.

HALL, S., et al. Policing the crisis: mugging, the State, and law and order. Londres: MacMillian Press, 1978.

HAYLE, S. J. “Folk devils without moral panics: discovering concepts in the sociology of evil”. International Journal of Criminology and Sociological Theory, vol. 6, n° 2, 2013.

LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemonía y estrategia socialista. Madri: Editorial Siglo XXI, 1985.

LANÇA, I. B. A configuração dos acontecimentos públicos. Coimbra: Minerva, 2006.

LASH, S. A reflexividade e seus duplos: estrutura, estética, comunidade. In: GIDDENS, A.; BECK, U.; LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da Unesp, p. 167-257, 2012.

LEMIEUX, C. Mauvaise presse: une sociologie compréhensive du travail journalistique et de ses critiques. Paris: Métailié, 2000.

LEMIEUX, C. La subjectivité journalistique: onze leçons sur le rôle de l’individualité dans la production de l’information. Paris: Éditions EHESS, 2010.

LUNDBY, K. (ed.). Mediatization: concept, changes, consequences. New York: Peter Lang, 2009.

MACHADO, C. “Pânico moral: para uma revisão do conceito”. Interacções, vol. 4, n° 7, p. 60-80, 2004.

MADEIRA, L. M.; ENGELMANN, F. “Estudos sociojurídicos: apontamentos sobre teorias e temáticas de pesquisa em sociologia jurídica no Brasil”. Sociologias, vol. 15, nº 32, p. 182-209, 2013.

MÁXIMO, H. C. “A presença da mídia na ação política: evidências de uma influência discursiva”. Brasília, 121f. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

MENDONÇA, R. F.; SIMÕES, P. G. “Enquadramento: diferentes operacionalizações analíticas de um conceito”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 27, n° 79, p. 188-235, 2012.

MENDONÇA, R. F.; FREITAS, F. V.; OLIVEIRA, W. M. “Reciprocidade discursiva, enquadramento e deliberação: a consulta pública sobre reforma política da ALMG”. Análise Social, vol. 49, n° 211, p. 244-271, 2014.

MIGUEL, L. F.; COUTINHO, A. A. “A crise e suas fronteiras: oito meses de ‘Mensalão’ nos editoriais dos jornais”. Opinião Pública, vol. 13, n° 1, 97-123, 2007.

MISKOLCI, R. Estética da existência e pânico moral. In: RAGO, M; VEIGA NETO, A. (orgs). Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, p. 101-128, 2007.

NEUMAN, E. La espiral del silencio. Barcelona: Paidós, 1995.

NOLETO FILHO, P. A. Mídia e política na imagem do Congresso Nacional. Brasília: Edições Câmara, 2014.

NOVELLI, A. L. C. R. Imagens cruzadas: a opinião pública e o Congresso Nacional. Brasília: Edições do Senado Federal, 1999.

OLIVEIRA, E. S. “O sistema político brasileiro hoje: o governo do Supremo Tribunal Federal e a legitimidade democrática”. Sociologias, ano 15, n° 33, p. 206-246, 2013.

RODRIGUES, M. R. Imprensa e Congresso ou como a mídia pauta a política. Brasília: Edições Câmara, 2002.

ROSANVALLON, P. La contre-démocratie: la politique à l’âge de la défiance. Paris: Éditions du Seuil, 2006.

SCHWAAB, R. T.; TAVARES, F. M. B. “O tema como operador de sentidos no jornalismo de revista”. Galáxia, n° 18, p. 180-193, 2009.

SEMETKO, H. A.; VALKENBURG, P. M. “Framing European politics: a content analysis of press and television news”. Journal of communication, vol. 50, n° 2, p. 93-109, 2000. STRÖMBÄCK, J. “Four phases of mediatization: an analysis of the mediatization of politics”. The International Journal of Press/Politics, vol. 13, n° 3, p. 228-246, 2008.

TAVARES, F. M. B.; SCHWAAB, R. A revista e seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013.

THÉVENOT, L. L'action au pluriel: sociologie des régimes d'engagement. Paris: La Découverte, 1998.

THOMPSON, K. Moral panics. London, Routledge, 1998.

TUCHMANN, G. Making news: a study in the construction of reality. New York: The Free Press, 1978. WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1995.

WOLFSFELD, G. Making sense of media and politics. New York: Routledge, 2011.

VANDENBERGUE, F. “Construção e crítica na nova sociologia francesa”. Sociedade e Estado, vol. 21, n° 2, p. 315-366, 2006.

VASCONCELLOS, F. “Os enquadramentos do Jornal Nacional sobre Lula e o escândalo do ‘Mensalão’”. Compolítica, vol. 4, n° 1, p. 81-118, 2014.

VIMIEIRO, A. C.; MAIA, R. C. M. “Análise indireta de enquadramentos da mídia: uma alternativa metodológica para a identificação de frames culturais”. Revista Famecos, vol. 18, n° 1, p. 235-252, 2011.

A Opinião Pública utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.

Downloads

Não há dados estatísticos.