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Gênero e humor nas redes sociais: a campanha contra Dilma Rousseff no Brasil
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Palavras-chave

Dilma Rousseff. Gênero. Humor. Redes sociais. Representação política.

Como Citar

CARNIEL, Fagner; RUGGI, Lennita; RUGGI, Júlia de Oliveira. Gênero e humor nas redes sociais: a campanha contra Dilma Rousseff no Brasil. Opinião Pública, Campinas, SP, v. 24, n. 3, p. 523–546, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8654293. Acesso em: 18 abr. 2024.

Resumo

Este artigo tem como corpus analítico um conjunto de 69 memes contrários a Dilma Rousseff que viralizaram na web brasileira entre junho de 2014 e agosto de 2016 e investiga os conteúdos mobilizados durante a campanha pública em favor do golpe parlamentar ocorrido no Brasil em 2016. A análise dessas produções, enquanto ferramentas nas disputas políticas que culminaram no golpe, é uma forma de interpretar as dinâmicas contemporâneas da política brasileira e o próprio lugar conferido à figura da mulher e do feminino no espaço público. O acervo coletado revela que a comicidade se constrói, em larga medida, sobre as desigualdades de gênero e, ao não problematizar tal enquadramento subjacente, o reforça. Enquanto estratégia analítica, propomos a classificação dos memes em quatro chaves interpretativas inspiradas na teoria política feminista: (1) despersonalização ou invisibilização; (2) humilhação ou ridicularização; (3) objetificação ou sexualização; e (4) agressão ou violência. Ao identificar os dispositivos que sustentam a comicidade a partir de parâmetros discursivos compartilhados, a pesquisa demonstra como a dimensão generificada do humor político mobilizou estereótipos sexistas e misóginos que não apenas atingiram Dilma Rousseff, mas reforçaram o próprio lugar simbólico das mulheres na política nacional.
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