Banner Portal
Pluralização da representação política e legitimidade democrática: lições das instituições participativas no Brasil
PDF

Palavras-chave

Representação. Democracia. Legitimidade. Instituições participativas

Como Citar

ALMEIDA, Debora Rezende. Pluralização da representação política e legitimidade democrática: lições das instituições participativas no Brasil. Opinião Pública, Campinas, SP, v. 20, n. 1, p. 96–117, 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8641542. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

A redemocratização brasileira alterou profundamente as relações entre Estado e sociedade e o casamento entre representação e democracia. As mudanças não ficaram restritas à representação eleitoral e estatal, mas atingiram a esfera de atuação da sociedade civil. A incorporação direta dos cidadãos no processo decisório é uma das mais significativas inovações na democratização do Brasil. Este artigo defende que a nova arquitetura institucional que amplia os canais de conexão entre Estado e sociedade inaugura um novo momento da representação política no país. Atores sociais representam em conjunto com agentes governamentais interesses da sociedade em relação a determinado tipo de política pública, mas sem se tornar Estado, e, viceversa. Para compreensão dos potenciais democratizantes dessas transformações, este artigo propõe, baseado no debate internacional, uma releitura do conceito de representação política, bem como dos seus critérios de legitimidade, a saber, accountability e responsividade. Em seguida, destaca as especificidades da representação nas instituições participativas brasileiras. Argumenta que sua inserção institucional e interseção com arenas estatais e societais são características que impactam o exercício da accountability e da responsividade.

 

Abstract:

Brazilian redemocratization has profoundly transformed the relations between State and society and the marriage between democracy and representation. The changes were not restricted to electoral and state representation, but reached civil society’s spheres of action. The direct incorporation of citizens into policymaking processes is one of the most significant innovations of democratization in Brazil. This article argues that the new institutional architecture that expands the connections between State and society inaugurates a new moment of political representation in the country. Here, social actors represent along with government agents the interests of society in relation to certain types of public policy, without being incorporated by the state, and vice versa. In order to understand the democratizing potentials of these transformations, this paper proposes, based on international debates, a reinterpretation of the concept of political representation, as well as its criteria of legitimacy, namely, accountability and responsiveness. In addition, the paper highlights the specificities of representation in Brazilian participatory institutions. It argues that its institutional placement and intersection with state and societal arenas are characteristics that influence the practice of accountability and responsiveness.

Keywords: representation; democracy; legitimacy; participatory institutions

PDF

Referências

ABERS, R; KECK, M. E “Representando a diversidade: Estado, sociedade e ‘relações fecundas’ nos conselhos gestores”. Caderno CRH, Salvador, vol. 21, n˚. 52, p. 99-112, jan./abr. 2008a.

ABERS, R; KECK, M. “The collective constitution of representative authority in Brazilian river basin Committees”. Conference Rethinking Representation: A North South Dialogue. Bellagio, Bellagio: Bellagio Study and Conference Center, mimeo, 2008b.

ALMEIDA, D. R. “Repensando representação política e legitimidade democrática: entre a unidade e a pluralidade”. Tese de Doutorado em Ciência Política. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

ALMEIDA, D. R. “A relação contingente entre representação e legitimidade democrática sob a perspectiva da sociedade civil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28, n˚ 82, p. 45-66, jun. 2013.

ALVAREZ, S. E.; DAGNINO, E.; ESCOBAR, A. (Org.). Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

ARAUJO, C. “Representação, soberania e a questão democrática”. Revista Brasileira de Ciência Política. Brasília, n˚ 1, p.47-61, jan./jun. 2009.

AVRITZER, L. O orçamento participativo e a teoria democrática: um balanço crítico. In: ______.; NAVARRO, Z. (Org.). A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.

AVRITZER, L. “Sociedade civil, instituições participativas e representação: da autorização à legitimidade da ação”. Dados - Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, vol. 50, n˚ 3, p. 443-464, 2007.

AVRITZER, L. Participatory institutions in democratic Brazil. Washington, D.C.; Baltimore: Woodrow Wilson Center; John Hopkins University, 2009.

BROWN, M.B. “Survey Article: citizen panels and the concept of representation”. The Journal of Political Philosophy, vol.14, n˚ 2, p. 203-225, 2006.

CASTIGLIONE, D.; WARREN, M. E. “Rethinking democratic representation: eight theoretical issues”. Rethinking Democratic Representation Workshop. Columbia, University of British Columbia, 2006. Disponível em: <http://www.politics.ubc.ca/fileadmin/user_upload/poli_sci/Faculty/warren/Rethinking_Democratic_Representation_M ay_2006.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.

CÔRTES, S. M. V. Participação de usuários nos conselhos municipais de saúde e de assistência social de Porto Alegre. In: PERISSINOTTO, R.; FUKS, M. (org.). Democracia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Curitiba: Fundação Araucária, 2002.

CUNHA, E. S. M. Efetividade deliberativa de conselhos de Assistência Social. Jundiaí: Paco Editorial, 2013.

CUNHA, E. S. M.; ALMEIDA, D. R. “Sociedade civil e representação nas arenas deliberativas da Assistência Social no Brasil”. XXXI Congress of the Latin American Studies Association. Washington D.C., 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 set. 2013.

DAGNINO, E. (org.). Anos 90: política e sociedade no Brasil. 2ª reimp. São Paulo: Brasiliense, 2004.

DRYZEK, J. “Legitimacy and economy in deliberative democracy”. Political Theory, vol. 29, n˚ 5, p. 651-669, 2001.

DRYZEK, J.; NIEMEYER, S. “Discursive representation”. American Political Science Review, vol. 102 n˚ 4, p.481-493, 2008.

FARIA, C. F. Sobre os determinantes das políticas participativas: a estrutura normativa e o desenho institucional dos conselhos municipais da saúde e de direitos da criança e do adolescente no Nordeste. In: AVRITZER, L.(org.). A participação social no Nordeste. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

FARIA, C. F.; SILVA, V. P.; LINS, I. L. “Conferências de políticas públicas: um sistema integrado de participação e deliberação?”. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n˚ 7, p. 249-284, 2012.

FISHKIN, J. When the people speak: deliberative democracy and public consultation. Oxford: Oxford University, 2009.

FOX, J. “Civil Society and political accountability: propositions for discussion”. Institutions, Accountability and Democratic Governance in Latin America. The Helen Kellogg Institute for International Studies University of Notre Dame, May 8-9, 2000. Disponível em: < http://kellogg.nd.edu/faculty/research/pdfs/Fox.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2012.

FOX, J. Accountability politics: power and voice in Rural Mexico. Oxford, UK: Oxford University, 2007.

FUKS, M.; PERISSINOTTO, R. “Recursos, decisão e poder: conselhos gestores de políticas públicas de Curitiba”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 21, n˚ 60, p. 67- 81, fev. 2006.

FUNG, A. Receitas para esferas públicas: oito desenhos institucionais e suas consequências. In: COELHO, V. S. P.; NOBRE, M. (orgs.). Participação e deliberação: teoria democrática e experiências institucionais no Brasil contemporâneo. São Paulo: Editora 34, 2004.

HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade, 2° vol. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

HENDRIKS, C. “Integrated Deliberation: Reconciling civil society’s dual role in deliberative democracy”. Political Studies, vol. 54, n˚ 3, p. 486-508, 2006.

IPEA. “Conselhos Nacionais: Perfil e atuação dos conselheiros”. Relatório Final de Pesquisa, 2013. Disponível em: <http://ipea.gov.br/participacao/estudos-do-ipea/conselhosnacionais>. Acesso em: 20 jan. 2014.

KECK, M. E. PT: a lógica da diferença - o Partido dos Trabalhadores na construção da democracia brasileira. São Paulo: Ática, 1992.

KECK, M. E. Governance regimes and the politics of discursive representation. In: PIPER, N.; UHLIN, A. (Ed.). Transnational activism in Asia: problems of power and democracy. London: Routledge, 2003, p. 43-60.

KNIGHTS, M. Participation and representation before democracy: petitions and addresses in premodern Britain. In: SHAPIRO, I. et al (eds.). Political representation. Cambridge: Cambridge University, 2009.

LAVALLE, A. G.; ARAUJO, C. “O debate sobre a representação política no Brasil: nota introdutória”. Caderno CRH, Salvador, vol. 21, n˚ 52, p. 9-12, jan./abr. 2008.

LAVALLE, A. G; HOUTZAGER, P; CASTELLO, G. “Democracia, pluralização da representação e sociedade civil”. Lua Nova, São Paulo, n° 67, p. 49-103, 2006a. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 15 mar. 2008.

LAVALLE, A. G; HOUTZAGER, P; CASTELLO, G. “Representação política e organizações civis: novas instâncias de mediação e os desafios da legitimidade”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, vol. 21, n˚ 60, p. 44-66, 2006b. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 05 jan. 2008.

LAVALLE, A, G.; ISUNZA VERA, E. Precisiones conceptuales para el debate contemporâneo sobre la innovación democrática: participación, controles sociales y representación. In: ______. (org.). La innovación democrática en América Latina: tramas y nudos de la representación, la participación y el controle social. México: CIESAS, Universidad Veracruzana, 2010, p. 19-82.

LAVALLE, A, G.; ISUNZA VERA,. “A trama da crítica democrática: da participação à representação e à accountability”. Lua Nova, n˚ 84, p.95-139, 2011.

LÜCHMANN, L. H. H. “Associações, participação e representação: combinações e tensões”. Lua Nova, n˚ 84, p. 141-174, 2011.

LÜCHMANN, L. H. H. “Inclusão, accountability e representação nas instituições de controle social: dimensões da deliberação democrática”. II Colóquio Internacional de Teoria Política. São Paulo, USP, mimeo, 2012.

MANIN, B. The principles of representative government. Cambridge: Cambridge University, 1997 (impressão de 2002).

MELO, C. R. Reforma política em perspectiva comparada na América do Sul. In: AVRITZER, L.; ANASTASIA, F. (org.). Reforma política no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

MENDONÇA, R.F. “Representation and deliberation in civil society”. Brazilian Political Science Review, vol. 2, n˚ 2, p.117-37, 2008.

MENDONÇA, R.F. “Democracia discursiva: contribuições e dilemas da abordagem deliberativa do grupo australiano”. BIB, n° 69, p.59-77, 1º sem. 2010.

MENEGUELLO, R. Partidos e tendências de comportamento: o cenário político de 1994. In: DAGNINO, E. (org.). Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004.

MICHELS, R. Sociologia dos partidos políticos. Tradução de Arthur Chaudon. Brasília: Universidade de Brasília, 1982.

MIGUEL, L. F. “Impasses da accountability: dilemas e alternativas da representação política”. Revista de Sociologia e Política, n˚ 25, p. 25-38, 2005.

MIGUEL, L. F. “Representação democrática: autonomia e interesse ou identidade e advocacy”. Lua Nova, São Paulo, vol. 84, p.353-364, 2011.

NICOLAU, J. História do voto no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

PARKINSON, J. “Legitimacy problems in deliberative democracy”. Political Studies, vol. 51, p. 180-196, 2003.

PARKINSON, J.; MANSBRIDGE, J. Deliberative systems: deliberative democracy at the large scale. Cambridge: Cambridge University, 2012.

PINTO, C. R. J. “Espaços deliberativos e a questão da representação”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 19, n˚54, p. 97-113, 2004.

PITKIN, H. F. The concept of representation. Berkeley: University of California, 1967.

REIS, F. W. “As eleições e o problema institucional”. Dados - Revista Brasileira de Ciências Sociais, n˚ 14, p. 164-210, 1977.

ROSANVALLON, P. La legitimidad democrática: imparcialidad, reflexividad, proximidad. Buenos Aires: Manantial, 2009.

SAWARD, M. “The representative claim”. Contemporary Political Theory, n˚ 5, p. 297-318, 2006.

SAWARD, M. The wider canvas: representation and democracy in state and society. In: ALONSO, S. et al (ed.). The future of representative democracy. Cambridge: Cambridge University, 2011, p. 74-95.

SKINNER, Q. “Hobbes on representation”. European Journal of Philosophy, vol. 13, n˚ 2, p. 155-184, 2005.

TATAGIBA, L. Os conselhos gestores e a democratização das políticas públicas no Brasil. In: DAGNINO, E. (org.). Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

URBINATI, N. Representative democracy. Chicago: University of Chicago, 2006a.

URBINATI, N. “O que torna a representação democrática?” Lua Nova, vol. 67, p. 191-228, 2006b.

URBINATI, N. Representative democracy and its critics. In: ALONSO, S. et al (ed.). The future of representative democracy. Cambridge: Cambridge University, 2011.

URBINATI, N. N.; WARREN, M. E. “The concept of representation in contemporary democratic theory”. Annual Review of Political Science. n˚ 11, p. 387-412, 2008.

VIANNA, L. W. Liberalismo e sindicato no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

VIEIRA, M. B.; RUNCIMAN, D. Representation. Cambridge: Polity, 2008.

WAMPLER, B. Transformando o Estado e a sociedade civil por meio da expansão das comunidades - política, associativa e de políticas públicas. In: AVRITZER, L. (org.). A dinâmica da participação local no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.

WAMPLER, B. Instituições participativas como “enxertos” na estrutura do Estado: a importância de contextos, atores e suas estratégias. In: PIRES, R. R. C. (Org.). A efetividade das instituições participativas no Brasil: perspectivas, abordagens e estratégias de avaliação. Brasília: IPEA, 2011.

WAMPLER, B.; AVRITZER, L. “Participatory Publics: Civil Society and New Institutions in Democratic Brazil”. Comparative Politics, vol. 36, n˚ 3, p. 291-312, Apr. 2004.

YOUNG I. M. Inclusion and democracy. Oxford: Oxford University, 2000.

A Opinião Pública utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.

Downloads

Não há dados estatísticos.