Resumo
Este trabalho busca apresentar uma possibilidade teórica inovadora em relação aos estudos de contato linguístico com ênfase em questões étnicorraciais e históricas e em diálogo com a espiritualidade. Objetiva-se propor um caminho de análise e observação linguística transdisciplinar, que compreende o necessário aprofundamento científico entre racialidade negra e linguagem, haja vista o pilar fundamental para se entender as africanidades seja conceber sua religiosidade ancestral. A base teórico-metodológica desta investigação dialoga com o método autoetnográfico (Ellis, 2004), com a concepção de língua ritual e língua de santo (Pessoa de Castro, 1980; Bordieu, 1982; Póvoas, 1989) e os estudos contracoloniais (Bispo, 2007), também denominados decoloniais/descoloniais por possuírem uma base comum relacionada ao destaque de olhares do sul global. Essa perspectiva linguística está intimamente relacionada a vertentes da Sociolinguística, como Sociologia da Linguagem e Etnolinguística. No entanto, avança e se diferencia dessas ao focalizar o par língua-espiritualidade, que nada corresponde à ciência da religião, mas sim à intersubjetividade de corpos que compartilham práticas e representações coletivas que se mantém em resistência, mesmo após o maior genocídio racial da humanidade. Dessa maneira, ao se debruçar em territórios afrodiaspóricos brasileiros (terreiros, quilombos, favelas e escolas de samba), será possível construir um acervo de materiais para diversas áreas de conhecimento, rompendo com modelos investigativos eurocêntricos (cartesiano e positivista). Por fim, espera-se que estas pesquisas africanistas da linguagem, em longo prazo, possam minimizar o racismo acadêmico que há na ciência, promovendo a heterogeneidade dos sujeitos e sendo referência ao fomento das manifestações linguístico-culturais negras.
Referências
BISPO, Antonio. (2007). Colonização, Quilombos. Modos e Significações. Brasília: INCTI/UnB.
BOCHNER, Arthur. (2014). Coming to narrative: A personal history of paradigm change in the human sciences. Walnut Creek, CA: Left Coast Press.
BONVINI, Emilio. (2014). Línguas africanas e português falado no Brasil. In PETTER, M; FIORIN, J. (org). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, p. 15-60.
BOURDIEU, Pierre. (1982). Ce que parler veut dire: l’économie des échanges linguistiques. Arthème Fayard. Tradução de Sérgio Miceli. São Paulo: EDUSP, 1996.
CHANG, Heewon. (2022). Individual and Collaborative Autoethnography for Social Science Research. In ADAMS, Tony, HOLMAN JONES, Stacy Linn, ELLIS, Carolyn. Handbook of Autoethnography. 2ª ed. New York: NY, Routledge, p. 53-66.
CRISTOVAO, Leandro. (2018). Dizer-se. Narrar-se. Etnografar-se. Veredas, v. 22, n. 1, p. 264-270.
ELLIS, Carolyn; ADAMS, Tony; BOCHNER, Arthur. (2011). Autoethnography: an overview. Historical Social Research, v. 36, p. 273-290.
FANON, Franz. (1968). Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
GOLDSCHMIDT, Walter Rochs. (1977). Anthropology and the coming crisis. An autoethnographic appraisal. American Anthropologist, v. 79, n.1, p. 293-308.
HAYANO, David M. (1979). Auto-Ethnography: Paradigms, problems and prospects. Human Organization. v. 38, p.113-120.
HEIDER, Karl. (1975). What do people do? Dani auto-ethnography. Journal of Antropological Research. v. 31, p. 3-17.
PESSOA DE CASTRO, Yeda. (1980). Os falares africanos na interação social do Brasil Colônia. Salvador: UFBA/CEAO.
PESSOA DE CASTRO, Yeda. (2001). Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Bahia: Editora da UFBA.
PÓVOAS, Ruy. (1989). A linguagem do candomblé: níveis sociolinguísticos da integração afro-portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio.
PÓVOAS, Ruy. (2002). A fala do santo. Ilhéus: Editus.
SOUZA SANTOS, Boaventura. (1995). Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2024 Davidson Martins Viana Alves