Resumo
Um dos autores presentes neste número lembra a frase de Virginia Woolf: as mulheres não são obedientes, castas, perfumosas e caprichosamente enfeitadas por natureza. Algumas das convenções mencionadas deixaram de ter validade como parte da definição do que é ser feminina, outras, novas, foram criadas para substituí-las, mas continua a existir um investimento social muito grande para fazer com que as marcas de masculinidade e feminilidade, sejam quais forem, pareçam emergir naturalmente nos corpos femininos e masculinos. Tomemos o exemplo dos intersexuais: o assunto, que nunca foi discutido pelas ciências sociais no Brasil, a despeito de ser uma prática médica aqui vigente há muitos anos, é trazido ao debate de gênero por Paula Machado e Mauro Cabral. Ambos mostram, de maneira bem clara, como as convenções heterossexuais impregnam as decisões médicas de tal modo que fora do modelo binário masculino/feminina parece não haver salvação. Nesse caso, tal modelo é desenhado a bisturi nos corpos das crianças nascidas, como diz o jargão médico, com sexo ambíguo, de modo que elas pareçam naturalmente masculinas ou femininas. Já as drag queens, sem bisturi, mas com muita imaginação, como mostra Anna Paula Vencato, transformam seus atributos herdados em atributos escolhidos, não nas salas de cirurgia, mas no camarim. Sugiro aos leitores que usem as tiras do cartunista Laerte, sobre Hugo se montando como Muriel, publicadas há algum tempo na Folha Informática, como ilustração desse artigo. Sugiro também que se leve a sério o comentário de uma das participantes da Nona Parada GLBT em São Paulo sobre a existência de drag kings – quase nunca tematizadosDownloads
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