Resumo
Este artigo se volta a analisar alguns elementos recorrentes que se fizeram presentes nos relatos de campo ao longo de minha etnografia para o doutorado em Antropologia Social na Unicamp. Meus contatos de campo foram homens entre os 45 e os 70 anos de idade que mantinham práticas sexuais homoeróticas e/ou que se identificavam como homossexuais. Os relatos reincidentes enfocavam as lidas com pressões sociais em prol da realização de determinados marcos biográficos tidos como heterossexuais e convencionados como imprescindíveis para se alcançar a felicidade e a plenitude no ínterim do curso da vida. Em um diálogo com uma vertente contemporânea dos estudos queer estadunidenses, a qual costuma ser chamada de tempo queer e temporalidades queer, – e ao mesmo tempo apresentando uma revisão desses debates – problematizo criticamente o modo como as transições entre os distintos períodos da vida são concebidas, em especial como são imaginadas e convencionadas. Por fim, a partir dessas análises de campo e diálogos teóricos, proponho a noção de teleologias heteronormativas de modo a desenvolver o debate acerca das bases prescritivas heterossexuais que tendem a fundamentar persuasivamente o modo como o curso da vida – em suas transições e em sua totalidade – é compreendido e negociado no contemporâneo.
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