Resumo
Este artigo analisa aspectos relacionados à produção e à recepção de imagens de empregadas domésticas na televisão brasileira, discutindo, em especial, a telenovela Cheias de Charme (Globo, 2012, 19h30). Apresentando três empregadas domésticas como protagonistas, essa novela incorporou transformações associadas a essas trabalhadoras ao encenar o movimento de ascensão social para a chamada “classe C”, processo socioeconômico adensado na primeira década dos anos 2000. Nesse contexto, este artigo discute como a telenovela relacionou empregadas domésticas, mobilidade social e “autoestima”, revalorizando essas trabalhadoras para, no mesmo passo, reconstruir o discurso sobre mulheres das classes populares enquanto consumidoras.Referências
ALMEIDA, Heloisa Buarque de. Telenovela, Consumo e Gênero: “muitas mais coisas”. Bauru, Edusc, 2003.
ALMEIDA, Heloisa Buarque de. Consumidoras e heroínas: gênero na telenovela. Revista Estudos Feministas, v.15, 2007, p.177-92.
ALMEIDA, Heloisa; MACEDO, Renata. Discursos sobre a novela classe média na mídia: classe, gênero e raça em intersecção. In: 39° Encontro Anual da Anpocs, outubro de 2015, Caxambu-MG.
ANG, Ian. Living room wars: rethinking media audiences for a postmodern world. Londres e Nova Iorque, Routledge, 1996.
ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Ed. Senac. 2004.
BARTELT, Dawid (org). A “nova classe média” no Brasil como conceito e projeto político. Rio de Janeiro, Fundação Heinrich Böll, 2013.
BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. São Paulo, Edusp, 2007.
BRITES, Jurema. Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores. cadernos pagu (29), Campinas, Núcleo de Estudos de Gênero- Pagu/Unicamp, 2007, pp.91-109.
BRITES, Jurema; PICANÇO, Felícia. O emprego doméstico no Brasil em números, tensões e contradições: alguns achados de pesquisas. Revista Latino-americana de estudos do trabalho, ano 19, n° 31, 2014, pp.131-158.
COSTA, Cristina. A milésima segunda noite: da narrativa mítica à telenovela. São Paulo, AnnaBlume, 2000.
ESCOURA, Michele. Girando entre princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social), Universidade de São Paulo, 2012.
FELTRIN, Ricardo. Globo muda telejornal para tentar salvar ibope e atrair classe C. Folha de S. Paulo, 22 jun. 2011 [http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/933102-globo-mudatelejornal-para-tentar-salvar-ibope-e-atrair-classe-c.shtml – acesso em: 11 abr. 2013].
FONSECA, Claudia. O anonimato e o texto antropológico: dilemas éticos e políticos da etnografia “em casa”. In: SCHUCH; VIEIRA; PETERS (orgs). Experiências, dilemas e desafios do fazer etnográfico contemporâneo. Porto Alegre, Ed. da UFRGS, 2010, pp.205-227.
FRY, Peter. Política: relações entre “raça”, publicidade e produção da beleza no Brasil. In: FRY, Peter. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África Austral. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005, pp.249-271.
GLOBO. Cheias de charme: uma homenagem a mulher guerreira de todas as classes. Site Globo.com. 04/04/2012 [http://tvg.globo.com/novelas/cheias-de-charme/Fique-pordentro/noticia/2012/04/cheias-de-charme-uma-homenagem-mulherguerreira-de-todas-classes.html– acesso em: 08 abr. 2012.
GRIMM, Jacob; GRIMM, Wilhelm. Contos maravilhosos infantis e domésticos – 1812-1815. São Paulo, Cosac Naify, 2012.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003.
HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 2005.
HAMBURGER, Esther. A vingança da empregadinha. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 29 jul 2012 [http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-vingancada-empregadinha,907513,0.htm – acesso em: 07 mar. 2013].
HIRATA, Helena. Subjetividade e sexualidade no trabalho de cuidado. cadernos pagu (46), Campinas, Núcleo de Estudos de GêneroPagu/Unicamp, jan-abril de 2016, pp.151-163.
IG. As melhores e as piores audiências das novelas das 19h. 16/06/2012. [http://gente.ig.com.br/2012-06-16/as-melhores-e-as-pioresaudiencias-das-novelas-das 19h.html – acesso em: 07 mar. 2013].
JIMENEZ, Keila. Atrás da classe C, TV fatura 12% a mais no semestre. Folha de S. Paulo, São Paulo, 09 jul 2012 [http://www1.folha.uol.com.br/colunas/outrocanal/1117251-atras-daclasse-c-tv-fatura-12-a-mais-no-semestre.shtml – acesso em: 11 abr.2013].
KOFES, Suely. Mulher, mulheres: identidade, diferença e desigualdade na relação entre patroas e empregadas domésticas. Campinas, Editora da Unicamp, 2001.
LIMA, Marcia; REZENDE, Claudia. Linking gender, class and race in Brazil. Social Identities, vol. 10, n° 6, 2004, pp.757-773.
MACEDO, Renata Mourão. Espelho mágico: empregadas domésticas, consumo e mídia. Dissertação (Mestrado em Antropologia), Universidade de São Paulo, 2013.
MACEDO, Renata Mourão. Trabalho doméstico, consumo e interseccionalidade: possibilidades de agência na trajetória de uma (ex) empregada doméstica. Revista Mediações, vol. 20, Londrina, 2015, pp.184-207.
MARINHEIRO, Vaguinaldo. Todos querem tirar a nova classe média para dançar. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 jul. 2012 [http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1119929-todos-queremtirar-a-nova-classe-media-para-dancar.shtml – acesso em: 11 abr. 2013].
MELO, Max. Dia de empreguete, véspera de madame: permanências e rupturas na construção da personagem doméstica em Cheias de Charme. In: XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, 05 a 9 de set. 2016, São Paulo, SP.
MICELI, Sergio. A Noite da Madrinha e outros ensaios sobre o éter nacional. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.
MIRA, Maria Celeste. O circo eletrônico: Silvio Santos e o SBT. São Paulo, Edições Loyola; Ed. Olho D’água, 1995.
MEMÓRIA Globo. Guia ilustrado TV Globo: novelas e minisséries. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2010.
MOUTINHO, Laura. Razão, “cor” e desejo: uma análise comparativa sobre relacionamentos afetivo-sexuais “inter-raciais” no Brasil e na África do Sul. São Paulo, Ed. Unesp, 2003.
NATELINHA. Cheias de Charme bate recorde de audiência no Rio de Janeiro. 18 jul. 2012
[http://natelinha.uol.com.br/noticias/2012/07/18/cheias-de-charmebate-recorde-de-audiencia-no-rio-de-janeiro-162342.php – acesso em: 07 mar. 2013].
NERI, Marcelo (coord). A nova classe média: o lado brilhante dos pobres. Rio de Janeiro, FGV/CPS, 2010 [http://www.cps.fgv.br/ibrecps/ncm2010/NCM_Pesquisa_FORMATADA.pdf – acesso em: 02 set 2016].
PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, vol. 11, n° 2, jul/dez 2008, pp.263-274.
REZENDE, Claudia B. A empregada na televisão: uma pequena análise sobre representações. Cadernos de Antropologia e Imagem, vol. 5(2). 1997.
SAFFIOTI, Heleieth. Emprego doméstico e capitalismo. Petrópolis, Ed. Vozes, 1978.
SCALON, Celi; SALATA, André. Uma nova classe média no Brasil da última década? O debate a partir da perspectiva sociológica. Revista Sociedade e Estado, vol. 27, n° 2, 2012, pp.387-407.
SINGER, André. Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador. São Paulo, Companhia das Letras, 2012.
SOARES, Pedro. Doméstico pesa mais no gasto das famílias. Folha de São Paulo, São Paulo, 02 mar. 2014 [http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/03/1420008-sdomestico-pesa-mais-no-gasto-das-familias.shtml – acesso em: 14 mar. 2014].
SOUZA, Jessé. Os batalhadores brasileiros: nova classe média ou nova classe trabalhadora? Belo Horizonte, Ed. UFMG; Humanitas, 2010.
STYCER, Mauricio. Globo muda programação para atender a nova classe C. 09 maio 2011 [http://televisao.uol.com.br/ultimas-cadernos pagu (48), 2016:e164817 Renata Mourão Macedonoticias/2011/05/09/globo-muda-programacao-para-atender-a-novaclasse-c.jhtm
– acesso em:11 abr. 2013].
VARELA, Mirta. Recepción. In: ALTAMIRANO, Carlos (org.) Terminos críticos de sociología de la cultura. Buenos Aires, Paidós, 2008, pp.195-198.
WADE, Peter. Articulations of eroticism and race: domestic service in Latin America. Feminist Theory, vol. 14, n° 2, 2013, pp.187-202.