Resumo
As eleições de 2018 no Brasil deram a vitória à extrema-direita. Jair Bolsonaro, um ex-militar conhecido por sua apologia à tortura e por seus comentários agressivamente machistas, homofóbicos e racistas, foi eleito presidente da República. Entre os fatores que explicam o resultado está a capacidade que Bolsonaro e seu grupo tiveram de promover um clima de “pânico moral”, transmitindo a impressão de que muitas instituições do país, a começar pelas ligadas à educação, estavam solapando os valores da família tradicional por meio da chamada “ideologia de gênero” — uma caricatura do feminismo e da teoria queer, produzida pelos setores mais conservadores da Igreja Católica e adotada no Brasil também por outras denominações religiosas. O trabalho analisa discursos do presidente e de ministros, observando a presença da temática “gênero” e qual seu papel na construção da visão de mundo da extrema-direita brasileira no poder.
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