Apresentação

Resumo

“Sexualidades disparatadas”, termo emprestado de Michel Foucault, nomeia o dossiê organizado por Richard Miskolci e Júlio Assis Simões e abre esta edição dos cadernos pagu. Vale ressaltar o esforço empreendido pelos organizadores. Apesar da existência de trabalhos pioneiros no Brasil nas décadas de 70 e 80, que marcaram o campo de estudos sobre sexualidades dissidentes e são referências até hoje, durante muito tempo, a temática esteve longe de ser aceita nas ciências humanas. Em estreito diálogo com as questões levantadas no dossiê, Beatriz Preciado, entrevistada por Jesús Carrillo, explora o termo queer, desestabilizando seu significado corrente – maricón, bollera, raro –, que remete a “desvio sexual”. A discussão abre vias para pensar como transformar a idéia de “bizarro” em maneiras múltiplas de querer, quereres. A seção “artigos” inicia com o texto de Alessandra El Far, analisando “romances para homens” produzidos entre o final do século XIX e início do XX, cujos enredos, segundo a autora, além de expressarem fantasias e desejos, também tratavam de questões sociais e políticas. Fantasias e desejos também estão presentes no artigo de Bernadete Beserra, ao analisar como brasileiras em Los Angeles lidam com a exotização de suas imagens. Apesar de essas imagens terem sido produzidas por olhares estrangeiros, desde o tempo de Carmem Miranda, e alimentadas e recriadas pelos nacionais, a autora mostra que há espaço para negociações com outros conteúdos. Petrônio Domingues, em seu artigo, analisa a pouco conhecida participação das mulheres na Frente Negra Brasileira e no jornal A Voz da Raça. As resenhas de Joana Maria Pedro, Marta Jardim e Luiz Gustavo Freitas Rossi convidam à leitura de livros recentes no Brasil e no exterior.