Resumo
Este artigo discute o contexto social que originou o espaço de trabalho, ou o espaço exclusivo para o desempenho de atividades produtivistas. O objetivo é demonstrar a dependência que a esfera da produção tem do universo da reprodução e, notadamente, como essa dependência é obliterada e reforçada pelas relações patriarcais. Investigo como o processo de trabalho e a sociedade são organizados segundo as teorias de organização racional do trabalho, e quais os efeitos sobre a produção do espaço. A discussão sobre as origens dos espaços de trabalho demonstrou que elas estão vinculadas à divisão do trabalho em gênero, durante o desenvolvimento do capitalismo comercial, no período entre os séculos XII e XVIII, quando as antigas unidades domésticas – indústrias domésticas rurais – e as oficinas dos artesãos urbanos foram transformadas em empresas familiares pelo modo de produção putting-out system. Com o advento desse sistema, a divisão do trabalho em gênero permitiu liberar os indivíduos do sexo masculino para o desempenho de atividades produtivas, enquanto as tarefas domésticas ou mal pagas eram destinadas às mulheres. Essa foi a primeira condição social para posteriormente, na manufatura, possibilitar-se a existência de espaços exclusivos de produção.
Referências
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2ed. 10. reimpr. rev. e ampl. São Paulo: Boitempo, 2009. [1999]
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista. A degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. Tradução Nathanael C. Caixeto. [1974]
CROWSTON, Clare Haru. Women, gender and guilds in early modern Europe. In The return of the guilds. Conference of the Global Economic History Network. Utrecht: Utrecht University, 2006.
DE MARE, Heide. Domesticity in dispute. A reconsideration of Sources. In: CIERAAD, Irene (ed.). At home: an anthropology of domestic space. Syracuse University Press, New York, 1999, pp.13-29. Foreword by John Rennie Short.
DECCA, Edgar Salvadori de. O nascimento das fábricas. São Paulo: Brasiliense, 1982.
DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações. 1972-1990. ed.34, Rio de Janeiro: 1992, pp.219-226.
GORZ, André. Divisão do Trabalho, Hierarquia e Luta de Classes. In: MARGLIN, S. et alii. Divisão Social do Trabalho, Ciência, Técnica e Modo de Produção Capitalista. Porto: Publicações Escorpião, 1996. [1974]
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Americanismo e fordismo. (Cad. 22) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. [1934]
GRAY, Jane. Rural industry and uneven development: the significance of gender in the irish linen industry. Maynooth, The Journal of Peasant Studies 20 (4), 1993, pp.590-611.
GROPIUS, Walter. Bahaus: novarquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2004. [1937-52]
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 7.ed. São Paulo: Edições Loyola, 1998. [1989]
ILLICH, Ivan. Gender. New York: Pantheon Books, 1982.
KAPP, Silke; LINO, Sulamita Fonseca. Na cozinha dos modernos. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, vol.15, nº 16, Belo Horizonte, 1º sem. 2008.
KRIEDTE, Peter; MEDICK, Hans; SCHLUMBOHM, Jürgen. Industrialization before industrialization (Studies in modern capitalism). Cambridge, Cambridge University Press, 1981. Tradução Beate Schempp. [1977]
MARGLIN, Stephen. Origem e funções do parcelamento das tarefas. Para que servem os patrões? In: GORZ, André (Org.). Crítica da divisão do trabalho. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996, pp.37-77. [1973]
MARIUTTI, Eduardo Barros. Capital comercial autônomo: dinâmica e padrões de reprodução. Texto para Discussão n o 214, Campinas, IE/UNICAMP, dez. 2012.
MARX, Karl. Teorias da mais valia: história crítica do pensamento econômico. São Paulo: Bertrand Brasil, 1987. Volume 1. p. 384-406. [1863]
MARX, Karl Teorias da mais-valia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987. Volume I. [1857-8]
MARX, Karl. O capital. Crítica da Economia Política. Livro Primeiro. O processo de produção do capital. Volume 1. 27.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. Título original: Das Kapital – Kritik der Politischen Ökonomie Buch I: Des Produktions-process des Kapitals. [1859]
MEDICK, Hans. The proto-industrial family economy. In: KRIEDTE, Peter; MEDICK, Hans; SCHLUMBOHM, Jürgen. Industrialization before industrialization (Studies in modern capitalism). Cambridge: Cambridge University Press, 1981, pp.38-73. Translated by Beate Schempp. [1977]
MENDELS, Franklin F. Proto-industrialization: The First Phase of the Industrialization Process”. The Journal of Economic History, 32/1, The Tasks of Economic History, 1972, pp.241-261.
MORAES NETO, Benedito Rodrigues de. Maquinaria, taylorismo e fordismo: a reinvenção da manufatura. Revista de Administração de Empresas, 26(4), Rio de Janeiro, out/dez 1986, pp.31-34.
MOTA, Nelson. A arquitectura do quotidiano. Público e privado no espaço doméstico da burguesia portuense no final do século XIX. Coimbra: Edarq, 2010.
MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, pp.307-342. Tradução de Neil R. da Silva. [1961]
OLGIVIE, Sheilagh C.; CERMAN, Markus (ed.) Proto-industrialization: the first phase of the industrialization process. The Journal of Economic History, 32/1, The Tasks of Economic History. Cambridge: University of Cambridge, 1996, pp.241-261. [1994]
OLGIVIE, Sheilagh. Guilds, efficiency, and social capital: evidence from german proto-industry. CESIFO working. Paper nº 820. Category 10: empirical and theoretical methods. Cambridge: University of Cambridge, dezembro 2002, pp.1-33.
OLGIVIE, Sheilagh. Can we rehabilitate the guilds? A sceptical reappraisal. Cambridge: University of Cambridge, 2007.
PIGNON, D.; QUERZOLA, J. Ditadura e democracia na produção. In: GORZ, A. Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 91-129.
SALERNO, Mário Sérgio. Projeto de organizações integradas e flexíveis. São Paulo: Atlas. Cap. 5, 1999.
TILLY, Louise A.; SCOTT, Joan W. Womem, work, and family. New York: Holt, Rinehart and Winston, Parte 1, 1987. [1978]
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001. Tradução de Pietro Nassetti. [1904-5] Versão inglesa de Talcott Parsons. Original alemão.