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O padrão de demanda por mão de obra na lavoura paulista e a questão do trabalhador nacional: nem vadio, nem escasso, nem instável (1890-1915)
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Palavras-chave

Formação do mercado de trabalho. Trabalhador brasileiro. Sazonalidade agrícola. Vadiagem. São Paulo.

Como Citar

TESSARI, Cláudia Alessandra. O padrão de demanda por mão de obra na lavoura paulista e a questão do trabalhador nacional: nem vadio, nem escasso, nem instável (1890-1915). Economia e Sociedade, Campinas, SP, v. 23, n. 2, p. 465–487, 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8642151. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Este artigo analisa a relação entre o padrão de demanda por mão de obra na agricultura paulista entre 1890 e 1915 e as formas de engajamento do trabalhador na atividade produtiva defendendo a ideia de que estas últimas propiciavam a formação de estereótipos sobre o chamado trabalhador nacional, tais como os da sua escassez e sua instabilidade e ociosidade. Nas interpretações mais gerais sobre a formação econômica e social brasileira, um dado prepondera: a quase “exclusão” do brasileiro pobre do processo de produção, sendo elemento marginal e acessório na estrutura produtiva central brasileira e paulista. Mostramos que a demanda por trabalho era marcadamente sazonal e incerta gerando, com isso, necessidade de oferta elástica de trabalhadores temporários e explicando, em parte, a contradição de uma sociedade que tinha, segundo o discurso da época, ora falta de trabalhadores, ora abundância; ora trabalho, ora ociosidade.

 

Abstract

The article examines the relationship between the demand for manpower in agriculture in the São Paulo state between 1890 and 1915, and the forms of worker involvement in productive activity. It defends the idea that it was these forms of worker involvement that formed the stereotypes about a national worker, such as the shortage of these workers, and their instability and idleness. In the most general interpretations about the economic and social formation in Brazil, a predominant factor prevails: the “almost exclusion” of the poor Brazilian in the production process, as a marginal and accessory element in the productive structure of the export economy. This article analyzes the demand for labor in the tillage industry in São Paulo, showing that it was seasonal and uncertain. It shows that this pattern of intermittent work explains in part the contradiction of a society that had, according to the discourse of the time: either a lack of workers, or an abundance; and at times hard workers, and at other times idle workers.

Keywords: Formation of the labor market; Brazilian worker; Agricultural seasonality; Idleness; São Paulo.

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