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Formação de preços e financiamento empresarial entre os anos 80 e 90 na economia brasileira
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Palavras-chave

Formação de preço. Mark-up. Esquemas de financiamento. Regime de alta inflação

Como Citar

PEREIRA, Thiago Rabelo. Formação de preços e financiamento empresarial entre os anos 80 e 90 na economia brasileira. Economia e Sociedade, Campinas, SP, v. 9, n. 1, p. 89–126, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643122. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

O trabalho procura explorar a conexão entre as decisões de formação de preços das firmas industriais e a adaptação dos seus esquemas de financiamento no quadro de transição de uma economia fechada, submetida a um rígido racionamento do crédito externo e operando em alta inflação, para o cenário da década de 90. Este é caracterizado pela reinserção aos circuitos financeiros internacionais, pela queda dos níveis de proteção dispensados à indústria, e, a partir de 1994, pelo processo de estabilização. A dimensão defensiva do comportamento empresarial em alta inflação manifestava-se na pressão altista exercida sobre os mark-ups desejados e no viés pelo desendividamento. O viés altista dos mark-ups, verificado no contexto de alta inflação, economia protegida e racionamento do crédito externo (1981/89), foi combinado à intensa retração no uso de fundos de terceiros nos esquemas de financiamento das grandes empresas. A sobreposição de reinserção financeira externa, abertura comercial e alta instabilidade (1990/93) impôs freios ao processo de ampliação defensiva das margens, sendo paralela à reversão da tendência de queda do grau de endividamento. A combinação de economia aberta, crédito externo abundante e estabilização com câmbio apreciado (1994/98) desativou os mecanismos de ampliação defensiva e criou uma forte pressão restritiva sobre os mark-ups, materializando-se em uma tendência de queda desta variável. Esta compressão de margens foi paralela a um expressivo crescimento da alavancagem financeira das empresas industriais

Abstract

The paper focuses on the existing connection between price formation decisions and the standards of financial adjustment of the Brazilian big industrial companies. It discusses the impact of the transition from the eighties to the nineties in corporate funding standards. The link between the mark up changes and funding decisions is underlined. The eighties was marked by a situation of high levels of industrial protection, a rigid external credit constraint and high inflation. The key environmental changes during the nineties, by contrast, can, in short, be described as consequences of the reconnection of the main domestic credit takers in the international financial markets, the drastic drop on the level of protection given to domestic producers and, starting from 1994, the stabilization process. The defensive behavior of firms under the high inflation regime and closed economy materialized as an upper bias in price decisions. The perceived risk of capital loss in a highly unstable environment pushed up the industrial mark-ups. The upper bias in the mark up decision under high inflation was linked to a defensive tendency of companies to move away from any kind of financial debt in the liability side of balance sheets – decreasing the leverage standards throughout the eighties. During the 1990/93 period, the reinsertion in international capital flows was combined with the reduction in protection levels. That situation slowed down the high inflation defensive tendency to push up mark-ups. After stabilization, some of the mechanisms that shaped the defensive behavior of firms were deactivated. The combination of open economy, high volumes of external credit, stabilization and real exchange rate appreciation put a restrictive pressure in the levels of industrial mark-ups and changed the disposition of firms to assume different forms of debt – slowly reshaping the composition of the liability side of balance sheets.

Key words: Price formation. Mark-up. Finance. Funding. High inflation regime

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