Resumo
O objetivo deste artigo é analisar os limites da contribuição da indústria brasileira ao desenvolvimento em dois momentos qualitativamente distintos:o ciclo de relativa pujança entre 2003-2010 e a desaceleração e reversão entre 2011 e 2015. A partir deste esforço, pretende-se estabelecer um diálogo com a obra de Wilson Cano – principalmente com suas reflexões na última década – em três dimensões. A primeira delas refere-se à maneira em que estas reflexões compreendem o desenvolvimento como um processo histórico. A segunda diz respeito à heterogeneidade estrutural característica do subdesenvolvimento e a compreensão da industrialização como uma condição necessária para se buscar contornar a dinâmica de reprodução deste processo. Por fim, busca-se compreender os limites da contribuição da indústria ao desenvolvimento ao dialogar com a interpretação presente em toda a obra do autor acerca da centralidade de um projeto de desenvolvimento nacional como vetor de tal estratégia. Na dimensão empírica, para se compreender os limites das contribuições da indústria brasileira entre 2003 e 2015, utiliza-se a metodologia de decomposição estrutural, a fim de se mensurar tal contribuição em três dimensões: (i)produtividade, (ii)salários e remuneração média e (iii)sofisticação das exportações em relação às importações. Como resultados, o artigo traz elementos que sugerem a consolidação de um padrão de organização estrutural da indústria brasileira que limita sua capacidade de contribuição ao desenvolvimento independentemente dos econômicos domésticos. Esses limites seriam materializados na incapacidade de se engendrar um ciclo de desenvolvimento virtuoso que viabilizasse a reconfiguração da estrutura produtiva. Por fim,conclui-se que os limites estariam associados ao fenômeno que este artigo sugere que seja interpretado como uma nova versão do industrialismo periférico (e agora regressivo)
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