Banner Portal
Os afazeres domésticos contam
PDF

Palavras-chave

Mulheres – Trabalho. Trabalho feminino – Brasil. Contas nacionais – Brasil

Como Citar

MELO, Hildete Pereira; CONSIDERA, Claudio Monteiro; SABBATO, Alberto Di. Os afazeres domésticos contam. Economia e Sociedade, Campinas, SP, v. 16, n. 3, p. 435–454, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8642815. Acesso em: 26 abr. 2024.

Resumo

Este artigo tem como objetivo propor uma mensuração para as atividades realizadas pelas pessoas no interior dos lares, as quais têm enorme importância na reprodução da vida e no bem-estar da sociedade. Esses serviços gerados na execução dos afazeres domésticos, por não estarem associados a uma geração equivalente de renda, são ignorados pela teoria econômica que não os valora e não contabiliza no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Uma provável interpretação para esse nãoreconhecimento origina-se na histórica discriminação sofrida pelas mulheres nas diversas sociedades, a quem foi delegada a execução dos afazeres domésticos. Desconhecê-los reforça o conceito de invisibilidade, que caracteriza o trabalho doméstico e a inferioridade do papel da mulher na sociedade. Tendo por base os procedimentos usuais de estimativas de bens ou serviços não mensurados por estatísticas econômicas, estatísticas demográficas e sociais originárias da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que, desde 2001 investiga o tempo gasto na execução de tarefas domésticas, chega-se à conclusão de que, no Brasil, esses afazeres corresponderam, em média, a 11,2% dos PIBs brasileiros do período 2001-2005.

Abstract

This paper proposes a measurement for housekeeping activities, which play an enormous role in the reproduction of life and in the well-being of society. These housekeeping activities are ignored in economic theory, which neither values them nor accounts for them in the Gross Domestic Product measures, as far as they are not associated with an equivalent flow of monetary revenue. A plausible interpretation for this non-consideration derives from the historical discrimination, in most societies against women, to whom the carrying out of housekeeping activities has been delegated. Ignoring housekeeping activities reinforces the concept of invisibility, which characterizes domestic labor and the inferior role of women in society. With basis on usual procedures to estimate goods or services not measured by economic statistics, and using demographic and social statistics from the National Survey through Household Samples (PNAD), which since 2001 inquires about the time spent in doing domestic activities, we find that housekeeping activity corresponds on average to 11,2% of Brazilian GDP of 2001-2005 period.

Key words: Housekeeping activity. National accounts. Invisibility of female work

PDF

Referências

AGUIAR, Neuma. Gênero e ciências humanas – desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos/Record, 1997.

________. Múltiplas temporalidades de referência: trabalho doméstico e trabalho remunerado em uma plantação canavieira. Revista Gênero, Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero (NUTEG) da Universidade Federal Fluminense, v. 1, n. 2, 1. semestre 2001.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. 2 v. Primeira edição francesa de 1949 de Editions Gallimard, 1949.

BECKER, Gary. The economic approach to human behaviour. Chicago: University of Chicago Press, 1976.

________. Family economics and the macro behaviour. American Economic Review, v. 78, n. 1, p.1-13, 1986.

________. A treatise on the family. Harvard University Press, 1991.

BENNETTI, C.; CARTELIER, J. Marchands, salariat et capitalistes. Paris: Maspero, 1981.

BLAY, Eva. Trabalho domesticado: a mulher na indústria paulista. São Paulo: Ática, 1978.

BOSERUP, E. Women’s role in economic development. New York: Saint Martin’s Press, 1970.

CARTELIER, L. State and wage labor. Capital and Class, New York, v. 18, 1980.

DEDECCA, Claudio Salvadori. Tempo, trabalho e gênero. In: COSTA, Ana A.; OLIVEIRA, Eleonora M. de; LIMA, Maria Ednalva B. de; SOARES, Vera; (Org.). Reconfiguração das relações de gênero no trabalho. São Paulo: CUT, 2004.

DE VROEY, M. La théorie de la valeur de Marx: une reinterpretation. Cahier d’Economie Politique, Paris, v. 9, 1984.

FRIEDAN, Betty. The second stage. New York: Summer Book, 1982.

HARDING, Sandra. The science question in feminism. Ithaca: Cornell University Press, 1986.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistemas de Contas Nacionais Brasil, 2007; PNAD, 2001-2005; PME, 2002 e 2003.

KALECKI, M. Essays on developing economics. Sussex: Harvester Press, 1979.

KELLER, Evelyn Fox. Reflections on gender and science. New Haven: Yale University Press, 1985.

LOPES, F. R.; SERRANO, F. L. P. Marx e a mercadoria força de trabalho. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 16, 1986. Brasília: Anpec. / Texto para Discussão, IEI/UFRJ, n. 120, 1987.

MACHADO, J.; SERRANO, F. L. P. Uma nota sobre a crise da teoria econômica. Literatura Econômica, Rio de Janeiro, Inpes/Ipea, ago. 1986.

MARX, K. O capital. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Economistas).

________; ENGELS, F. A ideologia alemã. México: Editorial Grijalbo, 1977.

MEILLASSOUX, Claude. Femmes, greniers et capitaux. Paris: Maspéro, 1979.

MELO, Hildete Pereira de; PENA, Maria Valéria. A condição feminina e a teoria econômica. Literatura Econômica, Rio de Janeiro, Inpes/Ipea, fev. 1985.

________; SERRANO, Franklin. A mulher como objeto da teoria econômica. In: AGUIAR, Neuma. Gênero e ciências humanas – desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos/Record, 1997.

________; SABBATO, A.; SOUZA, C. F.; ROCHA, F.; FERRAZ, G., HORTA, M. H.; DWECK, R. H.; WADDINGTON, S. Os serviços no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; Ipea, Anpec, 1998.

________; PESSANHA, M. C.; PARREIRAS, L. E. Da cozinha para o mercado: a evolução dos rendimentos dos trabalhadores domésticos nos anos 90. In: GALEAZZI, Irene M. S. Mulher e trabalho. Porto Alegre: FEE, FGTAS/SINE, DIEESE, SEADE/SP, FAT, 2002.

MICHEL, Andrée. Les femmes dans la societé marchande. Paris: Presses Universitaires de France, 1978.

MILL, John Stuart. A sujeição das mulheres. In: MILL, J. Stuart; MILL, Harriet Taylor.

Ensaios sobre a igualdade sexual. Ed. e introduzido por Alice Rossi. Trad. por Leila de Souza Mendes Pereira. The University of Chicago Press. Literatura Econômica, Rio de Janeiro, Ipea/Inpes, v. 7, n. 1, fev. 1985.

NELSON, Julie. Gender, metaphor and the definition of economics. Economics and Philosophy, Cambridge University Press, v. 8, p. 103-125, 1992.

NICHOLSON, Linda. Feminismo e Marx: integrando o parentesco com o econômico. In: BENHABIB, S.; CORNEL, D. (Ed.). Feminismo como crítica da modernidade. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1987.

OAKLEY, Ann. Woman’s work, the housewife, past and present. New York: Vintage Books, 1974.

SAFFIOTI, Heleieth, I. B. A mulher na sociedade de classe: mito e realidade. Petrópolis: Editora Vozes, 1976.

SARTI, Cynthia. A sedução da igualdade: trabalho, gênero e classe. In: SCHPUN, Mônica Raisa. Gênero sem fronteiras: oito olhares sobre mulheres e relações de gênero. Florianópolis: Editora de Mulheres, 1997.

SAYERS, Janet. Feminismo e ciência. In: ROSE, Steven; APPIGNANESI, Lisa (Org.). Para uma nova ciência. Lisboa: Gradiva, 1989.

SCAVONE, Lucila (Org.). Tecnologias reprodutivas: gênero e ciência. São Paulo: Ed. Unesp, 1996.

SCOTT, Joan Wallach. Gender and the politics of history. New York: Columbia University Press, 1994.

TAHAHITE, Fatiha-Hakili. Pour une problematique du procès de travail domestique em le sexe du travail. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble, 1984.

UN. System of national accounts. 1993. cap. IV: A conta de produção.

A Economia e Sociedade utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.

Downloads

Não há dados estatísticos.