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A resistência à apropriação chinesa de terras no Brasil desde 2008
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Palavras-chave

Brasil
China
Estrangeirização de terras
Movimentos sociais
Redes
Narrativas.

Como Citar

OLIVEIRA, Gustavo de Lima Torres. A resistência à apropriação chinesa de terras no Brasil desde 2008: lições e alternativas agroecológicas. Ideias, Campinas, SP, v. 9, n. 2, p. 99–132, 2018. DOI: 10.20396/ideias.v9i2.8655285. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8655285. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

O objetivo deste artigo é descrever e teorizar a história recente da resistência à apropriação chinesa de terras no Brasil, a fim de permitir uma discussão clara e útil das vitórias e desafios da resistência à estrangeirização de terras e o avanço do agronegócio transnacional e doméstico; e também para permitir o desenvolvimento de alternativas agroecológicas para as relações entre o Brasil e a China. Utilizando teorias de narrativas na articulação de movimentos sociais e métodos de etnografia global, baseado em 27 meses de trabalho de campo no Brasil e na China, argumento que uma aliança de conveniência entre alguns setores do agronegócio e movimentos sociais conseguiram efetivamente desmontar as maiores tentativas de aquisição de terras por agronegócios chineses no Brasil. Mas pelo outro lado, por manter enfoque nas novas aquisições diretas de terra, esta resistência não conseguiu afetar as incorporações indiretas de terras brasileiras a agronegócios chineses por via de fusões e aquisições de empresas que já estavam operando no país. Ainda mais, o papel do capital chinês no que tem se chamado “estrangeirização de terras” no Brasil tem sido relativamente pequeno. Portanto, concluo que o forte enfoque no capital chinês, assim com em aquisições diretas de propriedade fundiária, não contemplaram a principal dinâmica da estrangeirização de terras, mesmo que efetivamente desestruturaram as principais tentativas chinesas de apropriação de terras no Brasil. Porém, existem grandes oportunidades de cooperação no desenvolvimento de iniciativas agroecológicas entre Brasil e China que poderiam orientar investimentos e parcerias de solidariedade Sul-Sul, fortalecendo a soberania nacional e alimentar em ambos países contra os avanços do agronegócio transnacional.

https://doi.org/10.20396/ideias.v9i2.8655285
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