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Por uma arqueologia da paisagem: mobilidade e enraizamento em perspectiva americana
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Palavras-chave

Arqueologia da Paisagem. Cultura Material. Urbanização. Rede Urbana. Mobilidade. Iberoamerica. Séculos XVII-VIII.

Como Citar

Bueno, B. P. S. (2017). Por uma arqueologia da paisagem: mobilidade e enraizamento em perspectiva americana. Labor E Engenho, 11(3), 242–262. https://doi.org/10.20396/labore.v11i3.8649556

Resumo

A historiografia sobre o processo de urbanização no Brasil no período colonial pautou-se, em geral, pelo estudo das vilas e cidades em detrimento dos demais núcleos de povoamento que pontuavam territórios cumprindo diferentes papéis. Lugares, arraiais, capelas, freguesias, julgados, bairros rurais, aldeias indígenas, aldeamentos missioneiros, pousos, registros, passagens, barreiras, fazendas, sítios, currais e fortalezas ficaram obscurecidos em meio à rarefeita rede de vilas e cidades. A historiografia tampouco deu atenção à natureza da multifacetada teia de comunicação que articulava esses núcleos – rios, córregos, veredas, trilhas, caminhos e calçadas – que permitiam ou dificultavam fluxos e contatos interregionais, em meio à difícil e plural geografia física e humana que até hoje caracteriza as nossas diversas paisagens culturais. Uma série de mapas presta-se de maneira exemplar à reconstituição de uma trama perdida no tempo, por meio de recursos de informática contemporâneos, propiciando estudos quantitativos mais pormenorizados que certamente fundamentarão um olhar qualitativo mais minucioso com foco nas dinâmicas e práticas cotidianas, no ritmo das viagens, na distância entre as localidades, nas dificuldades de contato, no fluxo dos rios, nas barreiras impostas pela topografia e a vegetação ou por grupos humanos, nos pontos de paragem para descanso e pedágio, etc. A visão de conjunto propiciada pelo exame de certos mapas permite assim reconceituar noções como a de “rede” e de “urbano” no Brasil-Colônia, analisando aspectos gerais e especificidades regionais, as diversas escalas, modalidades e temporalidades, propiciando novas hipóteses sobre enraizamento e mobilidade no processo histórico de ocupação e devassamento do território colonial. Estudos dessa natureza realizados por uma nova safra de autores podem assim nos ajudar a responder a pergunta que orienta este artigo: em que medida a colonização do Brasil foi mais urbana e menos arquipelágica do que parecia à primeira vista?

https://doi.org/10.20396/labore.v11i3.8649556
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