Banner Portal
Kant e o problema do mundo externo
PDF

Palavras-chave

Representação
cético cartesiano
solipsismo
fenomenalismo

Como Citar

BONACCINI, Juan. Kant e o problema do mundo externo. Manuscrito: Revista Internacional de Filosofia, Campinas, SP, v. 25, n. 1, p. 7–68, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/manuscrito/article/view/8644691. Acesso em: 7 maio. 2024.

Resumo

A estratégia de Kant na Refutação do Idealismo consiste em demonstrar a  tese de que existem objetos fora da consciência com base no argumento de que ter consciência de meus estados de consciência pressupõe como condição necessária ter consciência de objetos externos no espaço. O meu intuito consiste em mostrar que essa estratégia de Kant não pode funcionar contra Descartes (e nem mesmo salvá-lo da acusação de solipsismo à la Berkeley), porque ou ela pressupõe resultados anteriores que o cético já pôs em questão com a própria objeção que Kant quer responder, ou apela a distinções de caráter empírico ou metafísico que o cético não pode nem deve aceitar. Assim mostramos em primeiro lugar que o estatuto do permanente requerido pela prova de Kant é insustentável para a filosofia crítica. A seguir, demonstramos que a prova só poderia servir para provar, na melhor das hipóteses, que este permanente sou eu, que penso, e tenho estados de consciência, porque enquanto penso e tenho a consciência de meus estados sei que sou uma substância pensante, que é o justo o que Descartes defendia e Kant havia criticado nos Paralogismos (!). Depois examinamos o problema à luz da obscura teoria kantiana do sentido interno e demonstramos que a refutação fracassa em resolver o problema do mundo externo porque Kant não consegue provar ao cético cartesiano, nem ao berkeleyano (pelo menos como ele mesmo o via) que pode sair das representações. Defendemos que para a empresa de Kant é vital sair delas, mas o resultado implica oscilar entre a pressuposição da experiência externa objetiva, que está em suspenso pela objeção do cético, o fenomenalismo, e a necessária queda no realismo transcendental. Eis a aporia que Kant enfrenta titanicamente na Refutação do Idealismo: precisa romper com o fenomenalismo do Idealismo Transcendental para que suas teses façam sentido. Mas como isso significa o fim do Idealismo Transcendental, vemos Kant oscilando ambiguamente entre realismo transcendental e solipsismo, ou entre apelar à experiência ou pressupor que objetos são dados; misturando uma teoria causal da percepção comprometida tacitamente com uma epistemologia correspondencialista a uma ontologia fenomenalista comprometida com uma epistemologia coerencialista.

PDF

Referências

ALLISON, H.E. (1983). Kant’s Transcendental Idealism. An Interpretation and Defense (New Haven/London, Yale University Press).

ALMEIDA, G.A. de (1993). “Consciência de Si e Conhecimento Objetivo na ‘Dedução Transcendental’ da ‘Crítica da Razão Pura’”, Analytica (Rio de Janeiro), v.1, n.1, pp.187-219.

AQUILA, R. (1979). “Personal Identity and Kant’s Refutation of Idealism”, Kant-Studien 70, pp. 259-278.

AUNE, B. (1991). Knowledge of the External World (London/New York, Routledge).

AYER, A. (1946). Language, Truth and Logic, 2nd. ed. (London, Penguin Books).

BENNETT, J. (1966). Kant’s Analytic (Cambridge, Cambridge University Press).

BERKELEY, G. (1985). Principios del Conocimiento Humano. Traducción de Pablo Masa (Madrid, Sarpe).

BONACCINI, J.A. (1996). “Acerca da segunda versão dos Paralogismos da Razão Pura”, Anais de Filosofia (FUNREI, MG) 3, pp. 59-66.

———. (1997). O problema da coisa em si no idealismo alemão, sua atualidade e relevância para a compreensão do problema da filosofia (Rio de Janeiro,

IFCS/UFRJ, Tese de Doutoramento). ———. (2001). “Acerca del contexto de la polémica en torno a la cosa en sí en los inicios del Idealismo Alemán”, Cuadernos de Historia de la Filosofía (IIF/UNAM, México) 4, pp. 22-31.

BOUTROUX, É. (1926). La Philosophie de Kant (Paris, Vrin).

DESCARTES, R. (1979). Meditações Metafísicas, seguidas das Segundas Objeções e Respostas, e das Respostas às Quintas Objeções (Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior, in: Descartes (1979), Coleção “Os Pensadores”, 2a ed., São Paulo, Abril).

DIAS, M.C. (1990). “Os Argumentos Transcendentais”, O Que Nos Faz Pensar (Rio de Janeiro) 2, pp. 32-41.

ERDMANN, B. (1878). Kants Kritizismus in der ersten und in der zweiten Auflage der Kritik der reinen Vernunft (Leipzig, L. Voss).

———. (1992). Reflexionen Kants zur kritischen Philosophie (Neu heraus- gegeben und eingeleitet von N. Hinske, Neudruck der Ausgabe

Leipzig, Fuess/R. Reisland, 1882-1884: Stuttgart-Bad Cannstatt, Frommann-Holzboog).

EWING, A. C. (1938). A Short Commentary on Kant’s ‘Critique of Pure Reason’ (Chicago, The University of Chicago Press).

FRANGIOTTI, M. A. (1995). “Refuting Kant’s ‘Refutation of Idealism’”, Idealistic Studies, v. 25, n.1, pp. 93-106.

———. (1999). “Argumentos transcendentais e ceticismo”. In: L.H. de Araújo Dutra (org.) Nos limites da Epistemologia Analítica (Floria- nópolis, NEL/UFSC), pp. 81-101.

GIL, F. (org.) et al. (1992). Recepção da Crítica da Razão Pura. Antologia de Escritos sobre Kant (1786-1844). Prefácio de Oswaldo Market. (Lisboa, Calouste Gulbenkian).

GOCHNAUER, M. (1974). “Kant’s Refutation of Idealism”, Journal of the History of Philosophy 12, pp. 195-206.

GRAM, M.S. (1982). “What Kant really did to Idealism”. In: J.N. Mo- hanty and Robert W. Shahan (eds.) Essays on Kant’s Critique of Pure Reason (Norman, University of Oklahoma Press), pp. 127-156.

GUYER, P. (1987). Kant and the Claims of Knowledge (Cambridge Cambridge, University Press).

HEIDEGGER, M. (1987). Die Frage nach dem Ding (3. Aufl., Tübingen, M. Niemeyer).

———. (1987b). Phänomenologische Interpretation von Kants Kritik der reinen Vernunft (Gesamtausgabe, Bd. 25, 2. Aufl., Frankfurt am Main, V. Klostermann).

———. (1991). Kant und das Problem der Metaphysik (5. Aufl., Frankfurt am Main, V. Klostermann).

———. (1993). Sein und Zeit (17.Aufl., Tübingen, M. Niemeyer).

HERRING, H. (1953). Das problem der Affektion bei Kant (Kant-Studien, Ergaenzungsheft 67, Koeln).

HOLZHEY, H. (1970). Kants Erfahrungsbegriff. Quellengeschichtliche und Be- deutungsanalytische Untersuchungen (Basel/Stuttgart, Schwabe & Co).

HOOKER, J. (1979). “A Refutation of Idealism”, Kant-Studien 70, pp. 197-205.

JACOBI, F. H. (1787). David Hume über den Glauben, oder Idealismus und Realismus. Ein Gespräch (Loewe, Breslau) (Reprinted with the Vorrede to the 1815 edition, ed. by L. W. Beck, New York/ London, Garland, 1983). ———. (1976-1980). Jacobis Werke (hrsg. von F. Roth und F. Köppen, Leipzig, G. Fleischer, 1812-1825/Nachdruck: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, Darmstadt, 6 vol.).

KANT, I. (1922-ss). Kants Gesammelte Schriften (hrsg. von der Königlich- Preussische u. Deutsche Akademie der Wissenschaften. Berlin, W. De Gruyter, 1902-55: 23 vol./1966-79: 9 vol.).

———. (1781/87). Kritik der reinen Vernunft (nach der ersten und zweiten Original-Ausgabe neu herausgwegeben von Raymund Schmidt, F. Meiner, Hamburg, 1956, durchgesehener Nachdruck von 1976).

———. (1982). Werkausgabe in zwölf Bänden [Sammlung] (hrsg. von W. Weischedel, dritte Auflage, Frankfurt am Main, Suhrkamp).

———. (1987). Loses Blatt Leningrad I. Vom inneren Sinne. In: R. Brandt und W. Stark (Hrsg.) Neue Autographen und Dokumente zu Kants Leben (Kant-Forschungen, Band I, Hamburg, F. Meiner).

KAULBACH, F. (1958-1959). “Kants Beweis des ‘Daseins der Gegen- stände im Raum ausser mir’”, Kant-Studien 50, pp. 323-347.

KOYRÉ, A. (s/d). Do Mundo Fechado ao Universo Infinito. Trad. de Jorge Pires. (Lisboa, Gradiva).

LANDIM FILHO, R. (1993). “Descartes: ‘idealista empírico e realista transcendental’?”, Síntese-Nova Fase (Belo Horizonte), v. 23, n.74, pp. 313-343.

LEHMAN, G. (1958-1959). “Kants Widerlegung des Idealismus”, Kant- Studien 50, pp. 348-362.

MÁSMELA, C. (1995). “El ánimo en la Crítica de la Razón Pura”, Estudios de Filosofía 12, pp. 65-75. PATON, H. J. (1951). Kant’s Metaphysic of Experience, 2nd edition. (New York, Macmillan, 2 vol.).

PETERS, F. E. (s/d). Termos Filosóficos Gregos. Un léxico histórico. Tradução de B. Rodrígues Barbosa. (Lisboa, Calouste Gulbenkian).

PITSCHL, F. (1979). Das Verhältnis vom Ding an sich und den Ideen des Übersinnlichen in Kants kritischer Philosophie: eine Auseinandersetzung mit T. I. Oisermann (München, Minerva).

PRAUSS, G. (1989). Kant und das Problem der Dinge an sich (3. Aufl., Boon, Bouvier).

PRICHARD, H. A. (1909). Kant’s Theory of Knowledge (Oxford, Clarendon Press).

ROHDEN, V. (1988). “Ceticismo Versus Condições de Verdade”, Manuscrito, v. XI, n. 2, pp. 85-94.

RORTY, R. (1994). A Filosofia e o Espelho da Natureza. Trad. de Antônio Trânsito. (Rio de Janeiro, Relume-Dumará).

SÁ PEREIRA, R.H. de (1995). “Uma Crítica Semântica do Ceticismo Epistemológico”, Síntese-Nova Fase, vol. 22, n. 68, pp. 99-114.

SALMON, W.C. (1983). Logik. Übersetzung von J. Buhl. (Stuttgart, Reclam).

SCHULZE, G.E. (1792). Aenesidemus, oder über die Fundamente der von Herrn Prof. Reinhold in Jena gelieferten Elementar-Philosophie. Nebst einer Vertheidigung des Scepticismus gegen die Anmaassungen der Vernunftkritik (Neudrucke seltener philosophischen Werke, herausgegeben von der Kant-Gesellschaft, 2. Aufl., 1911, Berlin,

Reuter & Richard). SKORPEN, E. (1968)., “Kant's Refutation of Idealism”, Journal of the History of Philosophy 6, pp. 23-34.

STRAWSON, P. F. (1966). The Bounds of Sense, an Essay on Kant’s ‘Critique of Pure Reason’ (London, Methuen & Co.).

TUSCHLING, B. (Hrsg.). (1984). Probleme der “Kritik der reinen Vernunft” (Berlin/New York, W. de Gruyter).

VAIHINGER, H. (1922). Commentar zu Kants Kritik der reinen Vernunft (2. Auflage, Union Deutsche Verlagsgesellsachaft, Stuttgart/Berlin/ Leipzig, 2 Bd.).

VERNEAUX, R. (1967). Le Vocabulaire de Kant. Doctrines et Méthodes (Paris, Aubier-Montaigne).

WELDON, T. D. (1958). Kant’s Critique of Pure Reason, 2nd ed. (Oxford, Clarendon Press).

WILLIAMS, B. (1988). Descartes. Das Vorhaben der reinen philosophischen Untersuchung. Übersetzung von W. Dittel und A. Viviani. (Frankfurt am Main, Athenäum).

Downloads

Não há dados estatísticos.