Resumo
Nesta nota crítica revemos a recente proposta de Bozickovic para resolver duas questões inter-relacionadas: (i) a questão do significado cognitivo dos pensamentos indiceísta expressos de cada vez em face das dificuldades colocadas pelos casos em que o sujeito ou confunde dois objectos com um ou um com dois objectos diferentes; (ii) a da dinâmica cognitiva dos pensamentos indiceísta temporais em face das dificuldades colocadas pelos casos em que a crença parece ser retida enquanto os ajustamentos adequados não são feitos (ou seja, em casos como o de Rip Van Winkle). Argumentamos que, apesar da sua elegância e mérito, a proposta fica aquém da contabilidade dos casos problemáticos em toda a sua complexidade. Por um lado, a pretendida construção nãoodal do Critério da Diferença de Frege, promovido por Bozickovic, não bloqueia, a nosso ver, a "proliferação" de sentidos provocada pela sensibilidade ocasional da individuação de pensamentos demonstrativos. Por outro lado, a proposta não compreende a necessidade de o sujeito ter uma concepção adequada do objecto do seu pensamento quando se trata de se orientar no espaço e no tempo. Assim sendo, consideramos que não está apto a estabelecer-se (ii).
Referências
ALMOG, J.; PERRY, J., et al. (eds.) Themes from Kaplan New York: Oxford University Press, 1989.
BOGHOSSIAN, P., “The Transparency of Mental Content”. Philosophical Perspectives, 8, pp. 73-122, 1994.
BOGHOSSIAN, P. “The Transparency of Mental Content Revisited”. Philosophical Studies, 155, pp. 457-465, 2011.
BOZICKOVIC, V. “Belief Retention: A Fregean Account”. Erkenntnis, 80 (3), pp. 477-486, 2015.
BOZICKOVIC, V. The Indexical Point of View: On Cognitive Significance and Cognitive Dynamics New York, London: Routledge, 2021.
BURGE, T. Origins of Objectivity Oxford: Clarendon Press, 2010.
CAMPBELL, J. Past, Space, and Self Cambridge, MA, London, England: The MIT Press, 1994.
DOBLER, T. “The Occasion-Sensitivity of Thought”. Topoi, 39 (2), pp. 487-497, 2020.
DOKIC, J. (ed.) European Review of Philosophy 2: Cognitive Dynamics Stanford, CA: CSLI Publications, 1997.
DOKIC, J. “Introduction”. In: J. Dokic (ed.) (1997), pp. 3-11.
EVANS, G. “Understanding Demonstratives”. In: H. Parrot, J. Bouveresse (eds.) (1981), pp. 280-303.
EVANS, G. The Varieties of Reference. J. H. McDowell (ed.) Oxford: Clarendon Press, 1982
FREGE, G. “Der Gedanke. Eine logische Untersuchung”. Beiträge zur Philosophie des deutschen Idealismus, 2, pp. 58-77, 1918-19.
GOLDBERG, S. C. Externalism, Self-Knowledge, and Skepticism: New Essays Cambridge: Cambridge University Press, 2015.
IRVING, W. Rip Van Winkle and Other Stories London, England: Longman. 1991.
KAPLAN, D. “Demonstratives: An Essay on the Semantics, Logic, Metaphysics, and Epistemology of Demonstratives and Other Indexicals”. In: J. Almog, J. Perry et al. (eds.) (1989a), pp. 481-563.
KAPLAN, D. “Afterthoughts”. In: J. Almog, J. Perry et al. (eds.) (1989b), pp. 565-614.
LE POIDEVIN, R. “Egocentric and Objective Time”. Proceedings of the Aristotelian Society New Series, 99, pp. 19-36, 1999.
PARRET, H.; BOUVERESSE, J. (eds.) Meaning and Understanding Berlin, New York: Walter de Gruyter, 1981.
PERRY, J. Reference and Reflexivity Stanford, CA: CSLI Publications, 2012.
PUTNAM, H. “Travis on Meaning, Thought, and the Ways the World is”. The Philosophical Quarterly, 52 (206), 2002, pp. 96-106.
RECANATI, F. Mental Files Oxford: Oxford University Press, 2012.
TRAVIS, C. Unshadowed Thought: Representation in Thought and Language Cambridge, MA, London, England: Harvard University Press, 2000.
TRAVIS, C. “Views of my Fellows Thinking (Counting Thoughts)”. Dialectica, 71 (3), pp. 337-378, 2017.
WIKFORSS, A. “The Insignificance of Transparency”. In: S. C. Goldberg (ed.) (2015), pp. 142-164.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Manuscrito: Revista Internacional de Filosofia