Resumo
O artigo analisa se e como as conferências e conselhos de saúde e de políticas para as mulheres em Minas Gerais interagem para formar um sistema participativo e deliberativo nestas duas áreas de política. O artigo avalia analítica e empiricamente (1) como os atores, os temas e as normas atuam enquanto conectores desses fóruns e (2) se essas conexões promovem um sistema integrado em cada área de política. Para investigar as conexões entre as conferências e os conselhos utilizamos quatro técnicas de pesquisa diferentes: observações das reuniões dos conselhos e das conferências, análise de documentos, survey e entrevistas. As técnicas foram mobilizadas para comparar estes dois casos contrastantes. Como resultado da análise comparativa, argumentamos que a infraestrutura legal e política na qual as áreas de políticas estão imersas induz os conectores a funcionarem de forma sistêmica. A política de saúde, mais previsível jurídica e institucionalmente do que a política para as mulheres, garante condições mais favoráveis para os atores coordenarem suas ações, para os temas serem debatidos e veiculados, assim como para as normas serem contestadas e legitimadas. Desta forma, afirmamos que os recursos político-institucionais são fundamentais para que os conectores conformem um sistema participativo e deliberativo nas duas áreas de política analisadas.
Referências
ABERS, R.; KECK, M. Autoridade prática: ação criativa e mudança institucional na política das águas do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017.
ALMEIDA, D. R. “Representação como processo: a relação Estado/sociedade na teoria política contemporânea”. Rev. Sociologia e Política, vol. 22, n° 50, p. 175-99, Jun. 2013.
ALMEIDA, D. R. “Resiliência institucional: para onde vai a participação no Conselho Nacional de Saúde e no Conselho Nacional de Política para as Mulheres?”. Caderno CRH, Salvador, vol. 33, p. 1-24, 2020.
ALMEIDA, D. R.; CUNHA, E. “Brazilian social assistance policy: an empirical test of the concept of deliberative systems”. Critical Policy Studies, vol. 10, n° 2, p. 2-21, 2016.
ALVAREZ, S. “Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminista”. Pagu, vol. 43, p. 13-56, 2014.
ARRETCHE, M. “Federalismo e relações intergovernamentais no Brasil: a reforma dos programas sociais”. Dados, vol. 45, n° 3, p. 431-57, 2002.
ARRETCHE, M. “Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia”. São Paulo em perspectiva, vol. 18, n° 2, p. 17-26, 2004.
AVRITZER, L. Participatory institutions in democratic Brazil. Baltimore: Jonhs Hopkins University Press, 2009.
BÄCHTIGER, A., et al. The Oxford handbook of public deliberation. Oxford: Oxford University Press, 2018.
BÄCHTIGER, A.; PARKINSON, J. Mapping and measuring deliberation: towards a new deliberative quality. Oxford: Oxford University Press, 2019.
BOHMAN, J. Representation in the deliberative system. In: PARKINSON, J.; MANSBRIDGE, J. (eds.). Deliberative systems: deliberative democracy at the large scale. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.
BOSWELL, J. “‘Hoisted with Our Own Petard’: Evidence and Democratic Deliberation on Obesity”. Policy Sciences, 2014.
BOSWELL, J. “Scale along deliberation”. In: Workshop on Deliberative Systems: a critical engagement (mimeo). Centre for the Study of Democracy (CSD), University of Westminster, London, 2015.
BOSWELL, J.; HENDRIX, C.; ERCAN, S. “Message Received? Examining transmission in deliberative systems”. Critical Policy Studies, vol. 10, n° 3, p. 263-83, 2016.
CHAMBERS, S. “Rhetoric and the Public Sphere: Has Deliberative Democracy Abandoned Mass Democracy?”. Political Theory, vol. 37, n° 3, p. 323-50, 2009.
COELHO, V. S. P. Uma metodologia para a análise comparativa de processos participativos: pluralidade, deliberação, redes e política de saúde. In: PIRES, R. (org.). Efetividade das instituições participativas no Brasil: estratégias de avaliação, vol. 7. Brasília: Ipea, 2011.
CÔRTES, S. Participação e saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.
CUNHA, E. S. M. Efetividade deliberativa de conselhos de assistência social. Jundiaí: Paco Editorial, 2013.
DIANI, M.; BISON, I. “Organizations, coalitions, and movements”. Theory and Society, vol. 33, n° 3-4, p. 281-309, 2004.
DODGE, J. “Tensions in deliberative practice: a view from civil society”. Critical Policy Studies, vol. 4, n° 4, p. 384-404, 2010.
DOWBOR, M. “A arte da institucionalização: as estratégias de mobilização dos sanitaristas (1974-2006)”. Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, 2012.
DRYZEK, J. “Democratization as deliberative capacity building”. Comparative Political Studies, vol. 42, n° 11, p. 1.379-402, 2009.
DRYZEK, J. Foundations and frontiers of deliberative governace. Oxford: The Oxford University Press, 2010.
DRYZEK, J.; NIEMEYER, S. Pluralism and meta-consensus. In: DRYZEK, J. (Org.). Foundations and frontiers of deliberative governance. Oxford: Oxford University Press, 2010.
ELSTUB, S; ERCAN, S.; MENDONÇA, R. “The Fourth Generation of Deliberative Democracy”. Critical Policy Studies, vol. 10, n° 2, p. 139-51, 2016.
ELSTUB, S.; MCLAVERTY, P. “Ten issues for a deliberative system”. In: APSA Conference, 29 Aug. – 1 Sept., Chicago, 2014.
FARIA, C. “Sistema deliberativo, formas de conexão e inclusão política: alcance teórico e prático”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 32, n° 95, 2017.
FARIA, C., et. al. “Conferências de políticas públicas: um sistema integrado de participação e deliberação?”. Revista Brasileira de Ciência Política, n° 7, p. 249-84, 2012.
FARIA, C.; RIBEIRO, U. Desenho institucional: variáveis relevantes e seus efeitos sobre o processo participativo. In: PIRES, R. R. C. (Org.). Efetividade das instituições participativas no Brasil: estratégias de avaliação. Brasília: Ipea, 2010.
FISCHER, F. Reframing public policy: discursive politics and deliberative practices. Oxford University Press, 2003.
FUNG, A. “Varieties of participation in complex governance”. Public Administration Review, vol. 66 (s1), p. 66-75, 2006.
GONZALEZ, D. F. Os mecanismos institucionais de políticas para as mulheres: caminhos controversos da institucionalização. In: MATOS, M.; ALVAREZ, S. (Orgs.). Quem são as mulheres das políticas para as mulheres no Brasil. Porto Alegre: Ed. Zouk, vol. 1, 2018.
HABERMAS, J. Between facts and norms. Cambridge: Polity Press, 1996.
HAJER, M.; WAGENAAR, H. Deliberative policy analysis: understanding governance in the network society. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
HENDRIX, C. “Integrated deliberation: civil society’s dual role in deliberative democracy”. Political Studies, vol. 54, p. 486-508, 2016.
HOLZINGER, K. “Context or conflict types: which determines the selection of communication mode”. Acta Politica, vol. 40, p. 239-54, 2005.
JACOBS, L; COOK, F.; CARPINI, M. Talking together: public deliberation and political participation in America. University of Chicago Press, 2009.
KINGDON, J. Agendas, alternatives, and public policies. New York: Longman, 2003.
LAVALLE, A. G., et al. “Representação política e organizações civis: novas instâncias de mediação e os desafios da legitimidade”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 21, n° 60, p. 43-66, 2006.
LÜCHMANN, L. “A representação no interior das experiências de participação”. Lua Nova, vol. 70, p. 139-70, 2007.
MANSBRIDGE, J. Everyday talk in the deliberative system. In: MACEDO, S. (ed.). Deliberative politics: essays on democracy and disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999.
MANSBRIDGE, J. Deliberative democracy or democratic deliberation? In: ROSENBERG, S. (ed.). Deliberation, participation, and democracy: can the people govern? New York: Palgrave Macmillan, 2007.
MANSBRIDGE, J., et al. A systemic approach to deliberative democracy. In: PARKINSON; MANSBRIDGE, J. (Orgs.). Deliberative systems: deliberative democracy at the large scale. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
MARTELLO, L. O debate sobre legalização do aborto e inclusão de diferenças nas 3ª e 4ª Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres: direito ao corpo e feminismos jovens. In: MATOS, M.; ALVAREZ, S. (orgs.). Quem são as mulheres das políticas para as mulheres no Brasil. Porto Alegre: Ed. Zouk, vol. 1 and 2, 2018.
MATOS, M.; ALVAREZ, S. (Orgs.). Quem são as mulheres das políticas para as mulheres no Brasil. Porto Alegre: Ed. Zouk, vol. 1 and 2, 2018.
MENDONÇA, R. “Mitigating systemic dangers: the role of connectivity inducers in a deliberative system”. Critical Policy Studies, vol. 10, n° 2, p. 171-90, 2016.
OFFE, C. “On the future of public policy schools: what can be done to ‘take back control’?”. Global Policy, vol. 10, Feb. 2019.
OWEN, D.; SMITH, G. “Survey article: deliberation, democracy, and the systemic turn”. The Journal of Political Philosophy, vol. 23, n° 2, p. 213-34, 2015.
PARKINSON, J. Deliberating in the real world: problems of legitimacy in deliberative democracy. New York: Oxford University Press, 2006.
PARKINSON, J.; MANSBRIDGE, J. (eds.). Deliberative systems. Oxford: The Oxford Press, 2012.
PATEMAN, C. “APSA presidential address: participatory democracy revisited”. Perspectives on Politics, vol. 10, n° 1, p. 7-19, 2012.
POGREBINSCHI, T. “The Squared Circle of Participatory Democracy: Scaling Up Deliberation to the National Level”. Critical Policy Studies, vol. 7, n° 3, p. 219-41, 2013.
ROMÃO, W. M.; LAVALLE, A. G.; ZAREMBERG, G. Political intermediation and public policy in Brazil: Councils and Conferences in the Policy Spheres of Health and Women’s Rights. In: ZAREMBERG, G.; GUARNEROS-MEZA, V.; LAVALLE, A. G. (eds.). Intermediation and representation in Latin America: actors and roles beyond elections. Palgrave Macmillan, 2017.
SABATIER, P.; JENKINS-SMITH, H. The advocacy coalition framework: an assessment. In: SABATIER, P. (ed.). Theories of the Policy Process. Boulder: Westview Press, 1999.
SAWARD, M. “The representative claim”. Contemporary Political Theory, vol. 5, n° 3, p. 297-318, 2006.
SCHMIDT, V. “Discursive institutionalism: the explanatory power of ideas and discourse”. Annual Review of Political Science, vol. 11, 2008.
SCHUMAHER, S. Os movimentos feministas ontem e hoje no Brasil: desafios da sua institucionalização. In: MATOS, M.; ALVAREZ, S. E. Quem são as mulheres das políticas para as mulheres nas Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres, vol. 2. Porto Alegre: Ed. Zouk, 2018.
SILVA, E. M.; PARADIS, C. G. “Routines of Interaction between Latin American feminists and the State”. Latin American Perspectives, vol. 47, n° 5, p. 62-78, Sept. 2020.
SMITH, G. Democratic innovations: designing institutions for citizen participation. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
URBINATI, N.; WARREN, M. “The concept of representation in contemporary democratic theory”. Annual Review of Political Science, vol. 11, 2008.
YOUNG, I. M. Inclusion and democracy. Oxford University Press, 2002.
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Opinião Pública