Resumo
Uma vida subtraída de todas as condições necessárias para o exercício da cidadania se torna um exercício na corda banda, um retrato da vulneração. Mas é justamente deste marco zero e sem recorrer a heroísmo, que Maria Valéria Rezende experimenta em seu romance Quarenta Dias, na pele de sua personagem Alice, homônima da de Lewis Carrol, uma viagem também insólita, de loucura, privação e abandono. A personagem, a contragosto, segue uma pista. Ao se ver perdida num labirinto urbano, Alice vai compondo novas vivências, desbravando. Desterritorializada e sem os requisitos de cidadã, ela é uma energia em expansão em direção ao caos urbano e à deriva de si mesma, solta nos trajetos, nas bifurcações da cidade, até sentir que a rua lhe acolheu, a convidando para desabitar do seu mundo social e particular.
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