Resumo
A Lei 12.711/2012 aprovada em agosto de 2012, conhecida como Lei de Cotas, se estabeleceu após anos de lutas sociais capitaneadas pelo movimento negro brasileiro. A despeito das controvérsias, as pesquisas têm mostrado alterações significativas no perfil dos estudantes nas Instituições Federais de Educação Superior (Ifes) após a implementação da Lei. O objetivo deste trabalho é dar visibilidade à abrangência e impacto da Lei de Cotas ao analisar o ingresso de estudantes brancos beneficiados pela reserva de vagas para a escola pública. A fonte de dados utilizada foi o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação, produzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Ao contrário dos temores que emergiram quando as cotas raciais foram propostas, os resultados mostram que estudantes autodeclarados brancos estão incluídos e ocupam a maior parte das vagas reservadas quando o recorte por cor/raça não está presente. A proporção desse grupo de ingressantes, no ano de 2019, foi de 26,00% considerando todos os ingressantes brancos, o que equivale a dizer que um a cada quatro estudantes brancos que ingressaram nas Ifes era cotista. Assim, o efeito de democratização da Lei 12.711/2012 não tem atingido apenas estudantes pretos e pardos, mas está trazendo em seu bojo também o ingresso de estudantes brancos pobres.
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