Resumo
Análise do documentário Ôrí (direção Raquel Gerber, 1989). Elaborado durante 11 anos, entre 1977 e 1988, o filme assume o ponto de vista de uma intelectual e militante negra, Beatriz Nascimento, uma presença inaugural no âmbito do documentário brasileiro, que narra a partir de suas ideias e entrelaça os acontecimentos relacionados aos movimentos sociais dos negros no Brasil. O estudo contextualiza a realização do filme e o aborda por dois vieses: primeiro, por meio dos efeitos de sentido da voz de Beatriz Nascimento e sua performance conceitual, centrada nas ideias de transmigração e quilombo; segundo, pela noção de montagem cartográfica, que comprime a longa duração da experiência da realização do filme e imprime um forte sentimento de lugar, sendo esse lugar os espaços atravessados pelo ser e estar negro no mundo.
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