Resumo
O objetivo desse trabalho é apresentar a maneira pela qual os Taurepáng, povo Carib que no Brasil vive no norte do estado de Roraima, interpretam as ações do Kanaimé. De acordo com a literatura, trata-se de uma categoria de feitiçaria que envolve técnicas específicas de mutilação e assassinato amplamente difundidas nas terras adjacentes ao Monte Roraima e, além de um fenômeno espectral, oriundo da malevolência de outsiders, também diz respeito a um agressor que pode ser cercado, agredido e morto. Diante do aumento das tensões e acusações de Kanaimé nas comunidades taurepáng que ficam na savana venezuelana, suas lideranças optaram por uma iniciativa inédita: a criação de uma prisão para Kanaimé. Porém, em vez de atenuar os conflitos entre os parentes da vítima assassinada e os parentes do Kanaimé acusado, essa medida surtiu o efeito inverso e acabou por reforçar a compreensão taurepáng de que vivem em um “lugar de morte”.
Referências
AMARAL, Maria Virgínia Ramos. Os Ingarikó e a religião Areruya. Rio de Janeiro. Tese de Doutorado em Antropologia Social, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.
ANDRELLO, Geraldo. Os Taurepáng: Memória e Profetismo no Século XX. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais, defendida na Universidade Estadual de Campinas, 1993.
ANDRELLO, Geraldo. Rotas de criação e transformação. Narrativas de origem dos povos indígenas do rio negro. São Paulo: FOIRN; ISA, 2012.
ARMELLADA, Cesáreo de. Tauron Pantón: cuentos y leyendas de los indios pemón. Caracas: Ministério de Educación, Biblioteca Venezolana de Cultura, 1964.
ARMELLADA, Cesáreo de. Pemonton Taremuru. Invocaciones Mágicas de los Indios Pemón. Caracas: Centro de Lenguas Indígenas, Universidad Católica Andrés Bello, 1972.
ARMELLADA, Cesáreo de; SALAZAR, Mariano. Diccionario Pemon. Caracas: Universidad Católica Andrés Bello, 1981.
BARCELOS NETO, Aristóteles. O universo visual dos xamãs wauja, Journal de la societé des américanistes, 87, pp. 137-160, 2001.
BUTT COLSON, Audrey. Routes of knowledge: an aspect of regional integration in the circum-Roraima area of Guiana Highlands, Antropologica, 63-64, pp. 103-149, 1985.
BUTT COLSON, Audrey. The spatial component in the political structure of the Carib speakers of the Guiana Highlands: Kapon and Pemon, Antropologica 59-62, pp. 73-124, 1986.
BUTT COLSON, Audrey. Itoto (Kanaima) as Death and Anti-Structure, In: RIVAL, L.; WHITEHEAD, N. (Orgs.), Beyond the visible and the material: The amerindianization of society in the work of Peter Rivière. Oxford: Oxford University Press, pp. 221-233, 2001.
CAPIBERIBE, Artionka. A língua franca do suprassensível: sobre xamanismo, cristianismo e transformação. Mana, 23 (2), pp. 311-340, 2017.
CARNEIRO DA CUNHA, Maria Manuela. Os mortos e os Outros. São Paulo: Hucitec, 1978.
FARAGE, Nádia. As flores da fala: práticas retóricas entre os Wapishana. Tese de Doutorado em Letras, defendida na Universidade de São Paulo, 1997.
FARAGE, Nádia. Instruções para o presente. Os brancos em práticas retóricas Wapishana, In: ALBERT, B.; RAMOS, A. (Orgs.), Pacificando o branco. Cosmologias do contato no Norte-Amazônico, São Paulo: Editora UNESP, 2002.
GOW, Peter. A geometria do corpo, In: NOVAES, A. (Org.), A outra margem do ocidente, São Paulo: Companhia das Letras, pp. 299-317, 1999.
KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Del Roraima al Orinoco (1917-1928), Caracas: Ediciones del Banco Central de Venezuela, 1979-1982.
KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Do Roraima ao Orinoco, observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos 1911 a 1913. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Editora Companhia das letras, 2015.
LASMAR, Cristiane. De volta ao lago de leite: gênero e transformação no Alto Rio Negro. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
LEVY, Gabriela. Vozes Inscritas: o movimento de San Miguel entre os Pemon, Venezuela. Dissertação de Mestrado em Antropologia, defendida na Universidade Estadual de Campinas, 2003.
MONTICELLI, Caio. Patá Matá: o que dizem os Taurepáng sobre o fim do mundo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, defendida na Universidade Federal de São Carlos, 2020.
RIVIÈRE, Peter. Individual and Society in Guiana: A Comparative Study of Amerindian Social Organization. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
SANTILLI, Paulo. As fronteiras da república. História e política entre os Macuxi no vale do rio Branco. São Paulo: Editora Lis Gráfica, 1994.
SANTILLI, Paulo. “¡La tradition orale Carib, In: LÉVÉQUE, P. et alli (eds.), Recherches Bresiliennes: Annales Littéraires de la Université de Besançon, 527: 291-302, 1995.
SANTILLI, Paulo. Pemongon Patá: território Macuxi, rotas de conflito. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
SANTILLI, Paulo. “Trabalho escravo e brancos canibais. Uma narrativa”. In: Pacificando o branco. Cosmologias do contato no Norte-Amazônico. ALBERT, B.; RAMOS, A. (Orgs.), 2002.
SZTUTMAN, Renato. Sobre a ação xamânica. In: GALLOIS, D. (Org.), Redes de Relações nas Guianas, São Paulo: Associação Editorial Humanitas/FAPESP, 2005.
THOMAS, David. Order Without Government: The Society of the Pemon Indians of Venezuela. Illinois Studies in Communication, 1982.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Araweté. Deuses canibais. Rio de Janeiro: Zahar/ Anpocs, 1986.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O problema da afinidade na Amazônia. In: A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Editora Cosac & Naify, 2002.
WHITEHEAD, Neil. “Kanaimà: Shamanism and Ritual Death in the Pakaraima Mountains, Guyana”. In: Beyond the visible and the material: The amerindianization of society in the work of Peter Rivière. RIVAL, L.; WHITEHEAD, N. (Orgs). Oxford University Press. pp. 235-245, 2001.
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by-nc-sa/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2020 Caio Monticelli