O religioso desde o olhar

Resumo

Aceito o complexo desafio de escrever sobre minha relação com a imagem, com a religião, com a pesquisa, com a narrativa; e sobre o encontro com Mattjis van de Port e seu trabalho. Começarei por recontar o papel da fotografia em minha trajetória acadêmica. Desde meus anos de graduação, meu consumo de imagens, particularmente através do fotojornalismo, era muito estimulante. Cheguei ao México vindo da Bolívia em 1988, e fui recebido por uma explosão de fotojornalismo nos jornais da manhã. O jornal La Jornada tinha acabado de ser criado alguns anos antes, e uma de suas marcas registradas era dar ao visual - a foto e o desenho animado - um lugar de destaque. Os fotógrafos eram tão importantes quanto os colunistas, seu trabalho era valorizado e seu discurso podia definir a agenda pública sobre determinados assuntos. Criatividade e imaginação permearam essas páginas, que eu consumi avidamente. Eu, que tinha uma câmera alemã herdada de meu pai - que mais tarde perdi -, comecei timidamente a tirar minhas próprias fotos. Depois veio uma viagem iniciática a Nova York e pude comprar uma Canon AE-1 com meus escassos recursos como estudante. A semente da imagem foi semeada, minha sensibilidade só iria crescer. A partir de então, a câmera me acompanhou em todas as aventuras, e eu nunca mais parei de olhar, gravar, olhar novamente; em várias ocasiões eu até me perguntei se eu realmente deveria estar trabalhando na imagem e não nas ciências sociais.