Resumo
Este artigo explora narrativas sobre como a guerra iniciada em Outubro de 2017, no extremo Norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, por um grupo armado localmente reconhecido por mashababos, impera não só a violência física contra populações das regiões conflagradas, mas também as outras formas [de violência], desde simbólicas a psicológicas, através de repressões e silenciamentos da manifesta vontade das vítimas de falar sobre os seus traumas. Amparado por uma etnografia realizada entre 2018 e 2021 em Nacaca, num centro construído para abrigar os deslocados de guerra, a tese central deste artigo é de que os deslocamentos forçados impostos contra as vítimas do conflito em análise, se interseccionam não só ao seu exercício de memória no querer contar as suas experiências vivenciadas sobre a guerra, mas também aos traumas que se criam pelas formas de silenciamentos impostos por diversos actores que perpassam aos seus novos espaços de refúgio.
Referências
ALI, F. A. Women’s Agency and violence against Women: The case of the collation on violence against women in Kenya. African Conflict e Peace building Review, 7 no. 07; Indiana: The Trustees of Indiana University, 2017.
BOURDIEU, P. Sobre o Estado: Cursos no Collège de France (1989-92). São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
CASEY, E. S. (1997). How to Get from Space to Place in a Fairly Short Stretch of Time: Phenomenological Prolegomena. In: FELD, S. e BASSO, K. H. (Eds). Senses of Place. Santa Fe: School of American Research Press, 1997.
CHAMBE, Z. M. Entre “vientes” e nativos: Mineração, mobilidade, violências e (re) existências em Montepuez, Moçambique. (Tese Doutorado), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Campinas, 2021.
COMAROFF, J. & COMAROFF, J. Etnografia e imaginação histórica: breve introdução sobre as relações entre a antropologia e arte, desafios analíticos e (in) segurança. Tradução de Iracema Dulley e Olívia Janequine. Revista de Antropologia e Arte. V. 01, n° 02, 2010.
CONTEH-MORGAN, E. Collective political violence: An introduction to the theories and cases of violent conflicts. London: Routledge, 2004.
CRUZEIRO, M. M. As mulheres e a Guerra Colonial: Um silêncio demasiado ruidoso. Revista Crítica de Ciências Sociais. Coimbra: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 2004, p. 31-41.
CHO, G. Hauting the Korean Diaspora: Shame, secrecy, and the forgotten war. Minneapolis/London: University of Minnesota Press, 2008.
DAS, V. Life and words: violence and the descent into the ordinary. London, Berkeley: University of California Press, 2007.
DE PAUW, L. G. Battle Cries and Lullabies: Women in War from Prehistory to the Present. Norman, Oklahoma: University of Oklahoma Press, 2014.
DUBOIS, V. Towards a critical policy ethnography: lessons from fieldwork on welfare control in France. Critical Policy Studies, Vol. 3, n. p. 2, 221- 239, 2009.
DUBOIS, V. The State, Legal Rigor, and the Poor. In: THELEN, T, VETTERS, L. e BENDA-BECKMANN, K. (Ed). Stategraphy: toward a relational anthropology of the State. New York: Berghahn Books, 2017.
EAGER, P. W. From Freedom Fighters to Terrorists: Women and Political Violence. London: Routledge, 2016.
ENGLUND, H. From war to peace on the Mozambique- Malawi Borderland. Edinburg: Edinburgh University Press Ltd., 2002.
FABIAN, J. Anthropology with an attitude: critical essays. California: Stanford University Press, 2001.
FABIAN, J. Memory against culture: arguments and reminders. Durham: Duke University Press, 2007.
FEIJÓ, J. (2021). The Role of Woman in the conflict in Cabo Delgado: Understanding vicious cycles of violence. Dakar: Friedrich-Ebert Stiftung, 2021.
FRY, P. (Org.). Moçambique: Ensaios. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.
FRY, P. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África Austral”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
GEFFRAY, C. A Causa das Armas: Antropologia da Guerra Contemporânea em Moçambique. Tradução de Adelaide Odete Ferreira. Porto: Edições Afrontamento, 1991.
GESCHIERE, P. The Modernity of Witchcraft: Politics and the Occult in Postcolonial Africa. Charlottesville: University of Virginia Press, 1997.
GOUREVITCH, P. Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias: Histórias do Rwanda. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Companhia do Bolso, 2006.
GOW, P. Of mixed blood: kinship and history in Peruvian Amazonia. Oxford: Oxford University Press, 1991.
HONWANA, A. Espíritos Vivos, Tradições Modernas: Possessões de Espíritos e Reintegração Social Pós-Guerra no Sul de Moçambique. Maputo: Promédia, 2002.
ISAACMAN, A. e ISAACMAN, B. A Ilusão do Desenvolvimento: Cahora Bassa e a História de Moçambique. Tradução de Eléusio Viegas e Nuno Domingos. Lisboa: Outro Modo Cooperativa Cultural, 2019.
MACHAVA, B. L. The Morality of Revolution: Urban Cleanup Campaigns, Reeducation Camps, and Citizenship in Socialist Mozambique (1974-1988). Dissertation of Doctor of Philosophy (History); Michigan: University of Michigan, 2018.
MANGHEZI, N. Amizade Traída e Recuperada: O ANC em Moçambique (1976-1990). Tradução de Machado da Graça. Maputo: Edição PROMÉDIA, 2007.
MBEMBE, A. On the Postcolony. Berkley e Los Angeles: University of California Press, 2001.
MOURA, T., ROQUE, S., ARAÚJO, S., RAFAEL, M. & SANTOS R. Invisibilidades da Guerra e da paz: Violências contra as mulheres na Guiné- Bissau, em Moçambique e em Angola. Revista Crítica de Ciências Sociais. Coimbra: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 2009.
PIETRAFESA DE GODOI, E. Apontamentos sobre Memória, Tempo e Pessoa. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Antropologia, Unicamp, 2020.
POLLACK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Estudos Históricos: vol. 2, no. 3, 1989.
REHN, E. & SIRLEAF, E. J. Women, War and Peace: The Independent Experts’ Assessment of the Impact of Armed Conflict on Women and Women’s Roles in Peace-building. New York: United Nations Development Fund for Women, 2002.
THELEN, T. VETTERS, L. e BENDA-BECKMANN, K. Introduction- Stategraphy: Relational Modes, Boundary Work, and Embeddedness. In: THELEN, T. VETTERS, L. e BENDA-BECKMANN, K. (Ed). Stategraphy: Toward a relational anthropology of the State. New York: Berghahn Books, 2018, p. 1-19.
TROUILLOT, M. The Anthropology of the State in the Age of Globalization. Current Anthropology. V. 42, no. 1; p. 125-138, 2001.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2023 Ideias