Resumo
Este artigo descreve as funções dos marcadores discursivos (MD) no processo de articulação de narrativas orais de velhos da comunidade Arara em Teixeira de Freitas (BA). Para tanto, o foco desloca-se às formas que exprimem (inter)subjetividade. Como enquadre teórico, a descrição apoia-se na Pragmática em perspectiva cognitivo-enunciativa e em estudos narratológicos de base interativa, precipuamente, nas obras de Alexandra Georgakopoulou e Neal Norrick. Metodologicamente, analisa-se um corpus de narrativas de 09 sujeitos da referida comunidade com destaque aos MD presentes nas pequenas estórias construídas conjuntamente na conversação. Como resultado, demonstra-se que os MD sinalizam o planejamento on-line das narrativas, procedimentos de engajamento e avaliação, além a marcação de reparos diante dos lapsos de memória. Diante disso, aponta-se para a importância das unidades na instanciação e organização da memória sociocognitiva no plano discursivo-narrativo.
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