Resumo
A evolução humana é objeto de pesquisas comprometidas com diferentes agendas. Neste artigo discute-se cenários que concedem à psicologia de senso comum um papel central em tentativas de se retraçar tal evolução, colocando em relevo o que nos distinguiria de outras mentes animais: habilidades especiais para representar e, sobretudo, para interpretar. Essa perspectiva leva a sério a imagem – central a muito do que se faz em filosofia e nas ciências sociais – de que somos agentes constituí- dos em um ambiente social e cultural. Estará em questão se essa imagem pode ser assimilada pela biologia evolutiva contemporânea, sem que esta abra mão dos seus pressupostos fundamentais e do seu arcabouço conceitual e teórico característico. Godfrey-Smith e Sterelny apostam nesse projeto, e se propõem a efetivar essa integração. Em contraste com cená- rios inatistas, que se apóiam em argumentos com base numa pobreza de estímulos, emerge daquele projeto um cenário no qual a evolução da mente humana interage com as nossas habilidades interpretativas. Estas habilidades resultariam, por sua vez, de uma aprendizagem socialmente mediada, facilitada por um tipo particular de construção de nichos envolvendo mecanismos de herança não-genética.
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