Resumo
Do desprezo elitista pelos jornais à compulsão contemporânea pelo acontecimento em tempo real, alguma coisa aconteceu, historicamente. Ao mesmo tempo, esse deslocamento não deixa de acomodar-se dentro de um processo historicamente mais amplo de "exteriorização" da técnica (como diz Bernard Stiegler), pelo qual a "não originariedade" é vista como objeto e questão externos ao discurso, e não como momento de sua configuração. A poesia dita moderna, mais do que testemunhar sobre essa problemática (ou, alternativamente, dar-lhe as costas), a reinsere de modo decisivo na sua formulação, o que transforma a percepção de seu valor histórico. Menos do que rejeitar o deserto da técnica, ela o reativa como modo de experiência do "inferno" do real, da perturbação da não-originariedade. No âmbito de um discurso de crise, pelo qual a poesia se distingue modernamente, destacam-se dispositivos paradoxais, como o do sacrifício, que é tanto uma estratégia quanto um sintoma - não exatamente do "sentido social" da poesia, mas precisamente de sua ambição histórica de constituir-se como discurso sobre o social.
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