Resumo
A pesquisa investigou a relação entre os modos de uso e os processos de identificação em torno da #seráqueéracismo no Twitter. Para isso, abordou como as diferenças sociais foram articuladas nas discursividades sobre “experiências de racismos”, por meio de análise dos conteúdos publicados nas mídias digitais e entrevistas semiestruturadas com xs influenciadorxs, produtorxs de narrativas muito compartilhadas; e utilizou os eixos analíticos "experiências" e "diferenças", por meio da Teoria Queer. Nessas negociações sobre diferenças, a hashtag – modo de comunicação sobre si – foi muito usada, tanto para demonstrar a prática contestatória da percepção de certa norma racista vigente, em algumas narrativas, quanto para gerar uma discussão sobre a falta de reconhecimento e a inferiorização de certas "experiências sobre racismos" relatadas, em outras narrativas. Nesse jogo de ambivalências das experiências, ora foram reproduzidas as normalizações sobre diferenças, por meio de demarcações de posicionalidades e estereotipações de sujeitos e subjetividades, ora foram contestadas. Também foi frequente o relato do "racismo dx outrx", vinculado ao desejo de reconhecimento social e subjetivo que rege esses usos (que, em muitos casos, foi negado à pessoa negra, conferindo-lhe vitimização e responsabilização sobre a existência das "experiências sobre racismos" relatadas).
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