Resumo
Este artigo discute alguns elementos modernizantes presentes nos ritos de peregrinação e devoção da religiosidade popular, no catolicismo brasileiro, mais especificamente, na Romaria de N. Sra. de Caravaggio, em Farroupilha, RS. A problematização proposta considera a estrutura e a espacialidade do Santuário, na cidade, o trajeto de peregrinação de devotos em dias centrais dessa festividade e os discursos e lógicas de apropriação de bens simbólicos na devoção. As lógicas operantes dos atores-devotos imbricados neste “ato de fé”, típico das devoções Marianas, se estabelecem em práticas que tecem uma gesticularidade própria, na trama abrangente de significações importantes à composição, ruptura ou atualização da religiosidade popular que, em tempos mais recentes, são “enfrentadas” pela racionalidade modernizadora que (re)configura o espaço/tempo do agir devoto. Seguido deste contexto, poder-se-á também visualizar, entremeada à estrutura ritual da Romaria de Caravaggio, uma identidade regional que permanece ora latente, ora manifesta, nos rituais devocionais desse evento.
Referências
ALMEIDA, Ronaldo de. Religião em trânsito. In: MARTINS, Carlos B.; DUARTE, Luiz F. D. (Coords.) Horizonte das ciências sociais no Brasil: antropologia. São Paulo: ANPOCS, 2010, p. 367-405.
BENEDETTI, Luiz R. Os santos nômades e o Deus estabelecido. São Paulo: Paulinas, 1983.
BERTUOL, Pe. Olívio. Milagrosa Rainha de Caravaggio. Canoas: Editora La Salle, 1951.
BOURDIEU, Pierre. Gênese e estrutura do campo religioso. In: BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
BRANDÃO, Carlos R. Memória do Sagrado: estudo de religião e ritual. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
BRANDÃO, Carlos R. Os deuses do povo. Um estudo sobre religião popular. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; STEIL, Carlos Alberto. A sacralização da natureza e a “naturalização” do sagrado; Aportes teóricos para a compreensão dos entrecruzamentos entre saúde, ecologia e espiritualidade. Revista Ambiente & Sociedade, Campinas v. XI, n. 2, p. 289-305, jul./dez. 2008.
CASTRO, Jânio Roque Barros de. A topografia do sagrado e a natureza mítica das cidades-santuários: uma leitura a partir de Bom Jesus da Lapa/BA. Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, no 24, p. 33-43, jul.-dez./2008.
CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano (Vol. 2 Artes de fazer). 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
FABIAN, Johannes. A prática etnográfica como compartilhamento do tempo e como objetivação. Mana, Rio de Janeiro, Vol. 12, n° 2, p. 503-520, 2006.
FERNANDES, Rubem Cezar. Os Cavaleiros do Bom Jesus. Uma introdução às religiões populares. SP: Brasiliense, 1982.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: A religião em movimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
HOORNAERT, E. A cristandade durante a primeira época colonial. In: HOONAERT, E. e Outros. História da igreja no Brasil; ensaio de interpretação a partir do povo. (Tomo II/I). 3.ed. SP: Paulinas/Petrópolis: Vozes, 1983, p. 245-411.
LATOUR, Bruno. Não congelarás a Imagem, ou: como não desentender o debate ciência-religião. Mana 10(2): 349-376, 2004.
LOPES, José Rogério. Festas religiosas, fluxos identitários e hibridismos na esfera pública. In: ORO, Ari P.; STEIL, Carlos A.; CIPRIANI, Roberto; GIUMBELLI, Emerson (Orgs.). A religião no espaço público: objetos e atores. SP: Terceiro Nome, 2012, p. 13
LOPES, José Rogério. O divino retorno; Uma abordagem fenomenológica de fluxos identitários entre a religião e a cultura. Etnográfica, Lisboa, 16(2), p. 339-364, junho de 2012a.
LOPES, José Rogério. Círio de Nazaré: agenciamentos, conflitos e negociação da identidade amazônica. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 31(1), p. 155-181, 2011.
LOPES, José Rogério. A imagética da devoção; a iconografia popular como mediação entre o ethos religioso e a consciência da realidade. Porto Alegre: EDUFRGS, 2010.
LOPES, José Rogério. Devoções, ciberespaço e imaginário religioso; uma análise dos altares virtuais. Civitas, Porto Alegre, Vol. 9, no 2, p. 224-242, mai.-ago./2009.
LUDUEÑA, Gustavo A. Visibilidad pública, “nueva evangelización” y multiculturalismo en el patrimonio religioso de la ciudad de Buenos Aires. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, RS, Vol. 48, no 1, p. 19-28, jan.-abr./2012.
STEIL, Carlos A. O Sertão das Romarias; Um estudo antropológico do Santuário de Bom Jesus da Lapa. Petrópolis: Vozes, 1996.
STEIL, Carlos A.; ALVES, Daniel. “Eu sou Nossa Senhora da Assunção”. A aparição de Maria em Taquari (RS). In: STEIL, Carlos A.; MARIZ, Cecília L.; REESINK, Mísia L. (Orgs.). Maria entre os vivos. Reflexões teóricas e etnografias sobre aparições marianas no Brasil. Porto Alegre: UFRGS Ed., 2003, p. 175-202.
REESINK, Mísia L. Romeiros e Turistas no Santuário de Bom Jesus da Lapa. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, Ano 9, No 20, p. 249-261, 2003a.
REESINK, Mísia L. Catolicismo e Memória no Rio Grande do Sul. Debates no NER, Porto Alegre, Ano 5, No 5, p. 9-30, Junho de 2004.
TONIOL, Rodrigo. No rastro das caminhadas; etnografia de uma política de turismo rural no Vale do Ivaí, SC. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)–Porto Alegre, PPGAS/UFRGS, 2012, 151 p.
VAN VELSEN, J. A análise situacional e o método de estudo de caso detalhado. In: FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.) Antropologia das sociedades contemporâneas; métodos. São Paulo: Global, 1987, p..
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose; antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1994.
ROSENDAHL, Zeny. Espaço e religião: uma abordagem geográfica. Rio de Janeiro: UERJ, NEPE, 1996.
TURNER, Victor. Peregrinação como processos sociais. In: Dramas, campos e metáforas: ação simbólica na sociedade humana. Niterói: EdUFF, 2008, p. 155-214.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2020 José Rogério Lopes, Adimilson Renato da Silva