Resumo
Os países latino-americanos são herdeiros de práticas ancestrais que constituem a estrutura sociocultural, a história e a memória de grupos africanos e da afrodiáspora. Nesta perspectiva, o presente artigo insere-se em um conjunto de iniciativas que visam exaltar a importância da preservação de memórias afrodiaspóricas no Brasil, particularizando um território negro paulistano - o Parque Peruche, situado na zona norte do município de São Paulo (SP). São seus objetivos centrais a) participar da produção de memórias e acompanhar narrativas da diversidade de grupos afrodiaspóricos e b) sugerir possíveis traduções acerca da presença e permanência de ancestralidades negro-africanas no território em questão. Com base na História oral e na pesquisa de campo, é possível sinalizar a presença de protagonismos femininos negros que se configuram em práticas ancestrais marcadas por cosmovisões herdadas. Tais concepções constroem identidades afirmadas que particularizam experiências negras na metrópole paulistana.
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