Resumo
A controvérsia em torno da temática do gênero nos PMEs, no Brasil, se origina na interface entre as esferas política e religiosa. Por isso objetiva-se desvendar as relações políticas e religiosas em torno do PME da cidade de Blumenau - um espaço municipal/local de disputa e interações sociais que refletiu a articulação nacional entre evangélicos e católicos. Para tanto, recorreu-se à pesquisa documental e bibliográfica acerca do ativismo político religioso no Brasil e ao estudo de caso do projeto de Lei Complementar no 1.463. Os resultados obtidos demonstram que houve articulação dos ativistas político-religiosos em níveis federal, estadual e municipal em prol da retirada dos conceitos gênero e diversidade do PME. O ensejo dessa retirada de noções dos documentos da educação, pela bancada religiosa, é uma forma de defender suas “bandeiras políticas”, legitimar seu eleitorado e deslegitimar bandeiras alternativas. Com isso, conclui-se que a “luta” contra a suposta “ideologia de gênero” repete a mesma mobilização contra o “perigo comunista” do período da constituição de 1988 e da eleição presidencial de 1989.
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