Resumo
Esse artigo analisa a evolução e a controvérsia do pensamento brasileiro sobre a inflação, desde o início da Segunda Guerra Mundial até a Crise Cambial de 1947. Ao longo desse período, o debate se organiza entre dois polos opositores. De um lado, liberais, como Gudin e Carvalho, argumentavam ser o excesso de demanda, aquecida pelas encomendas das economias em esforço de guerra, a principal causa para a inflação. Do outro, desenvolvimentistas, como Simonsen, Almeida e Menezes, argumentavam haver na economia brasileira enormes excedentes de mão de obra a serem incorporados, e viam com bons olhos a internalização de processos industriais. A inflação seria resultado do contexto de exceção, que encarecia importados, e da insuficiência de crescimento da oferta interna. O debate tem seu clímax na definição de uma estratégia para conter a crise do balanço de pagamentos deflagrada pelo esgotamento das reservas internacionais, em 1947. Houve uma convergência entre autores liberais e desenvolvimentistas, quando ambos apoiaram a restrição de importações como solução para a crise. Essa solução, apesar de seu caráter intervencionista, foi a preferida por ambos os polos opositores, já que permitiria evitar eventuais desvalorizações do cruzeiro, que, naquele contexto, foram entendidas como potenciais agravantes do processo inflacionário. A aceitação de posturas intervencionistas por parte dos liberais abriu espaço para o florescimento e diversificação das análises sobre as particularidades do processo inflacionário brasileiro.
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