Resumo
O setor petrolífero tem uma vasta experiência com políticas de Conteúdo Local (CL), em particular na Noruega. No Brasil,
essa política ganhou força nos governos Lula da Silva, mas começou a sofrer desgaste nos governos de Dilma Rousseff. A
tentativa de repactuar aspectos dessa política em 2015 chegou tarde e, no governo Temer, sofreu um rebaixamento
considerável. O objetivo deste artigo é entender a facilidade política e a rapidez com as quais o processo se deu, a partir de
dois fatores. Primeiro, a tempestade perfeita que atingiu a Petrobras em meados de 2014 e em 2015, com uma forte queda
de preço do petróleo e os impactos da Operação Lava Jato e outros fatores. Segundo, o desgaste ao qual a política de
Conteúdo Local foi submetida, identificada como parte do problema, e não da solução, para o desenvolvimento brasileiro.
A partir de uma análise das medidas governamentais e do posicionamento dos atores relevantes, percebe-se que a política
de Conteúdo Local foi sacrificada no intuito atrair operadoras internacionais.
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