Resumo
A perda e a extinção das línguas indígenas ao longo da história e, principalmente, nas últimas três décadas, a uma velocidade nunca antes observada, têm levado lingüistas de todo o mundo não só a chamarem a atenção sobre esse fenômenos mas, entre outros aspectos, a defenderem o uso de pesquisas ociolingüísticas que mostrem quando uma língua está se erdendo, mais especificamente, a criarem tipologias sociolingüísticas que apontem caminhos para evitar a sua perda e possibilitar a sua (re)vitalização. Esse artigo apresenta: (i) os motivos para a manutenção dessas línguas; (ii) as razões de sua perda, e (iii) as tipologias ora disponíveis e traz um primeiro relato da situação sociolingüística dos Avá-Canoeiro, da Área Indígena Avá-Canoeiro, GO, realizado em fevereiro e agosto de 2002. Faz-se um percurso histórico do contato do grupo com a sociedade envolvente, a fim de situá-los no cenário atual e compreender a situação sociolingüística do grupo no momento. Eventos/cenas de fala são descritos com o foco na alternância de línguas (code switching), pois esse aspecto de uso da língua em sociedades bilíngües, mostra se a língua nativa está sendo deslocada ou não. Apesar de ser um relato sociolingüístico inicial do grupo, fatos importantes são apontados e estão ervindo de subsídios para um programa de educação escolar ora em andamento na comunidade.Referências
ADELAAR, Williem F. H. (1991). The endangered languages problem: South America. In R. H. Robins. & E. M. Uhlenbeck (eds.). Endangered Languages, p. 45-92.
ADELAAR, Williem F. H. (1998). The endangered situation of native languages in South America. In K. Matsumara (ed.). Studies in endangered languages, p. 1-15. Tokyo: Hituzi Syobo.
AGAR, Michael (1983). The Professional Stranger. An introduction to ethnography. New York: Academic Press.
ALBÓ, Xavier (1988). El futuro de los idiomas oprimidos. In E. P. Orlandi (org.). Política lingüística na América Latina, p. 75-104. Campinas, SP: Pontes.
ALBÓ, Xavier. (1999). Desafíos de la Bolivia plurilingüe. In A. Herzfeld & Y. Lastra (eds.). Las causas sociales de la desaparición y de mantenimiento de las lenguas en las naciones de América, p. 223-243. Sonora, MX: Universidad de Sonora.
AVILA, Raúl (1999). La comunicación masiva y las lenguas en la aldea global. In A. Herzfeld & Y. Lastra (eds.). Las causas sociales de la desaparición y de mantenimiento de las lenguas en las naciones de América, p. 277-293.
BAKHTIN, Mikhail (1992). Estética da criação verbal. SP: Martins Fontes.
BORGES, Mônica Veloso (2002). Relatórios de Pesquisa do Projeto Avá-Canoeiro. ms.
BRAGGIO, Silvia L.B. (1986). The sociolinguistics of literacy: a case study of the Kaingang, a Brazilian Indian tribe. Tese de doutorado. Albuquerque, NM: University of New Mexico.
BRAGGIO, Silvia L.B. (1989). Alfabetização como um processo social complexo: análise de como ela ocorre entre os Kaingang de Guarapuava, Paraná. Trabalhos em Lingüística Aplicada 14: 155-170. Campinas, SP: UNICAMP.
BRAGGIO, Silvia L.B. (1992). Situação sociolingüística dos povos indígenas do estado de Goiás e Tocantins. Revista do Museu Antropológico 1(1): 1-62. Goiânia, GO: UFG.
BRAGGIO, Silvia L.B. (1995). The sociolinguistic situation of native peoples of Central Brazil: from trilingualism to language loss. Inter-ação 1(1): 123-145. Goiânia, GO: UFG.
BRAGGIO, Silvia L.B. (1997). Aquisição e uso de duas línguas: variedades, mudança de código e empréstimo. Boletim da Abralin 20: 139-172. Maceió: AL: UFAL.
BRAGGIO, Silvia L.B. (2000a). Contato entre línguas: subsídios para a educação escolar indígena. Revista do Museu Antropológico 2(1): 121-134. Goiânia, GO: UFG.
BRAGGIO, Silvia L.B. (2000b). Projeto Avá-Canoeiro Proposta de Educação: vitalização de língua e cultura Goiânia, GO: UFG. ms.
BRAGGIO, Silvia L.B. (2000c). A instauração da escrita entre os Xerente: conflitos e resistências. Revista do Museu Antropológico 2(2): 19-52. GO: UFG.
BRAGGIO, Silvia L.B. (2001). Línguas Indígenas Brasileiras Ameaçadas de Extinção. Manuscrito resultante do Projeto Línguas em Contato: línguas indígenas brasileiras em contato com o português, elaborado como parte do Programa de Pós-Doutorado, realizado no Departamento de Lingüística da University of New México, financiado pela CAPES, processo no.1198/00-9.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto (1978). A sociologia do Brasil indígena. Brasília: UnB.
COELHO DOS SANTOS, Sílvio (1995). Os direitos indígenas no Brasil. In A. Lopes da Silva & Luiz D.B. Grupioni, Luiz (eds.). A temática indígena na escola, p. 87-105. Brasília: MEC/MARI/UNESCO.
CRYSTAL, David. (2000). Language death. Cambridge: Cambridge University Press.
CUARÓN, Beatriz G. (org.) (2000). Políticas lingüísticas en México. México: La Jornada Ediciones.
CUARÓN, Beatriz G. & LASTRA, Yolanda (1991). Endangered languages in Mexico. In R. H. Robins & E. M. Uhlenbeck (eds.). Endangered languages, p. 93-134.
DORIAN, Nancy (ed.) (1989). Investigating obsolescence. Studies in language contraction and death. Cambridge: Cambridge University Press.
EDWARDS, John. (1992). Sociopolitical aspects of language maintenance and loss: towards a typology of minority language situations. In Willem Fase; K. Jaspaert, and S. Kroon (eds.). Maintenance and loss of minority languages, p. 37-54. Amsterdam: Benjamins, p. 37-54.
FISHMAN, Joshua. (1991). Reversing language shifting. Clevedon: Multilingual Matters.
FISHMAN, Joshua. (ed.) (2001). Can threatened languages be saved? Clevedon Multilingual Matters.
GRENOBLE, Lenore A. & WHALEY, Lindsay J. (eds.). (1998a). Endangered languages. Cambridge: Cambridge University Press.
GRENOBLE, Lenore A. (1998b). Toward a typology of language endangerment. In GRENOBLE, Lenore A. Endangered languages, p. 22-54. Cambridge: Cambridge University Press.
GROSJEAN, François. (1983). Life with two languages. Cambridge: Harvard University Press.
HALE, Ken. (1992a). On endangered languages and the safeguarding of diversity. Language.68: 1-3.
HALE, Ken. (1992b). Language endangerment and the human value of linguistic diversity. Language. 68: 35-42.
HALE, Ken. On endangered languages and the importance of linguistic diversity. In L.A. Grenoble & L.J. Whaley (eds.). Endangered languages, p. 192-216.
HAMEL, Rainer H. (1988). La política del lenguaje y el conflicto interétnico. Problemas de investigación sociolingüística. In E. P. Orlandi (org.). Política lingüística na América Latina, p. 41-74. Campinas, SP: Pontes.
HARE, Cecilia. (1999). Por un nuevo estado, pluricultural y plurilingüe. In A. Herzfeld & Y. Lastra (eds.) Las causas sociales de la desaparición y de mantenimiento de las lenguas en las naciones de América, p. 295-303.
HERZFELD, Anita & LASTRA, Yolanda (eds.) (1999). Las causas sociales de la desaparición y de mantenimiento de las lenguas en las naciones de América. Sonora, MX: Universidad de Sonora.
HINTON, Leanne (2001). Language revitalization: an overview. In L. Hinton & K. Hale (eds.). The green book of language revitalization, p. 3-18. New York: Academic Press.
HINTON, Leanne e HALE, Ken (eds.) (2001). The green book of language revitalization in practice. New York: Academic Press.
HYMES, Dell H. (1974). The ethnography of speaking. In Ben G. Blount (ed.) Language, Culture and Society, p. 335-369. Cambridge: Wintthrop Publisherss, Inc.
KINCADE, Dale (1991). The decline of native languages in Canada. In R.H. Robins & E.M. Uhlenbeck (eds.) Endangered languages, p. 157-176.
KRAUSS, Michael. (1992). The world’s languages in crisis. Language 68: 4-10.
KRAUSS, Michael. (1996). Status of Native American language endangerment. In G. Cantoni (ed.) Stabilizing Indigenous Languages. Flagstaf: Center for Excellence in Education, Northern Arizona University, 5 p. http://www.ncbe.gwu.edu
MATSUMARA, Kazuto (ed.) (1998). Studies in endangered languages. Tokyo: Hituzi Syobo.
MÜLLER DE OLIVEIRA, Gilvan. (2001). A língua entre os dentes. Entrevista ao Caderno Temático-Jornal da Unicamp. Ano XV. N.165, p. 4-5.
MCLAUGHLIN, Barry (1978). Second-language acquisition in childhood. Lawrence Erlbaum Associates.
NETTLE, Daniel & Suzanne Romaine (2000). Vanishing Voices. The extinction of the world’s languages. Oxford: Oxford University Press.
ORLANDI, Eni P. (org.) (1988). Política lingüística na América Latina. Campinas, SP: Pontes.
PEDROSO, Dulce (1994). O Povo Invisível. FURNAS/UCG.
REYHNER, Jon (1996). Rationale and needs for stabilizing indigenous languages. In Gina Cantoni (ed.) Stabilizing Indigenous Languages. Arizona: Northern Arizona University.
RICARDO, Carlos A. (org.) (2001). Índios no Brasil. 1996/2000. São Paulo: ISA.
ROBINS, Robert H. & UHLENBECK, Eugenius M. (eds.) (1991). Endangered languages. Oxford: Berg.
RODRIGUES, Aryon D. (1986). Línguas Brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola.
RODRIGUES, Aryon D. (1993a). Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. DELTA 9: 83-103.
RODRIGUES, Aryon D. (1993b). Endangered languages in Brazil. Artigo apresentado no Symposium on Endangered Languages of South America. Rijkis Universiteit Leiden: Holanda.
RODRIGUES, Aryon D. (2000). As línguas gerais sul-americanas. LALI. Brasília: UnB.
ROCHA, Leandro M. (1998). Índios do Brasil Central. CEGRAF/UFG.
ROMAINE, Suzanne (1995). Language in Society. Oxford: Oxford University Press.
SEKI, Lucy (1984). Problemas do estudo de uma língua em extinção. Boletim da Abralin 6: 109-118.
SILVA, Aracy Lopes da & GRUPIONI, Luiz D.B. (orgs.) (1995). A temática indígena na escola. Brasília: MEC/UNESCO/MARI.
TORAL, André. (1986). Relatório para a FUNAI. FUNAI, mimeo.
TOSTA, Lena T.D. (1997). “Homi Matou Papai Meu”: uma situação histórica dos Avá-Canoeiro. Brasília: UnB. ms.
WURM, Stephen (1991). Language death and disappearance: causes and circumstances. In R. H. Robins & E. M. Uhlenbeck (eds.) Endangered languages, p.1-18.
WURM, Stephen (1998). Methods of language maintenance and revival, with selected cases of language endangerment in the world. In K. Matsumara (ed.) Studies in endangered languages, p. 191-211.
WURM, Stephen (2000). Lenguas y culturas en contacto en el mundo de hoy: panorama general. In B. G. Cuarón (org.) Políticas lingüísticas en México, p. 19-38.
A LIAMES: Línguas Indígenas Americanas utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.
Os artigos e demais trabalhos publicados na LIAMES: Línguas Indígenas Americanas, publicação de acesso aberto, passa a seguir os princípios da licença do Creative Commons. Uma nova publicação do mesmo texto, de iniciativa de seu autor ou de terceiros, fica sujeita à expressa menção da precedência de sua publicação neste periódico, citando-se a edição e a data desta publicação.