Resumo
Este trabalho tem por objetivo investigar o mecanismo de Incorporação Nominal na língua Tenetehára e sua relação com as classes aspectuais propostas por Vendler (1967). Nessa língua, o mecanismo de Incorporação Nominal se realiza por meio de dois diferentes contextos morfossintáticos: (i) incorporação total do objeto ao vo e (ii) incorporação do núcleo do sintagma genitivo ao vo. Na incorporação total, quando o objeto direto se incorpora ao predicado verbal, é gerado um predicado que se comporta como um verbo intransitivo. Todavia, nas construções de alçamento do possuidor, apenas parte do sintagma genitivo, a saber seu núcleo, pode se incorporar ao núcleo do vP. O resultado desse processo não altera a estrutura transitiva inicial. Assim, nas construções de alçamento do possuidor não ocorre diminuição de valência, apesar de haver Incorporação Nominal. Ademais, em relação ao plano semântico das construções de alçamento de objeto, o que tenho observado é que os falantes dessa língua costumam apontar duas interpretações distintas, uma para a versão sem Incorporação Nominal outra para a versão com Incorporação Nominal. Assim, no presente artigo, pretendo responder qual organização constante se pode depreender do paradigma de interpretação apresentado. A hipótese que defenderei é que as nuances de sentido entre estes dados têm a ver com a noção de aspecto verbal e as definições de accomplishment e achievement delineadas por Vendler (1967). Neste sentido, minha hipótese é de que as construções sem Incorporação Nominal podem se conformar à classe semântica de predicados verbais de accomplishment, ao passo que as versões com Incorporação Nominal em contextos de alçamento de objeto abrangem obrigatoriamente os predicados de achievement.
Referências
Baker, Mark (1988). Incorporation. Chicago: University of Chicago Press.
Baker, Mark (1995). Lexical and nonlexical noun incorporation. In Urs Egli, Peter Pause, Christoph Schwarze, Arnim von Stechow and Götz Wienold (eds.), Lexical knowledge in the organization of language, pp. 3-34. Amsterdam: John Benjamins.
Baker, Mark (1996). The polysynthesis parameter. Oxford: Oxford University Press.
Baker, Mark (2009). Is head movement still needed for noun incorporation? The case of Mapudungun. Lingua 119: 148-165.
Baker, Mark; Aranovich, Roberto; Golluscio, Lucia (2005). Two types of syntactic noun incorporation: noun incorporation in Mapudungun and its typological implications. Language 81: 138-176.
Boudin, Max Henri (1978). Dicionário de Tupi moderno: Dialeto tembé-ténêtéhar do alto rio Gurupi. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas.
Camargos, Quesler Fagundes (2013). Estruturas causativas em Tenetehára: Uma abordagem minimalista (Dissertação de mestrado em linguística. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais.
Camargos, Quesler Fagundes (2017). Aplicativização, causativização e nominalização: Uma análise unificada de estruturas argumentais em Tenetehára-Guajajára (Família Tupí-Guaraní) (Tese doutorado em linguística). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais.
Camargos, Quesler Fagundes; Castro, Ricardo Campos; Guajajára; Taywan Morais Clemente (2019). Os Tenetehára e a festa da menina-moça: os trajes tradicionais e seus significados. Revista Verbo de Minas 20(36): 46-60.
Disponível em: https://seer.cesjf.br/index.php/verboDeMinas/article/view/2176/1462
Cançado, Márcia; Amaral, Luana (2016). Introdução à semântica lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
Castro, Ricardo Campos (2007). Interface morfologia e sintaxe em Tenetehára (Dissertação de mestrado em linguística): Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais.
Castro, Ricardo Campos (2013). O epifenômeno da alternância de valência em Tenetehára (Tupí-Guaraní). Revista da ANPOLL 1: 347-391. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/674
https://doi.org/10.18309/anp.vli34.674
Castro, Ricardo Campos Castro (2017). Morfossintaxe Tenetehára (Tupí-Guaraní) (Tese de doutorado em linguística). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais.
Chomsky, Noam (1981). Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris.
Dietrich, Wolf (2010). Tipología morfosintáctica y clasificación de las lenguas tupí-guaraníes. In Marisa Censabella; Raúl González (eds.), Libro de Actas II Encuentro de Lenguas Indígenas Americanas y II Simposio Internacional de Lingüística Amerindia Asociación de Lingüística y Filología de América Latina (ALFAL) 17-19 de septiembre de 2009. Resistencia, Chaco. Buenos Aires: CONICET.
Dourado, Luciana Gonçalves (2001). Aspectos morfossintáticos da língua panará (Jê) (Tese de doutorado em linguística). Campinas, SP: Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269111
Dowty, David (1979). Word meaning and Montague grammar. Reidel, Dordrecht.
Duarte, Fábio Bonfim (1997). Análise gramatical das orações da Língua Tembé (Dissertação mestre em linguística). Brasília, DF: Instituto de Letras, Universidade de Brasília.
Duarte, Fábio Bonfim (2003) Ordem dos constituintes e movimento em Tembé: minimalismo e anti-simetria (Tese doutor em linguística): Belo Horizonte: Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais.
Duarte, Fábio Bonfim (2007). Estudos de morfossintaxe Tenetehára. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.
Duarte, Fábio Bonfim; Castro, Ricardo Campos (2010). Inergatividade, estrutura causativa e incorporação nominal em Tenetehára. In Ana Suelly Arruda Câmara Cabral; Aryon Dall’Igna Rodrigues; Fábio Bonfim Duarte (orgs.), Línguas e Culturas Tupí, pp. 43-62. Campinas: Curt Nimuendajú.
Gomes, Dioney Moreira (2008). Incorporação nominal em Mundurukú (Tupí). Ameríndia 1 (31) : 19-59. Disponível em:
Lemos Barbosa, Antônio (1956). Curso de Tupi Antigo: Gramática, exercícios, textos. Rio de Janeiro: Livraria São José.
Mithun, Marianne (1984). The evolution of noun incorporation. Language 60(4): 847-894.
Navarro, Eduardo de Almeida (2005). Método moderno de Tupi Antigo: A língua do Brasil dos primeiros séculos. São Paulo: Editora Global.
Postal, Paul (1962). Some syntactic rules of Mohawk (Tese de doutorado em linguística). Yale University, New Haven, Connecticut. Published by Garland Press, New York.
Praça, Walkíria Neiva (2007). Morfossintaxe da língua Tapirapé (Família Tupi-Guarani) (Tese de doutorado em linguística). Brasília, DF: Universidade de Brasília.
Rodrigues, Aryon Dall’Igna (1984-1985). Relações internas na família linguística Tupí-Guaraní. Revista de Antropologia 27/28: 33-53.
Rodrigues, Aryon Dall’Igna; Cabral, Ana Suelly Arruda Câmara (2002). Revendo a classificação da família Tupí-Guaraní. Línguas indígenas brasileiras: Fonologia, gramática e história. Atas do I Encontro Internacional do Grupo de Trabalho sobre Línguas Indígenas da ANPOLL, T.1: 327-337.Belém: Editora EDUFPA.
Salas, Adalberto (1992). El mapuche o araucano. Madrid: Editorial MAPFRE.
Smith, Carolota (1997). The parameter of aspect (2nd ed.). Dordrecht: Kluwer Academic Publishers.
Solano, Eliete de Jesus Bararuá (2009). Descrição gramatical da língua Araweté (Tese de doutorado em linguística). Brasília, DF: Universidade de Brasília.
Spencer, Andrew (1995). Incorporation in Chukchi. Language 71(3) 439-489.
Vendler, Zeno (1967). Linguistics in phylosophy. Ithaca/London: Cornell University Press.
Verkuyl, Henk (1989). Aspectual classes and aspectual composition. Linguistics and Philosophy 12: 39-43.
Vieira, Márcia Maria Damaso (2010). Os núcleos aplicativos e as línguas indígenas brasileiras. Revista de Estudos da Linguagem 18(1): 141-164.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2020 Ricardo Campos Castro